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Entrevista a João Gonzalez: “Até agora, ambas as minhas curtas acabaram por ser indiretamente um pouco autobiográficas”

É no próximo dia 16 de novembro, sábado, que João Gonzalez vai apresentar, no festival…

Texto de Gabriel Ribeiro

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É no próximo dia 16 de novembro, sábado, que João Gonzalez vai apresentar, no festival CINANIMA, em Espinho, a curta-metragem Nestor, uma obra de animação que se tem destacado no campo artístico. O artista, de 23 anos e natural do Porto, estuda Animação na Royal College of Art, em Londres. Começou a tocar piano aos 4 anos, mas largou o instrumento entre os 13 e os 17, algo que considera “um percurso artístico um pouco estranho”.

Mais tarde, ingressou numa licenciatura de artes multimédia na ESMAD, o que lhe “reativou o gosto tanto pelo desenho e ilustração, mas também pela música”. No último ano da licenciatura, realizou a sua primeira curta, intitulada The Voyager, em que compôs também a banda sonora.

Para o futuro, já há mais uma criação em vista. Para já, apresenta Nestor cá dentro, mas já tem estreia marcada no Reino Unido, dia 6 de dezembro, no London International Animation Festival. O trailer pode ser visto aqui.

Cartaz da curta Nestor

Gerador (G.) – A tua segunda curta-metragem, Nestor, está prestes a estrear. Sobre o que é que fala esta criação?

João Gonzalez (J. G.) – A minha segunda curta-metragem, Nestor, irá estrear em Portugal dia 16 de novembro, às 15h30, no CINANIMA, em Espinho, na competição nacional António Gaio. Já́ tem também estreia internacional marcada para o LIAF (London International Animation Festival) pouco tempo depois, dia 6 de dezembro, no Reino Unido. Esta curta foi o resultado de projeto final do meu primeiro ano de mestrado em Animação na Royal College of Art. Encontro-me de momento em pré-produção para a minha curta de segundo ano (Graduation Film).

Mas, voltando atrás, Nestoré uma curta-metragem de animação sobre um homem, o Nestor, que sofre de uma série de comportamentos obsessivo-compulsivos relacionados principalmente com o posicionamento específico dos seus objetos e mobília no seu barco, e que, para seu azar, vive num barco-casa alto e instável, que nunca para de oscilar para os lados, desarrumando constantemente os objetos e mobília que Nestor obsessivamente tenta manter nos sítios corretos.

G. – Porquê o nome Nestor?

J. G. – Puramente estético. Lembro-me de ter achado que o nome Nestor adequava-se ao aspeto físico e personalidade da personagem, ao ponto de não o imaginar com outro. Não há́ nenhuma razão concetual profunda por detrás da escolha deste nome.

G. – O Nestor vive num barco instável que nunca para de oscilar. Isto é uma metáfora para alguma coisa? O que significa?

J. G. – Nestor é uma personagem que de certa forma vive no seu próprio “pesadelo”, visto que a instabilidade literal e oscilação constante do seu barco se traduzem numa instabilidade psicológica e ansiedade constante no seu dia a dia. É, de facto, criada uma metáfora entre o fluxo e oscilação do mar com a instabilidade e caos da nossa realidade, embora não seja muito importante para a narrativa da curta.

G. – Inspiraste-te em alguém ou alguma coisa para produzir esta curta?

J. G. – À semelhança da minha primeira curta, que também cobria um distúrbio psicológico (nesse caso agorafobia), o Nestor tem algo de autobiográfico, uma vez que recria algumas vivências pessoais. Embora o conceito e o argumento sejam algo criado de raiz, tanto em Nestorcomo em The Voyager, posso dizer que, até agora, ambas as minhas curtas acabaram por ser indiretamente um pouco autobiográficas, no que toca ao desenvolvimento dos protagonistas.

G. – Já́ a tua primeira curta-metragem de animação The Voyager, lançada em 2017, foi muita reconhecida e arrecadou 11 prémios em festivais nacionais e internacionais de cinema. O que é que isto significa para ti?

