Este ano, naquela que foi a quarta edição do Barómetro da Cultura, decidimos começar a estudar a importância do bem-estar, mental e físico, e a forma como este pode afetar as práticas culturais. Neste Barómetro ao Milímetro, mostramos como é bastante evidente que quem está mais motivado e mais feliz considera ter mais espaço para a cultura na sua vida do que quem não está.
Esta disponibilidade inicial, de apetência para a prática cultural, é extraordinariamente reveladora da consequência do bem-estar dos indivíduos para o efetivo consumo cultural. Assim, excluindo a visualização de filmes, que é praticamente omnipresente para todos os segmentos de análise, existe uma diferença substancial nas práticas culturais, em função da motivação e da felicidade.
Quem se sentiu mais motivado assistiu, em média, mais 41% a espetáculos de teatro do que quem se sentiu menos motivado. Amplitudes significativas verificam-se, também, na leitura de um livro (mais 17%), na assistência a um concerto (mais 28%) ou na visita a um museu ou património (mais 40%).
Quem se sentiu pouco motivado e mais infeliz também jantou fora mais raramente do que quem se sentiu motivado e feliz, tendo também ido menos frequentemente a bares ou discotecas. Simultaneamente, também frequentou menos espaços culturais: cerca de 80% das pessoas que nunca ou raramente se sentiram motivadas não foram, no último ano, a nenhum dos espaços mencionados no inquérito, em comparação com cerca de 60% das pessoas que ao longo do ano tiveram mais motivação.
Por outro lado, o cansaço físico não parece ter as mesmas consequências para o consumo cultural do que a disponibilidade mental. Os valores entre todos os segmentos são relativamente estáveis e próximos da opinião da população em geral. Apesar de não haver grandes variações no consumo, para quem está cansado a falta de tempo surge como razão mais crítica para não consumir mais cultura.
Por exemplo, quem se sente cansado devido ao trabalho parece ver filmes com tanta frequência como quem não se sente tão cansado. No entanto, este grupo também demonstra uma maior vontade de ver filmes com mais frequência do que aqueles que não se sentem tão cansados (75% vs 84%). Quando questionados acerca da razão para não verem mais filmes, 70% das pessoas que se sentiram cansadas todas as semanas ou sempre respondem que não o fazem devido à falta de tempo, enquanto que apenas 42% das pessoas que se sentiram menos cansadas escolheram essa opção.
O mesmo acontece para os espetáculos de teatro, em que apesar de ambos os grupos estarem equilibrados no que toca à vontade de poder assistir aos mesmos com mais frequência, os segmentos de pessoas que se sentiram mais cansadas, tanto devido à casa como devido ao trabalho, são aqueles para quem a falta de tempo surge como mais relevante. A frequência com que os inquiridos lêem também não parece ser influenciada pelo cansaço do trabalho. No entanto, quando questionados acerca das razões pelas quais não lêem mais, 55% dos indivíduos que afirmam sentir-se frequentemente cansados devido ao trabalho respondem que não o fazem por uma questão de falta de tempo, comparativamente com apenas 40% dos indivíduos que afirmam não se sentirem cansados. O mesmo acontece relativamente ao cansaço devido às tarefas domésticas. A falta de tempo é apontada por praticamente o dobro das pessoas que acusam cansaço como razão para não verem mais concertos, em comparação com as pessoas que não se sentiram tão cansadas ao longo do último ano.
É claro para nós que estes são assuntos sensíveis e, dado que esta é a primeira tentativa de abordar este tema, procuraremos melhorar e incorporar todas as aprendizagens em questionários e explorações futuras.
Quinzenalmente mergulhamos no Barómetro da Cultura para te trazermos novas análises sobre a relação da população de Portugal com a cultura.
O Barómetro da Cultura é um estudo anual que analisa a opinião dos portugueses sobre a cultura. Realizado pela primeira vez em 2019, o âmbito do questionário deste ano incidiu, principalmente, nas consequências da pandemia na sociedade e na cultura. Sabe mais sobre o relatório de 2022 aqui e pede o teu relatório completo aqui.
Síntese Ficha Técnica
O universo do estudo é constituído por indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos, residentes em Portugal Continental e Ilhas. A Amostra, com 1.200 entrevistas validadas, foi estratificada por região, sexo e escalão etário, em Portugal Continental, e por Ilhas, e distribuída em cada estrato de acordo com a repartição da população alvo em cada estrato. As entrevistas foram realizadas de 22 de março a 19 de abril de 2022, através de um questionário aplicado online utilizando o método CAWI (Computer Assisted Web Interview). Os resultados são apresentados com um nível de confiança de 95%. A margem de erro para a média na escala 1 a 10 é de 0,14 pontos e a margem de erro para a proporção é de 3,13 pontos percentuais.