Um espetáculo “disruptivo”, que se aproxima da dúvida do que é a realidade do teatro, foi como Pedro Saavedra definiu a peça “O Fim do Teatro”, a estrear em 05 de dezembro, no Centro Cultural da Malaposta, em Odivelas.
“Fomos buscar coisas do [dramaturgo Luigi] Pirandello e do pós-absurdo”, nesta peça que consiste “numa espécie de revolução e de luta de vários tempos e de vários ideais de teatro”, disse o autor e encenador do espetáculo que regressa agora ao teatro com esta peça que sobe ao palco no Centro Cultural da Malaposta, em Olival Basto, concelho de Odivelas, no distrito de Lisboa.
A ação da peça centra-se num diretor de teatro e numa atriz que, embora esquecidos, se conhecem há muito tempo e se encontram para fazer teatro.
Uma "peça que pretendem que seja a melhor de sempre”, o que constitui “uma espécie de mito de Fausto”, sendo, neste espetáculo, Fausto, “um diretor de teatro, saudoso do passado, que se esqueceu de onde está agora”, e “a grande atriz, Margarida, a mulher deste” que, por sua vez, “também não se lembra de que está casada com ele há anos”, frisou.
Fausto e Margarida estão ainda presentes num outro casal apaixonado e amoroso, que representam os próprios, muitos anos antes.
Neste trabalho que recupera o mito de Fausto, não falta Mefistóteles, um técnico que, pouco a pouco, leva as personagens centrais à perdição mais do que uma vez.
“Porque o teatro está sempre a começar e a acabar, uma e outra vez”, sublinhou Pedro Saavedra.
A ideia para “O Fim do Teatro” surgiu há cerca de ano e meio, quando a equipa do espetáculo foi convidada para “uma proposta 'fora da caixa'", o Festival Exquisito, realizado em Telheiras, e para o qual construíram uma peça em que pretendiam "questionar a finalidade do teatro para as pessoas que estivessem a passar pela rua”, disse o autor à Lusa.
Esta ideia viria a dar origem a um espetáculo, realizado em setembro de 2018, na biblioteca Orlando Ribeiro, em Lisboa, mas a equipa achou que devia tornar-se um espetáculo de palco.
“E é assim que agora chega à Malaposta e que, em fevereiro, também vai estar em cena no espaço Escola de Mulheres, no Clube Estefânia, em Lisboa”, acrescentou.
O facto de haver artistas que consideram que vivemos num período pós-dramático e que já não há mais o espaço de ilusão são, segundo Pedro Saavedra, temas também abordados no espetáculo.
O que fazer com as personagens do teatro face ao advento da televisão, questionar se, na atualidade, o teatro tem mais a ver com artes performativas ou se o teatro acabou, na forma mais clássica como o entendíamos, são, segundo Pedro Saavedra, outros temas abordados na peça.
O problema da falta de financiamentos com que muitas companhias se confrontam na atualidade está igualmente presente nesta peça cujo protagonista, Fausto, fica desolado quando, durante uma reunião no Ministério da Cultura, pouco depois do início do drama, é informado de que a companhia que dirige deixa de ser subsidiada.
Fausto “foi considerado um diretor anacrónico e, por isso, fica sem subsídios”, disse o autor e encenador de “O Fim do Teatro”, lamentando esta ser uma “realidade que, cada vez mais, atinge tanta gente do teatro”.
Interpretada por Mário Redondo, Mia Tomé, Miguel Ponte, Rui Miguel e Sofia de Portugal, “O Fim do Teatro” tem cenografia de Raquel Albino e Joana Mendão, figurinos de Surumaki, sonoplastia de Rui Miguel, fotografia de André Mayer e Estelle Valente, produção de Patrícia Roque, design de Sónia Rodriguesm, e Isabel Costa, na assistência de encenação.
Na Malaposta, a peça vai estar em cena de 05 a 15 de dezembro, com espetáculos de quinta-feira a sábado, às 21:00, e, aos domingos, às 16:00. Ao Cube Estefânia chegará em 06 de fevereiro de 2020, permanecendo em cena até 16 de fevereiro, disse o autor e encenador.
Em abril de 2020, Pedro Saavedra estreará também, na Escola de Mulheres, “Os Princípios do Novo Homem”, um espetáculo apoiado pela Gestão dos Direitos dos Artistas (GDA) e pela Fundação Calouste Gulbenkian, revelou o autor e encenador à Lusa.
Licenciado em formação de atores/encenadores, pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Pedro Saavedra, que trabalhou em companhias como Teatro da Comuna, Companhia de Teatro de Almada, Companhia Teatral do Chiado, no coletivo argentino Escena Subterranea, e que levou programação para cena aos Recreios da Amadora, regressa aos palcos com esta peça na Malaposta.
Professor de Tecnologias de Interpretação da Personagem, o ator foi um dos fundadores da Associação Cultural Gerador, onde, desde 2014 e até maio de 2019, dirigiu o departamento de direção artística e a revista Gerador.