A um passo de terminar a sua residência no Teatro do Bairro Alto (TBA), Curadura coabita e fermenta o imaginário refletindo transversalmente o teatro enquanto espaço público de responsabilidade social. Ligadas às suas reflexões e pensamentos abraçaram uma série de Assembleias Polémicas-Poéticas e práticas da residência abertas ao público. Terminam a sua passagem pelo TBA dia 30 de maio, no entanto, a sua caminhada não ficará por aqui.
Foi a partir das artes performativas e da sua duração que o coletivo PARASITA - uma cooperativa de artistas que partilham recursos e objetivos num ambiente em que a dança se torna cada vez mais um suporte fluído, cruzado por estudos práticos e teóricos, práticas expandidas, discussões sobre fronteiras entre fazer e curar, problematizações da responsabilidade cultural dos artistas e agentes conexos - juntamente com artistas convidados, se propôs a pensar o que resulta do espaço teatral e das suas materialidades, "do corpo desde a vida bacteriana e suas fermentações, de palavras e slogans como redomas onde se alimentam artificialmente “géneros” e “naturezas” ou, simplesmente, cultivando a atenção sobre as plantas", explicam em sinopse.
Em círculo as ideias nascem. Algumas cruzam-se, outras quase se tocam. É a partir de um processo criativo que traz à tona a liberdade, o conceito, a desmistificação do "vegetal" e do que o ultrapassa através do ser que os artistas pensam o coletivo a partir do individual.
Refletindo sobre "os que importam mais e os que importam menos", é através do seu contacto físico e da sua fruição subjetiva que o espaço de partilha acontece. As temporalidades que se multiplicam, partindo de um experiencialismo e problematização, quer de fronteiras do teatro quer dos processos sociais, levam à descoberta da contaminação em momentos de degradação processual representada pela mortalidade das flores que, a cada semana, desenvolviam parte do processo de fermentação, ainda que em decadência sequencial.
Cultivando a atenção sobre as plantas, Curadura questiona o teatro como um lugar "descentralizado da visão" assim como os seus modelos de coletividade no qual as relações com o institucional e o concetual se diluem. É momento de questionar a viagem, do seu desmembrar ao longo das três semanas de residência. Sobre (meta)morfoses as relações se estruturam e trazem a foco a necessidade de pensa e questionar as políticas determinantes, assim como o seu estado (seja ele qual for), explicam.
As Assembleias Polémicas-Poéticas, integrantes no projeto, são encontros públicos semanais que funcionam como “concentrados de energia”, onde um grupo de artistas residentes e convidados pontuais orbitam em torno de perguntas que se determinam como ponto de partida e que precisam de "muitas pessoas humanas e extra-humanas para pensar". Hoje e amanhã, dia 30 de maio, as assembleias contam com a presença de Carmo Gê Pereira & Quimera Rosa.
Assinalando assim o seu fecho, o coletivo Quimera Rosa, um laboratório nómada criado em Barcelona em 2008 que investiga e experimenta o corpo, a tecnociência e as identidades e questiona as fronteiras entre humanidade e vegetalidade através do projeto Trans*Plant. Os artistas irão também explorar a “floresta urbana contemporânea de Lisboa, composta de ervas daninhas alimentadas a urina".
Contando com a participação de diferentes artistas e associações como Associação Parasita, Ana Rocha, Ana Rita Teodoro, Carlos Manuel Oliveira, Claraluz Keiser, João dos Santos Martins, Rita Natálio, Carmo Gê Pereira, Hugo Dunkel, Puta da Silva, Quimera Rosa e Rizoma, entre outros, a residência que acontece no TBA leva-nos a questionar, fazer e curar, problematizações, responsabilidades e sociedades.