Quando o tema é provérbios, “todos os caminhos vão dar a Tavira”. É assim há 15 anos e, sem fugir à regra, voltou a ser entre 6 e 13 de novembro de 2022. A cidade algarvia foi, novamente, palco do Colóquio Interdisciplinar sobre Provérbios, que anualmente reúne dezenas de estudiosos e entusiastas deste elemento oral da cultura popular.
Organizado pela Associação Internacional de Paremiologia, o colóquio reuniu participantes oriundos de 30 países para debater contextos, sentidos, interpretações e utilizações de provérbios populares. “Os provérbios têm sempre significados que refletem elementos históricos e tradicionais que importa compreender”, explica Rui Soares, professor aposentado e fundador da associação que concretiza este evento.
Todos os anos o antigo docente assume o papel de anfitrião do encontro onde convivem múltiplos idiomas. Assumidamente apaixonado por esta expressão da cultura popular, Rui Soares destaca a diversidade cultural que todos os anos chega a Tavira no contexto do colóquio proverbial, que já se tornou um cartão de visita do concelho. “É de facto algo único”, diz o fundador, cuja opinião foi frequentemente corroborada pela de outros investigadores e investigadoras ali presentes.


Maslina Ljubiêié, Marco Gusset, Kevin McKenna, Georgios Tserpes, Stepan Graski, Vayos Liapis, Naidea Nunes, Deborah Moore-Miggins, Devone Miggins e Luís Tosina estiveram entre os oradores de destaque no programa de comunicações apresentadas este ano. A reportagem do GERADOR “Provérbios e Preconceitos – A Discriminação que resiste na cultura popular”, também foi apresentada a convite da organização do colóquio, que sublinhou a importância de incluir participantes oriundos de diferentes áreas de atividade. “É assim que a 'família paremiológica' se ramifica”, referem Rui Soares e Outi Lauhakangas no texto que serve de apresentação à edição deste ano.
Mais do que apresentar o levantamento e catalogação de provérbios populares, neste evento procura-se debater a sua importância e explorar o papel que os mesmos desempenham no desenvolvimento social e cultural. O objetivo - que, aliás, está presente nas muitas atividades levadas a cabo pela associação - passa por dinamizar a paremiologia e trabalhar novas formas de aplicar conhecimentos em atividades de intervenção científica, cultural e social.


A Associação Internacional de Paremiologia (AIP-IAP) é reconhecida pela UNESCO como uma organização não governamental credenciada para "prestar serviços de consultoria na tradição oral" e, particularmente, os provérbios ao Comité do Património Cultural Imaterial. Além disso, o coletivo “dinamiza o Clube UNESCO de Paremiologia-Tavira, como uma democracia em miniatura, que visa desenvolver uma atividade livre e politicamente não filiada em busca dos objetivos e ideais da UNESCO e contribuir para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 2030 adotada por todas as Nações Unidas Estados-Membros em 2015”, conforme descrito pelo coletivo.
Este ano, a Câmara Municipal de Tavira, que apoia o evento, reconheceu o trabalho desenvolvido até aqui, com a atribuição da Medalha de Mérito Municipal, a 24 de junho. “Bem-haja aos organizadores do ICP22 e a todos os participantes, especialistas, que continuam a investigar e a dialogar sobre a riqueza ancestral desta ciência paremiológica, com a resiliência que lhes está inerente nestes 16 anos de trabalho. Quem mais sabe, mais aprende.”, escreve a presidente da autarquia, Ana Paula Martins, no prefácio da publicação do evento.
Durante os sete dias de colóquio houve espaço para debater provérbios, culturas e utilizações, em paralelo com o convívio e partilha que os participantes elogiam. Para o ano, ficou a promessa de novas reflexões e a garantia de que "quem corre por gosto, não cansa".
O Gerador participou no colóquio a convite da Associação Internacional de Paremiologia.