J. G. – Como disse anteriormente, não estava de todo à espera da receção que o filme teve por parte de festivais de cinema, especialmente fora de Portugal. Os prémios foram obviamente um incentivo para continuar a explorar este meio artístico. No entanto, fiquei especialmente contente por ter tido a oportunidade de apresentar este projeto no seu formato original com performanceao vivo em piano no estrangeiro, por exemplo, em festivais na Noruega e na Áustria, dos 43 por onde passou. Digo isto porque, estando ciente de que grande parte dos festivais não estariam dispostos a reunir condições para a realização de umaperformance ao vivo em piano de uma curta de apenas cinco minutos de duração realizada por um estudante, decidi fazer também uma versão da curta já́ com a peça para piano previamente gravada em minha casa, para além da sonoplastia presente em ambas as versões. Foi esta a versão da curta que foi exibida na maior parte de festivais, por questões de logística. Foram, portanto, muito gratificantes as vezes em que pude viajar com a curta e apresentá-la da forma como tinha sido idealizada desde o início.

G. – Tu tens a função de realizador, ilustrador, animador e compositor. Achas que isso te permite entrar na obra de uma maneira diferente?

J. G. – Cada um tem uma abordagem e forma diferente de entrar nas suas obras. Creio que a minha se possa destacar por um envolvimento musical bastante presente desde o início da produção, ao mesmo tempo que estou a desenhar/criar as personagens e espaço onde se vai passar a curta. No caso do The Voyager, compus, inclusive, a banda sonora ainda antes de ter feito qualquer teste visual da mesma, mas já com a narrativa e estrutura da curta em mente, o que me permitiu compor e dividir a peça nas suas partes fulcrais de forma correta já desde o início. No caso do Nestor, embora já tivesse uma ideia do que é que a música deveria ser desde o início, tive de esperar para voltar a Portugal para a poder gravar, visto que, desta vez, compus para violoncelo e necessitava de um violoncelista que a pudesse interpretar. Fico muito contente por ter tido a participação do violoncelista Miguel Teixeira neste projeto. É também muito importante referir o incrível trabalho que o Sound Designer Ed Rousseau fez na minha curta, estudante da prestigiada National Film and Television School, onde o vencedor de quatro Oscars Nick Park estudou e criou os famosos Wallace and Gromit, que teve a amabilidade de fazer o soundmixfinal do filme nos próprios estúdios de topo da sua faculdade, o que elevou bastante o nível da curta.

G. – Que função têm as cores e a música/sons nesta curta?

J. G. – Eu perco sempre bastante tempo na parte de pré-produção, na escolha de cores dos meus trabalhos. Neste caso, o objetivo era criar uma paleta cromática que não transmitisse demasiada vivacidade, visto que o mundo onde o nestor vive é suposto ser bastante neutro e algo insípido propositadamente, mas que ao mesmo tempo fosse chamativo e esteticamente agradável à vista. Durante as cenas noturnas do filme, a iluminação dos candeeiros do barco é vermelha, de forma a acentuar a vertente dramática do clímax da curta – que acontece numa dessas noites – quase como em sinal de perigo.

Quanto ao som e à música, decidi compor a banda sonora em violoncelo, num registo bastante mais experimental e abstrato do que fiz com The Voyager, por vezes até sobrepondo em pós-produção várias layersde gravações individuais que pedi ao violoncelista Miguel Teixeira para tocar, de forma a simular a ansiedade constante sentida pela personagem, assim como o caos que é a cabeça do Nestor.

G. – Como é que foi o processo criativo? Foi difícil chegar ao resultado final?

J. G. – A produção da curta começou sensivelmente em março deste ano. Foram entre três a quatro meses de trabalho muito intensos e constantes, chegando ao ponto de estar a trabalhar uma média de 10/11 horas diárias, principalmente durante os dois últimos meses de produção. O primeiro mês centrou-se unicamente na conceção da narrativa, storyboarde personagem, que foi sofrendo bastantes alterações até chegar ao resultado final. Foi, de facto, um desafio bastante grande realizar e animar uma curta-metragem de animação num espaço de tempo tão reduzido, daí ter optado por aprimorá-la durante o verão, fazendo uma série de ajustes que, a meu ver, melhoraram substancialmente a sua qualidade.

G. – Já há ideias para uma próxima obra?

J. G. – Como disse antes, encontro-me agora mesmo em fase de pré-produção da minha curta de segundo ano de mestrado na Royal College of Art (o projeto final). Ainda não quero falar sobre o tema da mesma, até porque provavelmente irá sofrer bastantes alterações durante os próximos meses, tendo em conta o meu processo de trabalho habitual. No entanto, estou especialmente contente por ter ao meu dispor mais do dobro do tempo de conceção que nos é dado no nosso primeiro ano.

Cartaz da curta The Voyager

Entrevista por Gabriel Ribeiro
Fotografia de João Gonzalez

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