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Masturbação: o amor-próprio sexual da mente

Masturbação: o amor-próprio sexual da mente Agora que escrevi este título em forma de livro…

Opinião de Clara Não

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Masturbação: o amor-próprio sexual da mente

Agora que escrevi este título em forma de livro de auto-ajuda, vou explicar o contexto desta crónica de uma forma simples, embora não precisasse de contexto nenhum. Maio é o mês dedicado a acabar com o pudor da Masturbação, especialmente aquela que não é a hetero-normativa masculina. Mesmo assim, tocaremos (pun intended) no preconceito dentro (pun intended again) deste nicho de masturbação tão normalizada.

Ao longo deste texto vou referir-me várias vezes a homens e mulheres cis- hetero especificamente, dada a construção binómica (e limitadora) da sociedade. Assim, abreviarei “cis-hetero” para “c-h”.

Quanto às mulheres c-h, o facto de nos masturbarmos com prazer é em si um ato ativista íntimo anti-patriarcado. O desafio aqui é conseguir não sentir um pingo de culpa. Literalmente, ninguém está a ver (no caso da mulher c-h que está sozinha na sua cena), podemos experimentar TUDO o que quisermos sem restrições ou inibições. Então, por que, mesmo assim, há muitas mulheres c-h que sentem culpa por se masturbarem? Por causa do patriarcado, alimentado pelo tradicionalismo da religião católica, que venera a pureza atribuída à Mãe de Deus, exemplo máximo para todas as mulheres do Cristianismo (ler primeiro capítulo da crónica FEMINISMO E RELIGIÃO: Compatíveis ou não. Parte II).

A masturbação não é violação do próprio corpo, como a tradição religiosa o diz, mas sim um ato de liberdade, de exploração de um corpo que nos pertence, só a nós mesmas. Desta forma, a masturbação pode ser vista como uma das atividades de maior amor-próprio e ativismo feminista do cariz íntimo. Além disso, a prática alivia o stress e evita caralhos de merda (e conas de merda) desnecessários na vida das pessoas. Se queres conexão, procura, sim, uma outra pessoa. Se só procuras orgasmos, miga, uma masturbação dá-te prazer, sem confusões e sem HPV e outros amigos piores.

Em contraste, a masturbação masculina sempre foi mais mainstream, tanto na vida real como nos filmes e media. É considerada normal, um ritual de passagem até, que “faz parte de ser homem”, brincando-se mesmo com a frequência grande do ato e tendinites na mão e pulso. Ora, se num lado do binómio limitador da sociedade temos a sobrenormalização, do outro temos a procura da anulação. As mulheres c-h tendem a começar mais tarde a explorar o seu próprio corpo, em comparação com homens c-h, a terem mais receio de se masturbarem, por pudor da sua própria sexualidade. Por consequência, podem desenvolver problemas psicológicos de culpa, impedindo-as de usufruir do seu próprio corpo na totalidade.

Temos receio de urinar quando precisamos de o fazer? Temos receio de comer

quando temos fome? Não havendo outra patologia associada, quando o nosso corpo nos pede algo, não temos receio de o fazer. Então, por que haveremos de nos sentir culpadas quando ficamos excitadas e nos queremos masturbar?

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Por outro lado, importa realçar que, embora a masturbação masculina c-h seja mainstream e faça parte do universo de pujança de homem-macho, há muito pudor com a chamada butt action. Já se começa a desconstruir o pudor do sexo anal em sexo heterosexual normativo — quando a mulher c-h é penetrada pelo homem cis no ânus —, mas são poucos os homens c-h que se sentem à vontade para explorar a sua entrada anal, quando, como pessoas com próstata, têm muito a ganhar com essa prática. E por que razão? Mais uma vez: o patriarcado, que, ao ser homofóbico, ensina aos homens que são só eles que devem penetrar as mulheres, logo não devem ser penetrados, pois é anti- natura. (E só estamos a falar de um dedo, não estamos a falar de pegging. Agora pensem). Como se o corpo de um homem cis-hetero e o corpo de um cis-homo fossem diferentes na sua composição... Não esquecendo que são muitas as mulheres c-h que acham estranho um homem c-h gostar de butt action — alerta preconceito. (É tudo uma questão de comunicação e conforto mútuos).

