O segundo episódio das Cordas Soltas, uma conversa sobre guitarra guiada pelo guitarrista André Santos, tem como convidado o guitarrista e compositor Pedro Cardoso, mais conhecido por Peixe.
Peixe, natural do Porto, estudou guitarra clássica no Conservatório de Música do Porto, guitarra jazz na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE) e pintura na Faculdade de Belas Artes do Porto (FBAUP). Foi guitarrista da banda Ornatos Violeta, participando nos discos Cão! (1997) e O Monstro Precisa de Amigos (1999). Em 2002, após a separação dos Ornatos, formou a banda de rock Pluto e a banda de jazz DEP, editando em 2004 os álbuns Bom Dia e esquece tudo o que aprendeste. 2010 foi o ano da edição de Joyce Alive com o grupo Zelig e, mais tarde, em 2012, de Apneia, o seu primeiro álbum a solo. Em 2015, edita o seu segundo disco a solo, Motor. Durante o seu percurso musical, colaborou com vários músicos e agrupamentos, tais como: Dead Combo, Drumming, Remix Ensemble, Carlos Bica, Maria João, Joana Sá, Adrien Utley, John Ventimiglia, Perico Sambeat e David Fonseca, entre outros.
Foi também o criador da OGBE (Orquestra de Guitarras e Baixos Elétricos), projeto que dirige e que conta com o apoio do serviço educativo da Casa da Música, com quem colabora regularmente quer como formador, quer como músico. Ao lado do Teatro Bruto e da encenadora Ana Luena, colaborou na criação do concerto encenado “Still Frank” e assinou a banda sonora da peça “Estocolmo” de Daniel Jonas e também de “Comida”, “O filho de mil homens” e “O amor dos infelizes” de Valter Hugo Mãe.
Para cinema criou com o grupo Zelig a banda sonora de O universo de Mya de Miguel Clara Vasconcelos e o filme-concerto Bucking Broadway, de John Ford, encomenda do festival de curtas metragens de Vila do Conde.
O início da conversa começou com a deixa lançada desde o primeiro episódio: a partilha da primeira vez em que Peixe pegou numa guitarra. É assim que ficamos a saber que o seu avô era carpinteiro e construía instrumentos tradicionais e, embora tenha pegado numa guitarra em novinho, só com 13/14 anos é que conseguiu “tirar som” do instrumento. No entanto, o seu percurso artístico iniciou-se por outro domínio. Desde pequeno que gosta de desenhar e, por isso, foi estudar para a Soares dos Reis, onde também estudaram os colegas com quem viria a ter uma banda – os Ornatos Violeta. Assim, os membros da banda partilhavam a ligação às artes plásticas e, na música, o autodidatismo.
Embora Peixe tenha estudado música formalmente, começou como autodidata. Explica que o “ir à escola” surgiu em paralelo, como um recurso, não esquecendo o cariz de autodidata e atendando sempre nos “perigos do academismo”. E é com esse embalo que abordam os primórdios dos Ornatos Violeta, das suas influências e formas de compor.
Revendo o seu álbum esquece tudo o que aprendeste, o guitarrista afirma ser “um fã da intuição” e que aprender é importante, mas na hora de tocar há que esquecer o que se aprendeu e simplesmente tocar seguindo a intuição, mensagem que quis passar na escolha deste título.
Falam ainda dos tempos de DEP, com as memórias de dias de descoberta e entusiasmo nos ensaios na sala da ESMAE, e da criação da OGBE, em que explorou a “direção improvisada”, ilustrando alguns dos gestos que tinha para simbolizar técnicas ou notas a tocar na comunicação com os músicos da orquestra, o que muito desperta o interesse de André Santos.
Falam também de técnica tentando defini-la. De seguida, Peixe mostra alguns exercícios que se lembra de fazer para trabalhar questões técnicas, desvendando um pouco do que está por detrás do som que cada músico alcança aos olhos do público. “O som está nos dedos, é o que digo sempre aos meus alunos. O som dos músicos está nos dedos, acho eu”, defende.
Olhando para os seus discos a solo, falam do processo de composição de Peixe. Cada vez mais, o guitarrista valoriza os “elementos simples”, deixando as notas respirar e aponta ainda que “a personalidade conta muito quando se faz música em conjunto”. Por fim, Peixe toca uma música para se despedir da conversa que já pode ser vista por todos. E antes de se desligar a câmara houve ainda espaço para se lançar o desafio de trazer a orquestra para os guitarristas de Lisboa. Ficaremos atentos aos frutos que desta conversa poderão surgir.
Podes ver o vídeo da conversa, aqui:
André Santos é um guitarrista madeirense de amplos interesses. Foi no conservatório de Amesterdão que fez o mestrado em jazz, tendo desenvolvido uma tese sobre cordofones madeirenses, grupo no qual se inserem instrumentos como o rajão, a braguinha e a viola de arame. Foi essa investigação que muito inspirou o cunho com que contribuiria para Mano a Mano, o projeto a duo que tem com o seu irmão, também guitarrista, Bruno Santos, que já conta com três volumes editados. Tem ainda um trio com Carlos Bica e dirige um projeto de música tradicional madeirense reinventada, Mutrama, para o qual convidou Salvador Sobral, Maria João e Ricardo Ribeiro. Tem dois discos em nome próprio e participa noutros tantos, como são exemplo, os de Salvador Sobral e Pedro Moutinho. Mais recentemente, integrou o novo quinteto de Salvador Sobral. Agora, avança com o conceito e criação deste ciclo de conversas sobre guitarra, Cordas Soltas, sobre o qual podes saber mais, aqui.
Às 18h de dia 8 de julho poderás ver/ouvir a terceira conversa entre o André Santos e André Matos. O Gerador é parceiro deste ciclo de conversas, pelo que vamos partilhar contigo cada uma delas no nosso site, através da página de Facebook do guitarrista madeirense. Fica atento!