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Fernando Dacosta: “Baixou-se o nível das coisas que fomenta a infantilização das pessoas”

Neste episódio da rubrica Entrevista Central, Fernando Dacosta, jornalista e escritor, reflete acerca da degradação do jornalismo português, que coloca em causa a independência e a autonomia dos profissionais do setor. “Os órgãos de comunicação social são hoje entidades “destinadas a proteger todo o tipo de manipulações, safadezas e corrupções”, acredita. O jornalismo, uma “atividade dedicada à defesa dos interesses do público”, tem sido apropriado pelos poderes político e económico como uma forma de manipular a opinião pública, segundo o autor: “na antiguidade matava-se o mensageiro quando a mensagem não agradava aos poderes. Hoje, tenta-se manipulá-lo, controlá-lo”.

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Para o jornalista, a censura “deixou de ser exercida por um organismo oficial para passar a ser exercida pelas administrações, pelas direções, pelos lobbies a que pertencem os órgãos de comunicação social”. Recorda ainda uma conversa com Mário Soares, antigo primeiro-ministro e Presidente da República, acerca do controlo exercido pelos partidos políticos sobre os profissionais do setor após a Revolução. “Por baixo da mesa começaram a comprar os jornalistas que se venderam. É natural que muitos se tenham vendido porque não é só a carne que é fraca; a carteira também é fraca. E então muitos jornalistas passaram a receber por baixo da mesa duas ou três vezes mais do que o ordenado que recebiam nos jornais”, afirma. 

Fernando Dacosta esboça o retrato dos jornais em que trabalhou, onde existia entreajuda entre repórteres especialistas na recolha de informação e redatores que dominavam a linguagem escrita: “Os jornais tinham uma equipa com grandes jornalistas, grandes escritores, grandes pensadores, mas normalmente esses grandes nomes não eram bons a recolher informação, então havia indivíduos excepcionais a sacar informação”. Acredita ainda na importância da diversidade nas redações, que também permite chegar a públicos diversos: “50% dos jornalistas eram formados em jornalismo nas universidades; 20% ou 30% eram formados em outras áreas, desde a medicina à arquitetura; e outros não eram formados em nenhuma área do conhecimento, precisamente para ter várias versões ou várias fontes de informação”.

Falando sobre o cenário político atual, o jornalista lança um olhar crítico sobre a ascensão do partido Chega e atribui parte do seu crescimento à falta de respostas do Partido Socialista a questões estruturais. Além disso, também acredita que isso motiva um voto emocional por parte dos eleitores que pretendem manifestar o seu descontentamento: “não utilizam muito a cabeça, utilizam mais as emoções”, referindo-se ao voto emocional em partidos radicais. Quando questionado sobre a responsabilidade dos jornalistas perante a atual polarização ideológica, responde citando Natália Correia: “tão censurante é impedir de dizer, como obrigar a dizer”. O imediatismo, os baixos salários e a “violência psicológica” condicionam também o dever de imparcialidade e a capacidade de escrutínio dos jornalistas, de acordo com o escritor: “a informação tem de ser escrutinada, têm de ser ouvidas as várias partes, tem de haver tempo. É preciso muito tempo para fazer uma notícia bem feita”.

Sobre as plataformas digitais admite que as redes sociais podem ser “muito vantajosas” quando colocam grupos marginalizados em lugares de fala: “[As redes sociais] estão a dar voz a setores da população que, de outra maneira, não tinham voz nenhuma. Isso é muito positivo. O que há a fazer depois é tentar controlar as coisas e criar condições para a dignificação do nosso trabalho”. Fernando Dacosta lamenta ainda a crescente sobrevalorização da imagem em detrimento da palavra escrita, que pode condicionar a forma como os indivíduos consomem informação: “Também há palavras que valem mil imagens. Por exemplo, a palavra saudade. Quantas imagens precisa? Como a imagem é mais sedutora, como é óbvio, e de uma maneira geral não implica grande pensamento nem grande esforço, ela tem outra adesão”. 

Esta ideia surgiu no seguimento do que o escritor considera ser um decréscimo da qualidade dos conteúdos culturais que empobrece a sociedade e a infantiliza, tornando-a mais suscetível à manipulação: “Baixou-se o nível das coisas que fomenta essa infantilização das pessoas. Veja-se, por exemplo, as programações de sinal aberto das televisões. São verdadeiramente infantilizantes para as pessoas não pensarem, para só estarem distraídas”, argumenta. E remata, apontando o dedo aos partidos políticos que, nos debates eleitorais, “não debatem, de facto, os temas”: “Até os próprios partidos políticos, até os próprios debates são infantilizantes. [Debatem] coisas acessórias, tricas, coisas personalizadas”.

Veja ou ouça a entrevista na íntegra aqui.

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