Pois bem, para todos os homens c-h que estejam a ler isto, desafio-vos a explorarem mais o vosso corpo (se é que já não o fazem). Se não se sentem confortáveis, ainda, ou de todo, em explorar o vosso ânus, por alguma razão, proponho — eu, mulher c-h singela —, que explorem a aclamada “terra de ninguém”: o períneo. É uma área muito próxima da próstata, com muitas terminações nervosas, logo dá muito prazer. Se estou a explicar ao leitor o que já sabe, desculpe lá a maçada. Na verdade, a estimulação do períneo pode ser mega interessante quer para pessoas com vulva, quer para pessoas com pénis, dadas as ditas terminações nervosas. ALERTA ZONA ERÓGENA COMUM!

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A masturbação, para além de ser um meio para a auto-suficiência orgásmica, é também a melhor forma para conheceres o teu próprio corpo: “gosto disto, não gosto daquilo”, enquanto pessoa com vulva+vagina e pessoa com pénis. Por exemplo, se uma pessoa souber que gosta que lhe massagem o períneo enquanto penetra/é penetrada, pode comunicar à sua parceira/o/e. Nesta mesma situação, a pessoa que tenha informação sobre as possibilidades orgásmicas do períneo pode experimentar a sua estimulação com a pessoa parceira, com o seu consentimento, claro. E se não gostas de alguma prática sexual, porque realmente não te traz prazer, não é pudor, é a tua realidade corporal.

Antes de concluirmos, é preciso ressalvar que todos os corpos são diferentes.

Todas as vulvas, todos os pénis, todos os genitais. Assim, o que funciona com uma pessoa, pode não funcionar com outra. Não se é mais nem menos normal por causa disso: não há pessoas normais, mas antes comportamentos socialmente normalizados. Todos os clitóris são diferentes, em posições diversas; todos os lábios são diferentes, em tamanho e cor. No seguimento, todos os conjuntos de glande, curvatura, tom, espessura e comprimento de pénis são diferentes. Ainda, orgãos genitais intersexo são igualmente naturais, e diferentes entre si.

Deixo, também, um fervoroso pedido: homens c-h desta vida, livrem-se de fazerem mansplaining sobre como é o orgasmo da pessoa com vagina à própria pessoa que tem vagina. Poupai-nos. *Ler a próxima frase como guru das nergias* Foquem-se na comunicação para ambos terem prazer, explorando os vossos corpos em conjunto. Essa é a magia: descobrir, usufruir, receber e dar prazer. Tudo de uma só vez resulta no amor-próprio sexual da mente: *ler a cantar* a masturbaçãããããão.

Masturbação com vulva é empoderamento! Mas atenção, não és mais nem menos feminista por te masturbares. És sim, por entenderes o teu corpo e usares a liberdade que tens sobre ele. Quando falamos sobre o assunto como falei até agora, corremos o risco de estar a fazer pressão para alguém se masturbar quando essa pessoa não quer. Se não queres, não o faças. No entanto, é bom que estejas consciente por que não o queres. Não te apetece? Tudo bem, óbvio. És assexual? Razão naturalmente mais do que válida. Se sentes culpa ou medo, deves explorar melhor isso contigo e/ou com uma pessoa profissional na área de psicologia/sexologia. Não há problema em pedires ajuda, há problema por sentires culpa em fazer algo mais do que natural na viagem que é experienciar ter um corpo.

Boas masturbações, pessoas!
Nota final: um bem-haja ao meu histórico de pesquisa.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Clara Não-

Clara Não é ilustradora e vive no Porto. Licenciada em Design de Comunicação, pela Faculdade de Belas Artes do Porto, e fez Erasmus na Willem de Kooning Academie, em Roterdão, onde focou os seus estudos em Ilustração e Escrita Criativa. Mais tarde, tornou-se mestre em Desenho e Técnicas de Impressão, onde estudou a relação fabular entre Desenho e Escrita. Destaca-se pela irreverência e ironia nas ilustrações, onde reivindica a igualdade, trata tabus da sociedade e explora experiências pessoais.  Em 2019, lançou o seu primeiro livro, editado pela Ideias de Ler, intitulado Miga, esquece lá isso! — Como transformar problemas em risadas de amor-próprio.  Nas horas vagas, canta Britney.

Texto de Clara Não
Fotografia de Another Angelo

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