Pensar o trabalho e a técnica que o transforma, nas suas mutações, causas e consequências, servirá de mote para o tema central da próxima edição da Electra, revista de crítica, pesquisa, ensaio e reflexão da Fundação EDP.
“O trabalho é uma questão maior do nosso tempo (…). O anunciado fim da sociedade do trabalho e as antevisões de um novo regime a que foi dado o nome de «pós trabalho» não encontraram ainda uma resposta adequada no plano político nem nos hábitos e convenções de todo o sistema social. Mas ganha cada vez mais força a ideia de que é preciso reinventar o trabalho e o modo de o distribuir de maneira a eliminar uma oposição cada vez mais irredutível entre uma elite do trabalho e uma imensa massa de desempregados, precários, intermitentes e supranumerários”, lê-se nesta edição.
O trabalho na era do capitalismo digital (António Guerreiro), O futuro do trabalho (Yann Moulier-Boutang), Subir a pulso: Breaking Bad e a representação do trabalho (Jason Read), Trabalho, imaterialidade, precariedade (José Nuno Matos), Canseiras de amor em vão: pós-trabalho e reprodução social (Helen Hester e Nick Srnicek, este último um dos autores do Manifesto Aceleracionista) e O trabalho e o mundo em nós (André Barata) são contributos para esta reflexão numa altura em que a covid-19 veio evidenciar algumas características estruturais da vida de quem trabalha.
Por outro lado, esta edição conta ainda com uma entrevista ao historiador italiano Carlo Ginzburg, que fala do seu percurso intelectual e dos «casos» e acasos que marcaram toda a sua investigação e o tornaram um dos nomes mais importantes da historiografia contemporânea.
Destaque ainda para a entrevista a Philippe Sands, professor em prestigiadas universidades e advogado de renome mundial no domínio dos direitos humanos, fala do mundo contemporâneo, dos seus males e ameaças, das ações judiciais contra as alterações climáticas e das mudanças criadas pela pandemia.
Já o fotógrafo norte-americano Alec Soth assina o portfolio desta edição com um trabalho no qual revela imagens da juventude «invisível» dos EUA, num trabalho apresentado pelo crítico e curador Sérgio Mah.
A secção “Livro de Horas” resulta de uma colaboração, a partir de Belgrado, de Jelena Bogavac, encenadora, escritora, poeta, performer e editora. E é a partir de Palermo e sobre Palemo que o sociólogo Alessandro Dal Lago nos fala em “A Vista de Delft”.
Por último, em “Registo”, a historiadora de arte Nicola Hille interpreta o impacto do insólito gesto de Willy Brandt que ficou gravado na história: a 7 de dezembro de 1970, o então chanceler da República federal da Alemanha, em visita oficial à Polónia, foi ao Gueto de Varsóvia depor uma coroa de flores em memória dos judeus assassinados na Segunda Guerra Mundial e, sem que tal tivesse previsto, cai de joelhos perante o Memorial dos Heróis.