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Kiosk Zine: da imaginação à fotografia documental, “um objeto para colecionar”

Uma zine que não é zine e um livro que não é livro. Como nos…

Texto de Patricia Silva

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Uma zine que não é zine e um livro que não é livro. Como nos diz Pauliana Valente Pimentel, “é o intermédio com uma qualidade incrível”. É assim que a Kiosk Zine se apresenta na sua edição número 1, com a participação da fotógrafa.     
Fundada pelo trio da arte da ótica em punho — José Farinha, Paulo Pimenta e Daniel Rodrigues — a publicação bimestral, em formato A5, é ao mesmo tempo zine e plataforma de arquivo documental fotográfico.    

Passaram no "Um Quarto de Conversa" , mas a nossa partilha não ficou por ali. Lançada no passado dia 15 de janeiro, a nova edição da fanzine revela Rub’Al Khali (Empty quarter), um trabalho da mais recente colaboração entre os fundadores e a fotógrafa portuguesa, que cria uma memória visual do Dubai e Emirados Árabes Unidos, partindo das experiências do quotidiano que, como a mesma nos indica, “situa a imagem fotográfica entre o documental e a poesia”.

Capa da fazine

Depois da edição 0 da fanzine, composta por três volumes, cada um dedicado ao trabalho dos três artistas fundadores — O Grande Hotel”, de Daniel Rodrigues, “A hora de luz na prisão”, de José Farinha e “Um beijo de saudade”, de Paulo Pimenta – a vontade de procurar uma fotógrafa convidada era unânime. Queriam que fosse portuguesa. Depois de selecionarem alguns nomes, o da Pauliana foi o escolhido, ou melhor, segundo o José, foi o primeiro e único a ser contactado.
Conhecendo o trabalho da artista já desde 2019, os fundadores da Kiosk Zine rapidamente colocaram mãos à obra. A reciprocidade foi mútua. Pauliana conta-nos que quando o Paulo, um dos fundadores que a conhecia de longa data, lhe falou mais sobre o projeto, rapidamente aceitou, “mas queria pensar se teria ou não algum trabalho que se adequasse, no sentido em que esta fanzine não é, ou pelo menos a ideia não é ser, o portfólio de um artista, mas um trabalho realizado”, explica-nos.

Voltemos ao ano de 2019. Nesse ano, a fotógrafa teve nove exposições individuais e produziu o livro O narcisismo nas pequenas diferenças. É caso para dizer, segundo a artista, que esta colaboração “calhou mesmo bem”, isto porque, um dos seus trabalhos, nomeadamente o que está presente na fanzine, já tinha sido apresentado sob a forma de exposição em Lisboa e no Porto, no entanto, ainda não tinha sido publicado. Não fincando por aqui, o trabalho de Pauliana vai também inaugurar uma galeria em Setúbal, ainda que com uma data indeterminada, devido às condições atuais do confinamento.

A curiosidade sobre “como”, “quando” e “de que forma” o projeto de Pauliana se desenvolveu, chegando agora ao papel, ao toque e ao olhar dos fãs na Kiosk Zine foi algo que a artista cuidadosamente partilhou: “este projeto em específico aconteceu de um convite da curadora Marie Loffreda, do Dubai, em 2015, que veio a Lisboa, viu uma exposição minha e gostou muito do meu trabalho. Sem me conhecer, abordou-me e perguntou-me se eu não gostaria de fazer algo no Dubai. Eu rapidamente disse — ‘convida-me que eu vou já amanhã’. Albergou-me na sua casa, levou-me aos locais e foi, sem dúvida, muito importante, porque os países árabes, em especial esta zona, é muito fechada e eu sou mulher. Portanto, era revelante ter uma pessoa lá que me encaminhasse e me ajudasse a conhecer pessoas.”

Fotografia de Pauliana Valente Pimentel

A artista esteve em terras Emirantes, em dois períodos diferentes, durante três anos. A primeira vez, cerca de um mês, que resultou depois numa exposição, no O Apartamento, em Lisboa. O trabalho da artista representava vivências, um pouco em ´secretismo’, isto porque é “muito difícil entrar dentro da casa de árabe”, conta-nos.

Mais tarde, com o objetivo de fazer um trabalho mais profundo e social, captando os costumes da comunidade árabe, Pauliana volta em 2018 e aprofunda o seu trabalho, que inclusive conta com um vídeo. Foi então que partiu rumo ao Porto, onde expôs com novas peças.

A artista pretende ainda levar o trabalho ao local onde o realizou e a Kiosk Zine será algo que a acompanhará.

Documental, o registo

Com um cariz documental de longa data em papel, a Kiosk Zine pretende exatamente isso: documentar a realidade com uma preocupação social.

