No Barómetro da Cultura deste ano, apresentamos um novo modelo de análise do consumo cultural que prometemos aprofundar em futuros relatórios, tendo em conta a importância dos apuramentos conseguidos. Como, em termos metodológicos, consideramos todos os consumos culturais para este estudo, independentemente do meio usado (sala de espetáculo, televisão ou internet, por exemplo) e da amplitude do custo, ou ausência dele, para o acesso às atividades culturais, então chegamos facilmente a percentagens muito elevadas de práticas culturais. Podemos afirmar, com segurança, que todos os inquiridos consumiram algum formato cultural nos 12 meses anteriores ao inquérito.
No entanto, sabemos que existem diferentes tipos de consumo e que, por exemplo, é efetivamente díspar ver um filme em casa porque está a dar na televisão ou deslocar-se de propósito a um cinema e comprar um bilhete para ver um filme. Assim, definimos duas variáveis essenciais para analisarmos as tais tipologias de consumo: a obrigação de deslocação e a existência de um custo de acesso. De uma forma genérica, estabelecemos que um consumo proativo de atividades culturais implica deslocação e/ou um custo de acesso, enquanto que um consumo reativo é determinado apenas pela prática de atividades culturais de acesso livre que não obrigam a uma deslocação. Portanto, usando o exemplo anterior, quem vê um filme em casa porque está a dar na televisão fez um consumo reativo, enquanto que quem se desloca para ir ao cinema fez um consumo proativo.
De uma forma concreta, através das variáveis disponíveis neste questionário, fizemos a melhor aproximação possível à definição genérica mencionada, usando estes critérios:
Consumo proativo
- Entrevistados que só respondem Salas de Cinema e/ou Serviços de Streaming na pergunta “Através de que meio(s) viu filmes no último ano?”
- Entrevistados que só respondem Salas de Teatro e/ou Sites de Salas de Teatro na pergunta “Através de que meio(s) assistiu a espetáculos de teatro no último ano?”
- Entrevistados que só respondem Presencialmente e/ou Sites de Entidades Culturais na pergunta “Através de que meio(s) viu concertos?”
- Entrevistados que só respondem Visitas Presenciais na pergunta “Essas visitas foram presenciais ou virtuais?”
Consumo reativo
- Entrevistados que só respondem Televisão e/ou Internet na pergunta “Através de que meio(s) viu filmes no último ano?”
- Entrevistados que só respondem Televisão e/ou Redes Sociais na pergunta “Através de que meio(s) assistiu a espetáculos de teatro no último ano?”
- Entrevistados que só respondem Televisão e/ou Redes Sociais na pergunta “Através de que meio(s) viu
- concertos?”
- Entrevistados que só respondem Visitas Virtuais na pergunta “Essas visitas foram presenciais ou virtuais?”
Temos consciência que existem limitações na definição destes critérios - consumir um espetáculo de teatro através de um site de uma sala de teatro pode ser gratuito ou fazer uma visita virtual a um museu pode ter um custo de acesso -, mas consideramos que é preferível experimentar esta análise, até pela afinidade dos resultados obtidos. Como referido vamos, seguramente, examinar este modelo em detalhe nos próximos anos, resultando em possíveis novas questões ou em adaptações de perguntas existentes.
No final do dia, com a aplicação deste tipo de análise, conseguimos, através de dois conceitos simples - consumo proativo e consumo reativo - descobrir quem tem mais predisposição para o consumo cultural.
47% dos inquiridos afirma ter feito consumos proativos, enquanto que 71% assinala que fez consumos reativos. A soma dos consumos é superior a 100% porque as questões referentes aos critérios utilizados têm resposta múltipla. Assim, chegamos a uma primeira conclusão significativa: menos de metade dos entrevistados se deslocou propositadamente para um ato de consumo cultural e/ou pagou para ter acesso a ele.
E como olham as pessoas com estes perfis para o papel da cultura nas suas vidas? Há uma diferença substancial na importância que dão à cultura, como se constata no gráfico seguinte.
A relevância que a cultura propícia para a vida de cada um destes perfis é, depois, materializada no próprio consumo cultural efectivo, como se nota na tabela abaixo. É evidente que os consumidores proativos têm um comportamento cultural muito mais significativo, com um nível de práticas culturais muito elevado em relação à média e mais ainda relativamente aos consumidores reativos, com excepção da visualização de filmes.
Quando questionamos os inquiridos sobre os espaços culturais concretamente visitados para participar em atividades culturais, também chegamos à conclusão que os consumidores proativos estão muito mais disponíveis, apresentando, em muitos casos, valores que representam o dobro dos apresentados pelos consumidores reativos.
Os primeiros são, ainda, quem menciona com maior expressão a necessidade de aumentar o Orçamento de Estado para a cultura já no próximo ano.
Segundo o último Orçamento de Estado, o estado português irá gastar 0,25% do seu orçamento anual em cultura. No próximo ano o estado português deveria investir:
Em função destes dados, podemos deduzir que os consumidores proativos podem ser considerados como o público primordial das atividades culturais. Serão, provavelmente, os pioneiros nas práticas culturais e os que maior informação sobre este setor procuram.
Por isso, é importante tentar conhecê-los em pormenor e monitorizar a sua evolução em anos vindouros, ao mesmo tempo que também é importante conhecermos o perfil dos consumidores reativos.
Quinzenalmente mergulhamos no Barómetro da Cultura para te trazermos novas análises sobre a relação da população de Portugal com a cultura.
O Barómetro da Cultura é um estudo anual que analisa a opinião dos portugueses sobre a cultura. Realizado pela primeira vez em 2019, o âmbito do questionário deste ano incidiu, principalmente, nas consequências da pandemia na sociedade e na cultura. Sabe mais sobre o relatório de 2022 aqui e pede o teu relatório completo aqui.
Síntese Ficha Técnica
O universo do estudo é constituído por indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos, residentes em Portugal Continental e Ilhas. A Amostra, com 1.200 entrevistas validadas, foi estratificada por região, sexo e escalão etário, em Portugal Continental, e por Ilhas, e distribuída em cada estrato de acordo com a repartição da população alvo em cada estrato. As entrevistas foram realizadas de 22 de março a 19 de abril de 2022, através de um questionário aplicado online utilizando o método CAWI (Computer Assisted Web Interview). Os resultados são apresentados com um nível de confiança de 95%. A margem de erro para a média na escala 1 a 10 é de 0,14 pontos e a margem de erro para a proporção é de 3,13 pontos percentuais.