Desde cedo aprendi que devemos evitar começar um texto que se deseja inspirador com a palavra não como protagonista. Leva-nos para sítios obscuros, cinzentos e pouco animadores. Hoje, no arranque desta coluna de opinião quinzenal que passarei a escrever, devo confessar que a tentação do não é gigante.
O pensamento foge-nos para essa palavra, para a resistência, para o pessimismo, para a incerteza. Mas este é o momento em que temos de dar o palco ao sim:
Sim à criatividade
A criatividade sempre foi a nossa resposta aos desafios que fomos sentindo ao longo do nosso percurso. Pôr em causa, reinventar, começar de novo está no nosso sangue e este é o tempo em que iremos confiar nas qualidades desse ser incontrolável que é a criatividade.
Prometemos ser positivos, dizer sim em vez de não, e lutar por ideias novas todos os dias, ideias que se adequem aos momentos que estamos a viver e àqueles que vamos descobrindo no futuro.
Sim à cultura
A cultura é a melhor expressão da humanidade e, como tal, deve ser protegida. É, também, pelo direito à cultura que estamos a lutar, quando nos empenhamos a ficar em casa e a pensar nos outros.
Durante este período vamos esforçar-nos para levar cultura a todos. Por isso, a partir de amanhã, dia 23 de março, vamos ter momentos culturais no nosso site todos os dias, numa iniciativa que designámos de Cultura para matar o bicho.
Estaremos, ainda, vigilantes à atenção que o poder político dá à cultura. Ao contrário de países como a Alemanha, que consideraram a cultura como um bem de primeira necessidade, não sentimos uma resposta robusta e personalizada para a cultura, com a excepção das medidas anunciadas nesta sexta, mais focadas nos projectos aprovados na DGArtes e no ICA.
Sim aos autores e aos artistas
Estamos constantemente à procura de soluções que possam apoiar os milhares de autores e artistas que têm a sua vida profissional em risco nesta altura. Temos estado em contacto com parceiros, entidades estatais, marcas, para desenhar formatos originais que ambicionamos concretizar.
As iniciativas culturais criadas para o nosso site são remuneradas para os artistas que participam porque não somos a favor da gratuitidade para quem trabalha na cultura. Se não o éramos no passado, hoje este imperativo é mais importante do que nunca.
Estamos sempre abertos para ouvir a comunidade artística, as suas preocupações e ansiedades, mas também as suas ideias e motivações. Usa o nosso mail para nos fazeres chegar as tuas reflexões.
Sim à informação
Vamos continuar a fazer jornalismo de investigação cultural, sustentado em factos, na consulta a especialistas, na valorização científica e no bom senso. Vamos procurar ser oportunos no que falamos e trazer consequência para a vida dos nossos leitores e seguidores.
Este texto que escrevo inaugura uma nova dimensão no Gerador: a opinião. É nestas alturas que precisamos de ouvir abertamente pessoas que nos apontem caminhos. Por isso vamos contar com o parecer de artistas, como a Selma Uamusse, o Vasco Araújo ou a Isabel Costa, de dois anteriores Secretários de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier e Miguel Honrado, e de especialistas noutras áreas que nos parecem importantes realçar agora, como a Ana Pinto Coelho, na saúde mental, a Marta Crawford, no sexo, a Amarílis Felizes, na economia, ou o Raúl Moreira, na gastronomia.
Uma vez por semana, aos sábados, vamos dar conta das consequências da pandemia na cultura, sempre através de uma grande reportagem. Podes ver aqui a que publicámos ontem.
Sim à educação
Refizemos todos os cursos da Escola Gerador para um sistema online que garanta a participação activa de todos os estudantes, com conteúdos adequados a este tipo de meio.
Curiosamente, esta era uma solução que estávamos a trabalhar desde o início do ano para dar resposta aos imensos pedidos que recebemos para fazer chegar a Escola a outras zonas do país. Assim, finalmente, poderemos ter estudantes de Lisboa, mas também do Porto, de Beja, de Bragança ou dos Açores.
Sim à saúde
Desde a semana passada que encorajámos todos os nossos colaboradores a trabalhar a partir de casa. Algo que não foi assim tão complicado, porque já fazia parte da nossa forma de trabalhar habitual. Aqui tivemos sorte.
Todas as iniciativas que vamos promover no nosso site procuram, também, estimular a presença saudável em casa. Teremos sempre essa orientação e estamos particularmente sensibilizados para a dimensão da saúde mental.
Seremos um veículo de informação das normas emitidas pela Direção Geral de Saúde sempre que sentirmos que nosso contributo é importante.
Admito que estes são tempos difíceis para o Gerador, também. O financiamento de tudo o que fazemos vinha, essencialmente, dos eventos que criávamos e concretizávamos. Mas não abalamos os nossos propósitos, seguimos convictos e enérgicos.
Contem connosco.
*Texto escrito com o antigo Acordo Ortográfico