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O rapaz do cão preto

Diariamente, como era seu hábito, saía de casa com o seu cão preto e ia…

Texto de Redação

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Diariamente, como era seu hábito, saía de casa com o seu cão preto e ia beber um café, perto de casa. Depois, enchia os pulmões cheios de ar e seguia para o bosque à procura de bons encontros. Sabia que o dia ficava mais leve e bem passado, quando se cruzava com alguém e trocava dois dedos de conversa. Estava impedido de trabalhar devido à situação pandémica e tinha de ocupar os seus dias de forma a manter-se equilibrado. Ajudava em casa com tudo o que estava ao seu alcance: cozinhava, limpava, estendia a roupa e garantia que tudo estava em condições para receber a sua família. 

A situação era delicada e não queria sentir-se um fardo. Gostava realmente de trabalhar. Estava sempre à procura de um biscate, por mais pequeno que fosse. Já tinha tido várias profissões na sua vida, embora fosse especialmente bom a limpar. Podiam ser carros, casas, lojas ou restaurantes. Tudo o que tocava ficava impecável! 

Vivia há pouco tempo naquele bairro, mas já conhecia muita gente. Sempre que se cruzava com alguém, tinha o hábito e o gosto de cumprimentar as pessoas. Regra geral, devolviam-lhe o “olá” e o “bom dia”. Para a maior parte dos vizinhos era sem dúvida um rapaz muito educado e simpático.

O cão preto também era muito dócil. Noire tinha sido resgatado por si e pelo seu pai de um indivíduo tenebroso que o maltratara e deixara à fome. Quando veio para sua casa, estava subnutrido e muito assustado com tudo, mas rapidamente percebeu que a sua vida tinha mudado radicalmente. Até para ser cão é preciso ter sorte. Agora os novos donos tratavam-no como se fosse uma preciosidade, enchendo-o de mimos e passeios diários. Rapidamente transformou-se num cão destemido e afável. 

Ia a caminho do bosque, para libertar o seu cão no parque, quando se apercebeu que já lá estavam duas cadelas: Angie e Chocolate. Os três cães davam-se bem e os três donos também. Noire dava-se especialmente bem com a cadela Angie, com quem se divertia à grande e à francesa. Corriam muito por todo o parque e partilhavam paus de madeira e bolas com uma alegria e amizade, nada típica em animais que não viviam juntos. Sempre que se encontravam, os cães saltavam para cima um do outro, aos abraços e mordidelas laicas. Uma ternura. A cadela Chocolate regra geral não alinhava nas brincadeiras mais brutas, nem em grandes correrias. Sentava-se na terra com as patas para trás, e se ninguém reparasse, era capaz de comer um ramo inteiro de uma árvore. Ele gostava especialmente daquela cadela castanha e simpatizava ainda mais, com a sua dona de cabelos ruivos.

Costumava andar com biscoitos nos bolsos e Chocolate já sabia que ele era uma espécie de “presunto” ambulante. Saltava-lhe para cima ou cheirava-lhe os bolsos com o focinho. Divertia-se imenso com aquele ritual da cadela. Já a dona era mais reservada. Que pena, pensava ele.

Era muito cuidadoso com os animais e com as pessoas. E gostava que retribuíssem a mesma gentileza. Como era um rapaz sensível, ficava verdadeiramente indisposto, quando ouvia dizer mal de alguém, principalmente, se eram pessoas que ele conhecia do bairro e tinha apreço. Ia para o bosque para encher os pulmões de bons encontros e ficava especialmente frustrado se o enchessem de histórias negativas e estados de alma que o puxavam para baixo. Quando isso acontecia, punha logo os pontos nos is. Era um rapaz assertivo e não tinha dificuldade em esclarecer algumas situações, mesmo que fossem incómodas, só assim as podia alterar. Era uma pessoa simples e gostava de simplificar as relações e, acima de tudo, gostava que as pessoas se dessem bem umas com as outras e se respeitassem mutuamente.

Do local onde se encontrava, chamou-lhe a atenção a senhora, que estava sentada no banco debaixo de uma cerejeira em flor. Estava sozinha a observar a vista ou simplesmente a apanhar sol no rosto e a pensar na vida. Que belo quadro natural, pensou. Sentiu um vento fresco no rosto, e arrepiou-se. Reparou que os ramos da cerejeira se agitaram com o sopro do vento, pulverizando aquela senhora com pequenas flores brancas, como se fosse um véu de noiva. Foi nesse momento que reparou num homem alto e moreno, com uma gabardine amarela e com um ramo de rosas na mão. Seria o seu noivo?

(continuação da história anterior - terceira parte)

-Sobre a Marta Crawford-

É psicóloga, sexóloga e terapeuta familiar. Apresentou programas televisivos como o AB Sexo e 100Tabus. Escreveu crónicas e publicou os livros: Sexo sem TabusViver o Sexo com Prazer e Diário sexual e conjugal de um casal. Criou o MUSEX — Museu Pedagógico do Sexo — e é autora da crónica «Preliminares» na Revista Gerador.

Texto de Marta Crawford
Fotografia de Diana Mendes

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