O aumento da violência, ele existe e é visível, e até assustador. No entanto, as razões que levam a este aumento de violência são variadas e a direita não acertou em nenhuma, ou não quis acertar. Este texto não é um apelo à polarização, é um apelo ao pensamento crítico que só faz bem ao ser humano.
A violência, e entenda-se por violência todos os atos de agressão sejam eles físicos, verbais ou psicológicos contra outro ser humano, aumenta de acordo com a instabilidade política, económica e social da sociedade. Se existe inflação, significa que existem mais pessoas em situações precárias e com a corda ao pescoço, e portanto o desespero torna-se uma das componentes sistemáticas na vivência de diferentes seres humanos. E o desespero esse sim, pode ser exprimido através da violência.
No entanto o crime de violência doméstica continua a ser dos crimes mais cometidos em Portugal, maioritariamente por homens brancos cis. O que nos diz que temos uma epidemia machista, sexista e misógina a esventrar os nossos corpos. Portanto para além de termos de encontrar formas mais saudáveis de navegar esta inflação, também temos de encontrar formas de matar o machismo.
Depois vem a teoria de que são os imigrantes quem comete estes crimes violentos, mesmo não existindo qualquer tipo de dados estatísticos que nos diga que isso é verdade. É um argumento um pouco arcaico, dado que quando um branco comete um crime ninguém diz que ele o fez porque é branco ou português. A ideia de que uma pessoa indiana, ou do Bangladesh é mais violenta que os portugueses, é o puro significado de racismo, dado todas estas pessoas serem apenas e só humanos, nada mais nem nada menos que isso.
A instabilidade política, é também ela uma grande promotora da violência nas sociedades, porque reparem não existe nada pior que um povo sem esperança, e é exatamente isso que os nossos políticos fundamentam em nós, a falta de esperança, no sistema, nas pessoas, e nas estruturas. Aquele que não almeja por nada no seu futuro, sente que não tem rigorosamente nada a perder, e por isso, comporta-se como se estivesse na selva. Não é que passe a ser animal, mas passa a ser um ser humano, que se comporta de acordo com as regras do mundo animal, fica desenquadrado.
O medo é o motor destes comportamentos. Mata-se porque não se quer ser morto. Rouba-se porque não se quer ser roubado. Insulta-se porque não se quer ser insultado. O ser humano seja ele de que cor for, tenha ele a orientação sexual que tiver, o ser humano tem medo, e este medo aumenta dependendo das circunstâncias em que vive, e por fim no caso de alguns este medo comanda a vida.
A solução passa por criar um sentimento de segurança no qual a população confia. Cuidado, isso não significa "armar a população até aos dentes", isso significa dar ferramentas às pessoas para que possam viver aos invés de sobreviver, essas ferramentas, podem ser:; dinheiro, educação, acesso gratuito à saúde física e mental, acesso à habitação e segurança pública através de forças de segurança que sejam bem formadas para a sua prática profissional.
O oxigénio de uma sociedade, é o sentimento de segurança e confiança nas instituições, no estado e no governo. A insegurança sufoca os mais vulneráveis, mas alastra-se tão depressa que até aqueles que um dia, sentiriam o rei na barriga, começam a questionar se a insegurança não lhes irá bater à porta.
Sabemos quando nos sentimos seguros, mas nunca sabemos até que ponto estamos inseguros. É nesse espectro de insegurança que o medo vence.