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Há estátuas de Lisboa a mover-se pelo imaginário de Isabel Brison

A posição estática e imutável das estátuas faz delas objetos algo enigmáticos. Mesmo reconhecendo o…

Texto de Sofia Craveiro

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A posição estática e imutável das estátuas faz delas objetos algo enigmáticos. Mesmo reconhecendo o seu contexto intrínseco, estes pedaços antropomórficos de História podem revelar outros mistérios que não os observados no seu contorno.

“Quando nós olhamos para uma estátua, muitas vezes olhamos através dela, para o que ela representa ou para a personalidade retratada, mas a estátua enquanto objeto, a forma como ela ajuda a definir o espaço à sua volta, as escolhas que foram feitas na sua construção e na sua colocação também são aspetos importantes para entendermos melhor estas obras.”

A frase é da artista Isabel Brison e pretende explicar o mote por detrás de “Ditas e Desditas da Estatuária Lisbonense”. Esta série online de seis episódios mistura acontecimentos históricos com narrativas ficcionais, mostrando uma abordagem alternativa dos factos inerentes às estátuas da Capital. A obra visual pretende questionar estes objetos enquanto ocupantes do espaço público e distribui-se sob a forma de páginas web onde cabe texto, imagem e humor. O resultado final cumpre, por isso, objetivos lúdicos mas também informativos.

Em ditasedesditas.teatrodobairroalto.pt é possível visualizar imagens de estátuas que são mais ou menos manipuladas de forma a “imaginar outras possibilidades de distribuição dos monumentos no espaço”. Isabel Brison diz também que, por vezes as figuras “entram numa inversão em que tento contar a história do ponto de vista das próprias estátuas”. “É difícil resistir a animar estes objetos porque eles são antropomórficos por natureza, são parecidos connosco”, justifica a artista.

A série - que já tem dois episódios disponíveis online - nasceu de um desafio lançado por Ana Bigotte Vieira, programadora do Teatro do Bairro Alto, instituição que endereça o site do projeto. As polémicas em torno dos monumentos históricos que despontaram em 2020 estiveram entre as razões que motivaram a série. “A mim interessava-me colocar isso em perspetiva. A estatuária em Portugal na realidade até me parece bastante pobre e bastante recente e interessava-me que se olhasse para as estátuas em si. [Queria que] com a Isabel, se problematizasse uma série de questões que muitas vezes estavam até a ser polarizadas em torno de bom e mau, esquerda, direita... mas é muito mais complexo que isso”, diz Ana Bigotte Vieira. “Cada estátua é erguida em determinado momento, estando relacionada com determinada situação política. Pode ser removida, pode ser recolocada”, acrescenta.

A seleção das estátuas a incluir foi, segundo Isabel Brison, decorrente de investigações prévias, sendo por isso bastante pessoal e longínqua. “É difícil explicar uma escolha assim a posteriori principalmente porque este foi um trabalho que começou a ser desenvolvido há anos atrás, há mais de uma década”, diz a artista.

As opções tomadas foram, por isso, naturais e muito prévias aos movimentos que se afirmaram contra e a favor do derrube de monumentos nacionais. Apesar disso Isabel Brison admite que a sua nova obra possa ser um bom meio para as colmatar. “Nós devemos falar sobre isto mas a discussão tem de ser uma discussão informada e, nesse sentido, eu espero que este trabalho possa ajudar nalguma coisa”, diz a artista e programadora informática.

Os dois primeiros episódios, que já foram divulgados, incidem sobre “A Praça do Império” e “A Estatuária Retirada em 1974”. Os próximos capítulos sairão em junho e outubro, sempre aos pares. Na próxima leva Isabel Brison irá abordar as estátuas de escritores, como Eça de Queirós, Camões e Fernando Pessoa, e estátuas de figuras femininas “geralmente anónimas, que se encontram pela cidade”.  

Os últimos dois episódios, com lançamento previsto para outubro, estarão focados em esculturas abstratas, mais especificamente “em monumentos que foram construídos nos anos 80 por uma equipa de operários da fábrica”. Esta escolha, diz Isabel Brison, prende-se com o facto de estes monumentos não terem sido construídos por artistas, mas antes “por um grupo de operários, num contexto pós revolucionário muito específico e que é muito interessante”.

Além da obra visual, a série irá também ter outros recursos, como referências e bibliografia, para que os interessados possam aprofundar o conhecimento sobre o assunto em análise. O resultado final será, por isso, multifacetado e relevante para a atual discussão, de acordo com Ana Bigotte Vieira. ”É um trabalho artesanal, tanto do ponto de vista informático, como narrativo, como do ponto de vista visual e, nesse trabalho, acho que a Isabel é absolutamente ímpar”, afirma a programadora.

Texto por Sofia Craveiro
Fotomontagens da autoria de Isabel Brison / fotografia da artista cedida

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