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Longue Marche: corpos que não se esquecem

No dia 8 de julho, a mais recente criação do coreógrafo e bailarino Rodrigo Teixeira…

Texto de Patricia Silva

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No dia 8 de julho, a mais recente criação do coreógrafo e bailarino Rodrigo Teixeira estreia na Escola de Mulheres, em Lisboa. O espetáculo estará em cena até dia 11 de julho e seguirá em digressão nacional. Partindo das dicotomias temáticas, das gerações distintas e da memória Longue Marche procura uma história coletiva e individual nas experiências fugazes que, atualmente, a sociedade vive.

"Trabalhar uma inquietação". O ponto de partida foi explorado num atelier que Rodrigo Teixeira fez juntamente com a Cláudia Dias. Procurar desmistificar uma problemática que se vive e envolve com o artística foi algo que, rapidamente, fez sentido para o artista, ainda em 2019.

Cerca de um ano depois, já afetado pela realidade pandémica, resgatar o mapeamento de memórias e construir, a partir delas, uma história que se difunde entre o todo e o singular foi um exercício que o artista procurou explorar constantemente a partir do quotidiano e de todas as experiências a que a ele chegavam. O processo criativo nasce de um momento individual, que se expande a mais quatro bailarinos e intérpretes levando a momentos de partilha, de construção coreográfica e de prática do movimento. Até chegar a este resultado, a caminhada foi dura para Rodrigo, "aliando o que aprendi ao momento que vivemos, posteriormente, nessa altura, da pandemia foi bastante complicado para mim. Vi pessoas desaparecerem, muitas. Três delas da minha família, de uma forma estrondosamente rápida. Desapareceram. E, depois, quando eu ia a casa visitar a minha mãe, todas as vezes que o fazia, estava uma pessoa a faltar. Uma vez era uma, outra vez outra. E eu não me consegui desligar isso, não por ser a fatalidade de uma morte, mas sim pela realidade que isso representa."

É partindo desta reflexão e importância da memória enquanto ser presente e fugaz que as cadeiras que se dissolvem entre corpos, em palco, o som se mantém fiel à tensão e fricção e ainda as imagens que eternizam, mas que captam o inevitável. É então que Longue Marche leva-nos a questionar a vida, a morte, o declínio e a extinção.

"Seremos nós seres extintos?" Rodrigo acredita que não. Partindo da memória que "nos impede de extinguir", o artista revela que esta busca de uma herança e da reprodução da mesma é algo que nos questiona como seres e como pensadores de um passado, presente e futuro, "eu olho para a memória, não como uma coisa do passado, mas uma coisa do presente. É a memória que dá significado, ou seja, é o passado, as nossas experiências que dão origem às memórias que dão realidade ao presente. É muito importante não nos esquecermos."
Estas palavras e pensamentos fizeram ainda mais sentido para Rodrigo enquanto lia Stein, "ele falava da existência e defende que deixamos de existir quando, por exemplo, um autor deixa de ser referenciado, em que uma disciplina qualquer deixa de ser praticada ou ensinado.

Interpretado por Ana Silva, Andreia Serrada, Catarina Marques e Felix Lozano, Longue Marche é o terceiro espetáculo produzido pela PURGA.c – Associação Cultural, depois de Queda Infinita (2018-2019) e Voyage, Voyage (2020). A estrutura de dança contemporânea fundada por Adriana Xavier e Rodrigo Teixeira, trabalha a criação coreográfica em diálogo com várias disciplinas artísticas. Nos seus trabalhos, Rodrigo Teixeira procura equilibrar as linguagens da dança e do teatro, partindo de uma pesquisa intensa com todos os artistas que colaboram nas suas criações.

"Aquele corpo não se vai esquecer porque está replicado". É, desta forma. que cinco corpos, em grupo, isolados e em pares dão origem a uma viagem de resgate e de resistência daqueles que não "podem cair no esquecimento".

"Acelerar" o que cada um vive poderá ser também uma consciencialização premeditada que caminha de mãos dadas com o individual, o coletivo e o social. A memória e a geração são partilhadas inevitavelmente e, como tal, Rodrigo acredita que "há uma coisa que não se pode destruir, que é, nós existirmos. O facto de eu saber que existo, torna-nos, a todos, de certa forma, imortais. Transformámos, assim, a memória como um espaço de eternizar".

O artista, licenciado em Dança pela Escola Superior de Dança (2014-2017), começou a sua formação, em 2012, na Escola Asas de Palco em Guimarães, tendo sido bolseiro do curso FOR - Dance Theatre, da coreógrafa Olga Roriz (2018-2020).

Hoje, os artistas que compõem Longue Marche, levam o espetador a uma viagem no tempo, onde questionam a valorização humana, a vida, a morte e o que resta dela. Depois da estreia na Escola de Mulheres, passarão pelo Auditório Osvaldo Azinheira, em Almada, a 15 de outubro, pelo Armazém 22, em Vila Nova de Gaia, nos dias 29 e 30 de outubro, e pelo Centro Cultural de Lagos, de 11 a 13 de novembro de 2021.

Texto de Patrícia Silva
Fotografias Alípio Padilha

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