Pauliana afirma que: “acho que todos os trabalhos têm isso em comum e foi algo que também me atraiu. Vejo o trabalho do Zé sobre a Palestina e acho que faz total sentido agora, de repente, haver um trabalho sobre o mundo árabe.”          
Com a face sorridente e acenando com a cabeça, passa-se a palavra ao José e ao Daniel, amigos de longos anos que dispensam apresentações. O José concorda — “desde que nos juntámos a ideia base é essa. A Kiosk está cá para divulgar e promover histórias e, logicamente, as histórias que nos interessam a nós como editores e que segue um pouco a linha de pensamento que, para já a Kiosk está a ter, segue o documental. E depois também com diferentes pontos de partida, como é o caso das nossas três histórias: a do Paulo mais pessoal sobre a irmã; a minha sobre a Palestina e uma situação de conflito no mundo árabe e a do Daniel, sobre uma história em Moçambique que viveu lá. Ou seja, são três histórias de raiz, diferentes”.

- “Com olhares completamente diferentes, no entanto, reais” – completa Daniel.

A Kiosk é diversidade.

Sobre a base documental numa ótica geral, xs fotógrafxs reconhecem que “sim, há uma banalização da imagem”, no entanto, Pauliana completa que “cabe a projetos como este, quer seja em livro, fanzine ou exposição, mostrar a fotografia de uma outra maneira. Há uma qualidade nas imagens que tu não vês num fotógrafo amador ou no Instagram. Claramente, este tipo de trabalho quando é visto tem impacto. No meu caso, já tive várias exposições, como já vendi peças consideradas obras de arte a colecionadores. Por si só, já se está a valorizar essas fotografias. O facto de se criar um livro com imagens de qualidade destaca isso”, afirma.

Daniel acrescenta ainda: “acredito que, infelizmente, com esta realidade da pandemia, as pessoas acabem por não estar tão à procura deste tipo de trabalhos. Ainda assim, nós, a insistir, a imprimir e a fazer chegar estes conteúdos às pessoas, acabamos por combater essa mesma banalidade. É necessário fazê-lo.”

Desacelerar o consumo é algo que esta fanzine pretende fazer batalhando pela não massificação da fotografia.  O trabalho a longo prazo é raro e Daniel consciencializa-nos que tal acontece por diversos motivos, nomeadamente, “já não há orçamento, já não há pessoal que investe. Muitas vezes, é o próprio fotógrafo que o faz porque quer abordar aquele tema e aprofundá-lo. Cada vez mais isso acontece e, o facto de haver pessoas que ainda queiram investir e fazer algo deste género, é muito bom. Cabe a nós, fotógrafos, educar o leitor e as pessoas que vêem o trabalho.”

Edição 1, uma edição que não fica por aqui

Com uma estrutura dedicada ao trabalho da Pauliana, a novidade é também o texto explicativo do seu olhar. No entanto, os fotógrafos não ficaram por aqui.

Desta vez, a Kiosk Zine apresentou ainda uma edição especial, por enquanto esgotada, que incluía ainda uma print, assinada e numerada pela artista de 18x12cm, impresso em papel 315gr com a photo Rag Baryta da Hahnemuhle, a um preço “superespecial”.
Com a promessa de repensar numa nova edição especial, os fundadores e a artista convidada confidenciam-nos que talvez possam chegar com um novo print.

Passando por dois momentos de confinamento durante a pandemia, a Kiosk Zine chega ao mundo: “é com bastante surpresa e agrado que nós percebemos que, mesmo nesta situação pandémica, a abertura é grande por parte das pessoas. Mesmo com a edição 0, acreditávamos que íamos esgotar uma ou duas edições de exemplares, mas nunca esperámos esgotar praticamente seis. Ficámos muito felizes, o que nos deu uma força muito maior para lançar agora a número 1”, confessa José.

Os fundadores do projeto tinham programado um lançamento físico para esta edição, o que não chegou a acontecer devido às novas medidas adotadas pela Direção Geral de Saúde. No entanto, privilegiam o facto de, quatro dias depois, a edição especial se encontrar esgotada.

Em dias ausentes de confinamento, a Kiosk Zine estará disponível no Mira Fórum, na livraria Térmita, na galeria CAV e na livraria STET.

Com curiosidade e liberdade para a pensar a partir de casa, xs fotógrafxs convidam-nos a dar uma ‘olhadela’ aqui.

Dos olhares documentais que nos levam ao resto do mundo, a Kiosk Zine transcende o dia a dia, ideologias, culturas e crenças de uma forma singular.

Texto por Patrícia Silva
Fotografia da cortesia de Pauliana Valente Pimentel

Se queres ler mais entrevistas sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

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