O ano de 2020 será, inevitavelmente, recordado como um ano de viragem para o digital. Se o “novo normal” passou a incluir doses acrescidas de iniciativas virtuais, no mundo da dança não houve exceção. Mas será que esta é uma tendência que irá ditar o futuro da dança? Se a primeira lição que trazemos para este novo ano é a de que nada substitui a sensação de estar em estúdio ou a de pisar um palco, há ainda uma outra que devemos reter: a comunidade da dança foi capaz de ultrapassar os desafios deste ano, repensando o movimento para o virtual e aproximando-se de novos públicos. Entramos num novo ano ainda com poucas certezas sobre o que este nos irá trazer em termos de possibilidades e impossibilidades. Mas podemos olhar para um futuro que combine o melhor dos dois mundos, onde o físico e digital se complementam.
Foi esta vontade de combinar a prática física com ferramentas digitais que levou Vanessa Canto a criar a plataforma MOOT – The Movement Lab, ainda antes das circunstâncias da pandemia ditarem a necessidade de migrar para o digital. Porém, Vanessa há muito que sentia a necessidade de um universo híbrido capaz de prolongar a relação entre bailarino e professor, melhorando a qualidade de treino. Estávamos no ano de 2018 e tínhamos a certeza de que nada poderia substituir a sensação de estar numa aula de dança cheia de gente. Mas era possível complementar essa experiência, sobretudo porque, após viagens para participar em workshops ou residências, os bailarinos não mantinham a relação com os formadores. Após as sessões, regressavam e nada mais acontecia. Também como professora, Vanessa deslocou-se a várias zonas periféricas do país, onde os alunos não tinham possibilidade de continuar a aprendizagem de dança no final dos workshops. Desafiada pelo seu amigo e atual sócio, Gustavo Neves Lima, decidiram criar uma plataforma capaz de dar ferramentas para os bailarinos praticarem em casa, enriquecendo a sua experiência presencial e melhorando a rotina de treinos.
Construída por e para bailarinos, a MOOT – The Movement Lab é um projeto que liga a dança à tecnologia e ao universo start-up. Atualmente, está sediada na UPTEC, no Porto, e na Terinov, na Ilha Terceira, de onde Vanessa é natural. Mas o seu alcance é internacional – por essa razão, os idiomas da plataforma são Inglês e Espanhol. E o que podemos esperar assim que clicamos no website da MOOT? Um espaço que repensa plataformas educativas ou de streaming, como o Coursera ou YouTube, para construir ferramentas digitais que vão ao encontro das especificidades da dança e das necessidades dos bailarinos. O utilizador pode aceder a diversos planos de treinos de vários bailarinos que fazem workshops regulares em todo o mundo e manter uma relação de aprendizagem e desenvolvimento: há a possibilidade de pedir feedback sobre o treino, de fazer upload de vídeos e de sentir um acompanhamento que vai além do movimento, com planos de fisioterapia e de nutrição.
Uma nova plataforma em fevereiro
É já durante o mês de fevereiro que poderemos aceder à nova plataforma que confirma a missão da MOOT em democratizar o acesso à prática e aprendizagem de dança. E, desta vez, não se limita apenas a bailarinos, mas a todos os entusiastas de movimento. Nos planos disponíveis, poderemos encontrar meditação, sessões para grávidas e para crianças. As aulas live focadas no bem-estar farão igualmente parte das novidades do projeto. No entanto, a grande surpresa foca-se na criação de mais ferramentas que ajudem a melhorar a performance dos bailarinos. Cada utilizador poderá ter a sua área pessoal e gerir o seu próprio desempenho, através métricas que partilhem quanto tempo é o que bailarino treinou e qual foi o foco desse treino. O auxílio ao desempenho pessoal será igualmente personalizado, com formulários e testes que permitam criar um diagnóstico de fisioterapia e nutrição que auxiliem os treinos.
O player dos vídeos terá também várias novidades. O bailarino poderá construir a sua timeline de treino, assistir aos vídeos por capítulos e deixar lá as suas notas. Para isso, a MOOT incluí uma maior diversidade de formatos que tornam a experiência mais eficiente e completa, recorrendo, além do vídeo, ao áudio e escrito, através de documentos e questionários.
Esta é, sem dúvida, uma das grandes ofertas existentes no digital que nos prova que o futuro da dança também pode ser digital, combinando potencialidades e complementando os dois mundos mutuamente. Nada substitui a partilha de estar em estúdio, mas a MOOT torna essa partilha em ferramentas de desenvolvimento profissional que beneficiam toda a comunidade global de bailarinos.