Esta é a primeira obra a sair do Laboratório de Ópera Portuguesa, com coordenação artística e musicológica de Jenny Silvestre. O espetáculo Cortes de Júpiter, encenado por Ricardo Neves-Neves, estreia a 5 e 6 de fevereiro, às 19h, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB).
As Cortes de Júpiter, a propósito dos seus 500 anos, são a primeira obra a sair do Laboratório de Ópera Portuguesa do Centro Cultural de Belém, criado em parceria com o CESEM - Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e o APARM-Academia Portuguesa de Artes Musicais. "Na sua génese encontram-se dois objetivos muito concretos: o de aproximar o grande público de uma herança histórica comum e o de proporcionar, às jovens camadas de cantores profissionais, a possibilidade de aprofundar as suas aptidões dramatúrgicas (ainda deficitárias nos programas das Escolas Superiores de Música)" , partilha Jenny Silvestre, coordenadora do projeto, com o Gerador.
Em cima da mesa está também o compromisso de trazer à luz do dia dramas em música, escritos em Portugal, no decurso da história. "Temos muitos investigadores que, ao longo do tempo, têm retirado da poeira dos arquivos muitas obras que, depois, ficam, na sua grande maioria, no papel, sem nunca chegarem a ser executadas, mantendo-se, desta forma, longe de todos nós", afirma.
Sobre a escolha das Cortes de Júiter, a coordenadora refere: "A comicidade do enredo pareceu-me ser a ideal para desafiar a dupla Ricardo Neves-Neves /Filipe Raposo para uma adaptação moderna da obra que, sem perder a pureza historicamente informada dos momentos musicais da época, nos garantisse uma versão desempoeirada e atual, divertida e bem apelativa para todas as faixas etárias."
Esta obra vicentina – a última a ser apresentada ainda em vida de D. Manuel I, que faleceria no mesmo ano – é uma tragicomédia idealizada para o casamento e partida da Infanta D. Beatriz para Sabóia, à razão do seu casamento com o duque daquela cidade. Na peça, a Providência, incumbida por Deus, ordena a Júpiter, rei dos elementos, que faça concertar bons planetas e signos para a viagem ao longo do Atlântico, pelo estreito de Gibraltar e Mediterrâneo, até Sabóia.
"Com Cortes de Júpiter pretende-se mostrar que o género do drama em música é muito mais antigo do que muitas vezes se pensa, sendo Gil Vicente uma pedra fundamental no seu processo de criação", diz Jenny Silvestre.
Para este projeto, o CCB desafiou o encenador Ricardo Neves a adaptar a tragicomédia, e chamou para o compositor e pianista de jazz Filipe Raposo, que deu uma estrutura de ópera à peça e à música de Gil Vicente. Com a participação do ensemble La Nave Va e direção musical de António Carrilho, o espetáculo conta ainda com o Alma Ensemble, com coordenação vocal de Filipa Palhares.
"Além de termos iniciado um trabalho dramatúrgico diferente com um pequeno grupo de cantores profissionais da nova geração, trabalhamos também com jovens estagiários das áreas da produção e encenação. O ambiente tem sido muito reconfortante e estimulante para todos, os mais velhos e os mais novos. A Ópera não tem de ser aborrecida ou difícil de entender", termina a coordenadora do projeto.
O espetáculo estreia nos dias 5 e 6 de fevereiro, às 19h, no CCB (Lisboa), sendo apresentado depois no Cineteatro Louletano (Loulé), nos dias 28 e 29 de outubro.
No dia 4 de fevereiro, o CCB promove ainda o colóquio internacional com “Cortes de Júpiter, de Gil Vicente”, às 17h.