O Projeto Educativo em Dança de Repertório para Adolescentes (P.E.D.R.A.), que ao longo nos últimos três anos envolveu cerca de 70 jovens, culmina no dia 14 com uma sessão pública, que a pandemia da covid-19 decretou que fosse online.
Nesse dia, às 18:00, serão apresentados os trabalhos desenvolvidos pelos jovens participantes na terceira edição do P.E.D.R.A., em simultâneo no Porto, Lisboa e Viseu, num regime de cocriação entre os participantes e um coreógrafo local, e com o acompanhamento da coreógrafa Vera Mantero, a convidada desta edição.
Num encontro a quatro de junho com a imprensa, que decorreu online, Vera Mantero salientou a importância que “pessoas destas idades contactem com a dança contemporânea, que é multidisciplinar” e “faz apelo a outros recursos, como a voz, a escrita, os objetos, as ações”.
Vera Mantero fala nestes adolescentes, com idades entre os 15 e os 18 anos, como “presentes e futuros espectadores”, mas também “possíveis futuros performers e criadores”.
Dentro de cada grupo, a coreógrafa encontrou jovens com e sem experiência na dança “e isso cria um lado aventureiro”.
Os trabalhos desenvolvidos ao longo da terceira edição, com a orientação de Vera Mantero e dos coreógrafos de cada cidade – Henrique Furtado Vieira (Lisboa), Vera Santos (Porto) e Leonor Barata (Viseu) – deveriam ter sido apresentados em abril, na Culturgest, em Lisboa, mas a pandemia da covid-19 obrigou a uma mudança de planos.
“De repente ficámos neste isolamento e foi muito interessante a forma como fomos passando a este formato [de apresentação online]”, contou Vera Mantero.
Foi quando os participantes começaram a enviar por vídeo os trabalhos para casa que lhes tinham sido marcados naquela que seria a última sessão presencial do P.E.D.R.A., que os coreógrafos começaram a achar “que se calhar o projeto tinha hipótese à distância”.
Ir recebendo os vídeos dos jovens foi uma “alegria do confinamento” de Vera Mantero. “Foi muito enriquecedor”, disse.
Esta forma de trabalhar acabou também por “puxar os participantes para outro lado artístico”. “Sem ser objetivo do projeto, também se foi mexer em coisas da ordem do cinema”, referiu Vera Mantero.
Mais do que usar as obras da coreógrafa, os jovens foram desafiados a “usar os processos” de criação de Vera Mantero.
“Para mim foi muito gratificante chegar a cada cidade e ver o que surgia a partir desses processos. É muito interessante revisitar os trabalhos e ver como é possível que sejam revisitados”, partilhou.
No encontro de hoje com a imprensa participaram também alguns dos jovens participantes na terceira edição.
João Figueiredo, do Porto, falou no P.E.D.R.A. como um “refúgio”. “No qual nos conseguimos libertar e conhecer o nosso corpo.
“As Veras [Mantero e Santos] deram-nos muitas ferramentas para tentarmos perceber que o nosso corpo é um corpo comunicante com o mundo. E era muito bonito ver a cumplicidade que conseguimos criar entre todos e a maneira como conseguimos estar ali a expandir os nossos horizontes sem nos julgarmos, era um espaço livre sem julgamentos, sem preconceitos. Era super seguro estarmos ali”, partilhou.
A participação no projeto serviu também para “desmascarar” a ideia de que estes jovens tinham da dança. “Estamos muito habituados à dança clássica e às danças urbanas. Ao olhar para a Vera [Mantero] saímos muito fora desse contexto e desmascarámos a ideia de que a dança tem de ser algo belo, tem de ter aquele rigor todo que conhecemos do ballet. E era incrivíel ver esse espaço seguro para podermos criar algo e não ter medo de avançar”, contou João Figueiredo.
A última sessão de apresentação do P.E.D.R.A. será transmitida no dia 14 de junho, às 18:00, em direto nas páginas das redes sociais da Culturgest, do Teatro Municipal do Porto, do Teatro Viriato (de Viseu) e da Rumo do Fumo, estrutura criada em 1999 por Vera Mantero.
À apresentação dos trabalhos dos jovens segue-se uma conversa entre os coreógrafos envolvidos na terceira edição: Vera Mantero, Henrique Furtado Vieira, Vera Santos e Leonor Barata.
O P.E.D.R.A., que se iniciou em 2018, dividiu-se em três edições, desenvolvidas em simultâneo no Porto, Lisboa e Viseu, num regime de cocriação entre os participantes e um coreógrafo local, com o acompanhamento do coreógrafo convidado em cada uma das edições.
Na primeira edição, em 2018, a convidada foi Clara Andermatt e a cidade anfitriã, o Porto. Em 2019, foi a vez de Viseu acolher o projeto, que teve como convidado Francisco Camacho. Este ano, a cidade anfitriã seria Lisboa.