Nota: esta entrevista foi feita antes das eleições. Veja ou ouça a entrevista na íntegra aqui.
A escolha da pergunta certa no momento certo é crucial para José Pacheco Pereira, que dirigiu uma provocação aos partidos pouco determinados em investir na política externa e na defesa. O historiador admitiu que gostaria de questionar o líder do Chega sobre se a vitória de Donald Trump é benéfica para os restantes países. A Pedro Nuno Santos perguntaria se está disposto a aumentar o investimento na defesa até aos 2% do PIB exigidos pela NATO. E remata: “Será que o Governo que vai presidir reconhece dois Estados na Palestina e Israel?”
Já sobre o líder do PSD, explicou que Luís Montenegro “tem tido um papel de impedir uma certa radicalização a que o PSD tinha vindo a cair nos últimos tempos, principalmente na demarcação com o Chega e na tentativa de deslocar um pouco o PSD para uma posição centrista e menos direitista”. O ex-deputado evidenciou as semelhanças entre os dois maiores partidos: “As propostas do PSD e do PS são da mesma natureza. Umas são mais estadistas, outras menos estadistas, mas a natureza das propostas é a mesma. E é uma natureza empobrecedora em relação à vida política”.
O casamento da Iniciativa Liberal com a Aliança Democrática significa o completo abandono da identidade do PSD e dos seus parceiros de coligação, mas Pacheco Pereira reconhece esse cenário como plausível. Ressalvou que Montenegro deve manter o “não” ao acordo de governação com o Chega, mas a possibilidade do seu afastamento abre portas a novas negociações, muito ansiadas pelos eleitores que veem na viragem à direita a mudança que o país precisa. “Há muitos que não querem e há muitos que acham que é um mal menor se for para afastar o Partido Socialista do poder. Os argumentos do mal menor são esses e a vontade do poder é grande”, afirma.
José Pacheco Pereira considera particularmente relevante a capacidade de manipulação inerente ao “poder do mau jornalismo”, geralmente muito politizado. “As pessoas obtêm toda a sua informação na Internet, no TikTok, que é o que acontece hoje aos mais novos. É um crescimento do engraçadismo. Não se pode substituir o debate racional por coisas engraçadas”, explica. Acrescenta ainda que “a perda do valor da racionalidade na vida política é uma coisa que é antidemocrática. E, portanto, a democracia está em risco. Não é só a guerra, não é só o futuro, não é só crise do modelo económico. É também uma crise cultural profunda”. O antigo dirigente acredita que o sentido crítico e o tempo para a discussão são as únicas ferramentas para contornar os perigos iminentes do imediatismo.