Este momento de intervalo na cultura poderia ter sido ambiciosamente usado para estudarmos o sector. Entender de que forma conseguiríamos voltar às artes e às actividades culturais após a pandemia e explorar soluções para construir uma estratégia duradoura e saudável para o sector.
Mais de um ano após o fecho das portas da cultura continuamos sem ter uma clareza no rumo a seguir, sem saber muito bem quais serão os próximos passos. E desconfiamos, ainda, que nem sequer temos noção de onde estamos.
No Gerador temos este problema de tentar preencher as lacunas que vamos encontrando e, por isso, resolvemos ocupar boa parte deste tempo a desenvolver as nossas competências de conhecimento.
Com o nascer de 2021 veio a responsabilidade de fazermos parte de um consórcio internacional contratado pela Comissão Europeia para medir eficazmente os sectores culturais e criativos na Europa.
Durante os próximos 24 meses vamos, em conjunto com os nossos 4 parceiros, actualizar as estatísticas destes sectores e criar novos parâmetros, principalmente relacionados com a dimensão digital, num empreendimento que nos vai pôr em contacto com todos os ministérios da cultura e institutos nacionais de estatística europeus.
Por aqui, vamos arrancar esta semana com o trabalho de campo da terceira edição do Barómetro Gerador Qmetrics, o compromisso que, teimosamente, mantemos de ouvir os portugueses todos os anos.
O Barómetro é um estudo muito sólido, com cerca de 1.200 entrevistas representativas da população portuguesa, que nos permite avaliar a percepção da população portuguesa relativamente à cultura e às principais áreas da sociedade.
Se em 2020 introduzimos algumas diferenças em relação ao estudo do ano anterior, muito por culpa da pandemia, 2021 vai trazer novidades ainda mais significativas. Decidimos expandir o âmbito da nossa avaliação a novos tópicos, mais de acordo com a estratégia global de actuação do Gerador.
Em primeiro lugar, vamos aprofundar a avaliação que os portugueses fazem do jornalismo, percebendo de que forma as pessoas obtêm informação e qual a confiança que depositam nas diferentes fontes de acesso. A recolha destas opiniões vai permitir, também, a melhoria do nosso programa de Bolsas de Jornalismo para jovens.
O lançamento do projeto Sobressalto mandata-nos para escutarmos os portugueses sobre os desafios relacionados com a sustentabilidade e a luta contra as alterações climáticas. Vamos procurar saber como a população se posiciona em relação ao ambiente e tentar perceber qual a verdadeira importância deste tema.
Tencionamos explorar os desafios da juventude com maior detalhe. Saber que expetativas têm para o futuro, quais as principais dificuldades que antecipam e como julgam poder ultrapassá-las.
Por fim, vamos dedicar alguma atenção ao interior do país. A nossa decisão de sublinhar a relevância deste assunto já teve a consequência de pretendermos garantir que 50% dos conteúdos editoriais sejam dedicados ao interior e de criarmos o Festival Descobre o Teu Interior, que irá ser realizado a 9 e 10 de abril.
Queremos entender como os portugueses que vivem no interior se sentem relativamente às suas oportunidades na educação e no emprego, à vontade expressa de deixarem os seus locais de origem para se deslocarem para o litoral e que motivos podem estimular o crescimento da população no coração do país.
Em maio revelaremos os resultados publicamente. E deixamos aqui a promessa de, ao longo do ano, voltar a cada um destes temas, com análises mais detalhadas e, até, quem sabe, com novos estudos dedicados.
Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico
-Sobre Tiago Sigorelho-
Tiago Sigorelho é um inventor de ideias. Formado em comunicação empresarial, esteve muito ligado à gestão de marcas, tanto na Vodafone, onde começou a trabalhar aos 22 anos, como na PT, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca, com responsabilidades nas marcas nacionais e internacionais e nos estudos de mercado do grupo. Despediu-se em 2013 com vontade de fazer cultura para todos.
É fundador do Gerador e presidente da direção desde a sua criação. Nos últimos anos tem dedicado uma parte importante do seu tempo ao estreitamento das ligações entre cultura e educação, bem como ao desenvolvimento de sistemas de recolha de informação sistemática sobre cultura que permitam apoiar os artistas, agentes culturais e decisores políticos e empresariais.