Nota: esta entrevista foi feita antes das eleições. Podes ver ou ouvir a entrevista na íntegra aqui.
A estudante de antropologia afirma que é fundamental dar visibilidade ao consenso científico sobre as alterações climáticas. A ativista já participou em marchas e ocupações de espaços académicos com o principal intuito de colocar as alterações climáticas no centro do debate público. No entanto, o movimento pela justiça climática não reúne consenso pelas formas de protesto que adota. Quando acusada da prática de atos violentos, responde: “não será mais violento viver em pleno caos climático?”.
“Gostava de mencionar que nenhum movimento transformador ao longo da história foi consensual. As sufragistas também tiveram de partir vidros”, exemplifica. Leonor recorda que a Greve Climática Estudantil organizou as suas primeiras marchas em 2019, mas cedo deixaram de ter o impacto que era desejado. “Agora percebemos que o poder está nas instituições que nos estão a falhar e que temos de as denunciar. Passámos também a agir nesse sentido. Quando escalamos as nossas táticas [pode] haver estas reações e este backlash social, mas a realidade é que sempre que nós fazemos uma ação fala-se sobre crise climática e é algo que está no debate público”, garante.
Já sobre a campanha eleitoral, lamenta que a crise climática tenha ficado fora dos debates entre os candidatos. A estudante de antropologia aponta o dedo aos partidos, denunciando a ausência de propostas que garantam o corte de 70% das emissões de gases poluentes. Acrescenta ainda que “não há nenhum partido, com assento e sem assento parlamentar, que tenha um plano para combater esta crise”. “Nós sabemos que estas eleições, [cujo mandato termina em 2028], são as últimas eleições para travar o colapso”, explica.
Leonor Chicó manifesta apoio aos agricultores que paralisaram vias de norte a sul do país em protesto e nega estarem em lados opostos da barricada: “estes trabalhadores estão a sentir aquilo que é um panorama social, político e material de escassez e de colapso dos sistemas políticos”. De acordo com a ativista, a mobilização da sociedade civil é crucial no combate às alterações climáticas. “Não é só no sul global que se sentem os efeitos da crise climática, é aqui, no nosso quintal. É aqui, no Alentejo, onde há seca e os agricultores não têm água”, argumenta.
A repressão policial contra ativistas e a detenção de estudantes que pretendem pernoitar nas instalações das faculdades tem merecido especial atenção por parte dos jovens. Leonor evidencia a forte intervenção das forças de segurança nas ações dos movimentos sociais no ano em que se assinala o 50º aniversário da Revolução dos Cravos: “Entendemos que os agentes de segurança pública agem em conformidade com o sistema em que se inserem, o sistema que defendem. Tem havido um aumento grande da repressão por parte do Estado que é materializada pela polícia”.
As ações da Greve Climática Estudantil são inspiradas nos movimentos estudantis dos anos 60 e 70, que ambicionavam o progresso, conforme explicou a ativista. “Nós vivemos uma crise de memória e uma crise de imaginação. Leonor considera também que só é possível colocar a justiça social no centro das preocupações aquando da transformação dos sistemas político e económico. É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo, mas só uma luta revolucionária é que pode trazer uma imaginação revolucionária”, afirma.