“O carácter preventivo da polícia política [PIDE] existe em todas as ditaduras” e é eficaz pois a longo prazo faz com que os cidadãos caiam em apatia. Esse é, para Irene Flunser Pimentel, um dos elementos-chave dos poderes autoritários.
Partindo da História de Portugal no século XX e de como a ditadura Salazarista subsistiu durante 48 anos, a historiadora falou sobre a pressão que as estruturas autoritárias exercem sobre os cidadãos e dos perigos inerentes a esta influência que está novamente a fazer-se sentir.
Para a investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade NOVA de Lisboa, o apelo do combate à corrupção - tema que é capitalizado pela extrema-direita-, é também um sinal do descrédito da população nas instituições democráticas. “É uma consequência, um sinal e ao mesmo tempo uma causa, ainda. E aí, se calhar, nós historiadores não fomos suficientemente acutilantes ao explorar a corrupção que existia, por exemplo, no Estado Novo”
Numa conversa onde abordou, também, questões como a crise das democracias liberais, ou o passado e o presente da União Europeia, a historiadora afirma que a atual ascensão da extrema-direita não pode ser comparada com aquela que se verificou na Europa no século XX, até porque atualmente ela não é baseada numa ideologia sólida “completamente elaborada e que dá resposta a tudo”. Hoje, deparamo-nos com as consequências do que diz ser o "fim das ideologias”, que conduziu a uma tendência para o identitarismo, que afeta tanto a direita como a esquerda do espetro político. “Isso é o que provoca divisões entre as pessoas”, afirma.
Assumindo preocupações quanto aos resultados das próximas eleições europeias, Irene Flunser Pimentel alerta também para a influência americana no futuro das relações internacionais. Se Donald Trump vencer as eleições nos Estados Unidos da América, haverá um maior isolacionismo deste país, um agravamento da “luta contra a UE”, de acordo com a historiadora. “Ficará muito mais longe a UE social, a UE política. O que se calhar vai prevalecer é a União de defesa europeia, porque provavelmente também vamos ter guerras”, além que já estão a decorrer.
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Historiadora e investigadora do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Irene Flunser Pimentel escreveu obras sobre o Estado Novo, em particular sobre a PIDE, o Holocausto e sobre o contexto das mulheres na ditadura portuguesa.
É doutorada em História Institucional e Política Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, mestre em História Contemporânea (século XX) e licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
Em 2007 recebeu o Prémio Pessoa e, em 2009 o Prémio Seeds of Science, na categoria «Ciências Sociais e Humanas». Foi condecorada, em 2015, com a Ordem Nacional da Legião de Honra pelo Governo de França.