Como começou a tua relação com a arte?
Sou artista há mais de duas décadas, sempre fui apaixonado pelas artes, quer seja pintura, escultura ou música, portanto, acho que desde que me lembro que sempre gostei de criar. Na escola, ainda pequeno, lembro-me de desde muito cedo ter trabalhos expostos. Era natural, não algo onde me tinha que esforçar para criar, era puro prazer. Hoje crio arte nas áreas da pintura, escultura e música digital. Na escultura e restante arte reciclo maioritariamente materiais.
Como descreves o teu processo criativo?
Trago sempre comigo uma folha A4, dividida em 16 pequenos retângulos onde anoto as ideias que surgem em qualquer lugar ou a qualquer hora. Por vezes dou comigo a acordar a qualquer hora da noite e a anotar as ideias, pois de outra forma quando acordo, já eram. Possuo centenas de projetos já criados e centenas por fazer, tenho dezenas dessas folhas com 16 trabalhos cada uma.
Quero acreditar que se tivesse tempo de vida, seria um dos artistas que mais iria criar em vida, sou muito criativo e tenho muitas vezes dificuldade em conseguir transmitir aquilo que vai na minha cabeça aos outros, pois já estou a idealizar a obra finalizada e percebo que as pessoas não estão a acompanhar.
Recolho muitos materiais de pontos de lixo, praias e das ruas. Quero acreditar que muitos vizinhos e pessoas que não sabem o que faço devem achar que eu sou pirado da cabeça, andar ao lixo, isto é, a reciclar. Olho para o que está abandonado e já idealizei algo para aquilo, basicamente é assim que funciona.
Qual a inspiração para a criação das peças concorrentes ao Recicl’arte LG Challenge?
Estava no Instagram e, de repente, vi o concurso da LG que encaixava como uma luva naquilo que faço há tantos anos. Era a minha praia: reciclar, reduzir, reutilizar e, portanto, não foi difícil.
A LG, conforme sabemos, está relacionada com eletrónica, daí a sapatilha com sola de placa eletrónica (obra que venceu o 2º lugar no concurso).
O 1º lugar veio por arrasto. É LG inovação, os heróis na sua área de trabalho: os vidros remetem para as televisões e a madeira também é um material que utilizam. Acima de tudo, conforme o nome da escultura, são como os antigos Heróis do Mar. A escultura é um pouco de tudo isto, pois a madeira é em forma de onda e os heróis portugueses não tiveram medo de arriscar na descoberta do novo mundo, conforme faz a LG na criação multidisciplinar. O público adorou.
Como julgas que este concurso pode ser relevante para dar destaque aos artistas portugueses que trabalham a sustentabilidade?
Só o facto de existirem entidades e empresas que apostam e lançam este tipo de iniciativas, por si só já são referências que temos que respeitar, pois, para além de investirem em arte, juntam a componente de reciclagem e preocupação com o planeta que não nos pertence, embora, por vezes, o homem ache que sim.
Gostaria e quero acreditar que a LG e os parceiros com quem trabalham irão agora fazer a parte que lhes compete que será a divulgação, pois de outra forma não passarei de um simples artista que concorreu e ganhou. O tempo faz o resto que é esquecer.
Para terem ideia, na minha última exposição o Museu/Galeria onde estive contou os diferentes materiais que tinha utilizado nos trabalhos expostos e eram mais de 50. Para mim nem o céu é o limite em processos, materiais e técnicas a usar.
Que papel pode ter a arte no combate às alterações climáticas?
A arte quando é criada e sentida, consegue transmitir sentimentos e mexer consciências e mentalidades, não deixando indiferentes aqueles que a veem.
Ao mesmo tempo e, quando desde muito cedo é dada a conhecer aos futuros senhores deste país e mundo, as crianças, eles porque irão perceber, gostar e, quiçá, até experimentar e experienciar a mesma, não irão permitir que aquilo que o homem está a fazer ao planeta continue. Como costumo afirmar, não é o plástico, o têxtil ou outros materiais que são maus para o planeta, mas sim, a forma, o uso e o fim que lhes damos, não reciclando, reduzindo ou reutilizando.
O Recicl’Arte LG Challenge pretende ser uma referência na descoberta de talentos nacionais, através de expressão artística sustentável. Descobre o trabalho do artista vencedor, Manuel Ribeiro, aqui ou aqui.