No Barómetro ao Milímetro deste mês, iremos debruçar-nos sobre a existência de oferta cultural, que pode envolver, por um lado, equipamentos culturais, como salas de espetáculo, livrarias, salas de cinema, museus, galerias, espaços expositivos, centros culturais, espaços privados dedicados à cultura e criatividade, e por outro, atividades culturais, como concertos, espetáculos de teatro, artes de rua, exposições, leituras públicas, performances, entre outros.
Esta é, também, uma dimensão que tencionamos aprofundar em análises futuras, nomeadamente através do Barómetro da Cultura 2023, mas também da recolha de informação efetiva, num desejado mapeamento de espaços e iniciativas culturais pelo país.
No questionário de 2021 fizemos uma pergunta sobre a satisfação com a oferta e espaços culturais na área de residência dos entrevistados. Analisando a diferença entre quem respondeu estar satisfeito e quem afirmou insatisfação, concluímos que existem duas regiões que se destacam pela oferta disponível, duas outras apresentam dados tímidos positivos e, por fim, duas regiões que apresentam mais respostas negativas que positivas, com o caso muito significativo do Litoral Centro.
No entanto, apesar das diferenças extremas entre a perceção da disponibilidade da oferta cultural entre regiões, isso não se traduz, de forma automática, na apetência pelas práticas culturais, como se pode ver pelo gráfico abaixo, em que o Litoral Norte baixa para a terceira posição, o Grande Porto sobe do quarto para o primeiro lugar e o Interior Norte afirma-se como a região com menos apetência pela cultura.
Para tentarmos compreender as diferentes avaliações que cada região faz da apetência e satisfação cultural, fomos comparar estes vetores com a escolaridade média em cada região, sabendo da importância determinante desta característica para o consumo cultural.
Esta análise permite-nos concluir que existe uma enorme volatilidade na forma como as pessoas se relacionam com a cultura em cada região e a crítica que fazem à oferta cultural.
Tirando na Grande Lisboa, parece existir uma lógica em que as regiões com maior escolaridade são mais exigentes na oferta cultural (Grande Porto e Litoral Centro), enquanto que as regiões com menor escolaridade apresentam níveis de satisfação cultural mais elevados (Litoral Norte e Interior Norte).
Estes são os perfis específicos por região:
A Grande Lisboa é a zona com maior escolaridade, com uma enorme apetência cultural e uma satisfação significativa com a oferta cultural, eventualmente revelador de ser o local em Portugal onde existe uma disponibilidade cultural mais elevada.
O Grande Porto é uma região com um nível de escolaridade médio no quadril superior, é a que tem maior apetência cultural, mas avalia a satisfação com a oferta de uma forma praticamente neutra, com apenas cerca de 50% das pessoas a revelarem-se satisfeitas. Noutros dados ao longo do estudo, é possível apontar no sentido dos portuenses identificarem um desejo de aumento de equipamentos culturais.
O Litoral Centro tem um nível educacional relevante, mas os entrevistados referem pouca apetência cultural e são, claramente, a região mais insatisfeita com a oferta.
A região Litoral Norte tem um comportamento em escada na tabela anterior, sendo uma das duas zonas nacionais com menores níveis de escolaridade, passando para uma apetência cultural interessante e apresentando-se como a região com maior satisfação na oferta cultural. Curiosamente, analisando as percentagens das pessoas que responderam em cada um dos critérios, conclui-se que os valores são muito equivalentes (entre 62% e 65%).
O Interior Norte exibe uma apetência cultural similar, quer em termos de posição, quer em termos de valores, com a escolaridade.
A satisfação da oferta cultural é bastante mais elevada em relação à sua posição entre regiões, mas apresenta percentagens de resposta semelhantes à escolaridade e apetência (entre 54% e 56%).
A zona definida como Sul e Ilhas apresenta alguma estabilidade, encontrando-se em posições semelhantes no que diz respeito à escolaridade, apetência cultural e satisfação com a oferta cultural.
Na recolha de dados que fizemos para o Barómetro da Cultura de 2023, aprofundámos esta e outras questões, o que nos permitirá publicar, muito em breve, análises mais concretas e aprimoradas.
O Barómetro da Cultura é um estudo anual que analisa a opinião dos portugueses sobre a cultura. Realizado pela primeira vez em 2019, o âmbito do questionário deste ano incidiu, principalmente, nas consequências da pandemia na sociedade e na cultura. Sabe mais sobre o relatório de 2022 aqui e pede o teu relatório completo aqui.
Síntese Ficha Técnica
O universo do estudo é constituído por indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos, residentes em Portugal Continental e Ilhas. A Amostra, com 1.200 entrevistas validadas, foi estratificada por região, sexo e escalão etário, em Portugal Continental, e por Ilhas, e distribuída em cada estrato de acordo com a repartição da população alvo em cada estrato. As entrevistas foram realizadas de 22 de março a 19 de abril de 2022, através de um questionário aplicado online utilizando o método CAWI (Computer Assisted Web Interview). Os resultados são apresentados com um nível de confiança de 95%. A margem de erro para a média na escala 1 a 10 é de 0,14 pontos e a margem de erro para a proporção é de 3,13 pontos percentuais.