Tenho a certeza de que guardava um bolsinho, bem junto a mim, onde costumava guardar a minha paciência. Não era hábito andar com ele cheio, mas de todas as vezes que precisava de o usar, lembro-me de que era de grande utilidade.
Outro dia, tentei alcançá-lo e não o encontrei. Revirei os outros bolsos das utilidades; o dos trocos para o café, o dos pacotes de lenços e os das máscaras cirúrgicas mas em cada tentativa, só houve falha. Restou-me aguentar, com bastante dificuldade, mais um convívio a ouvir expressões em inglês, em Portugal, entre pessoas portuguesas. Não tenho paciência.
Em algum momento da história, houve um dia em que um António ou uma Maria decidiu utilizar uma expressão em inglês para caracterizar uma outra qualquer situação da vida portuguesa.
Digo com toda a certeza que o terá feito não para desrespeitar ou desvalorizar a língua portuguesa, mas sim porque lhe terá soado mais fácil encontrar significado na expressão inglesa. Até porque crescemos a ouvir a língua e estamos bastante familiarizados com a sua cultura.
Põe-se a questão: Porque razão estaremos nós - ou alguns de nós - mais à vontade com o uso de palavras inglesas do que com o uso de palavras portuguesas? A língua portuguesa é tão bonita.
Talvez esta tamanha familiaridade com tudo o que é inglês se tenha desenvolvido de forma tão natural que já acreditamos ser normal o seu uso no nosso dia-a-dia. E não haveria mal algum no uso de outras palavras e de outras expressões noutras línguas, se o amor e o conhecimento pelo português tivesse volume.
A grande maioria da população não lê nem tem interesse em descobrir novos autores. Acha os livros aborrecidos e utiliza ferramentas de correção linguística para não ter que “perder tempo” a rever o que escreve. Declaro a preguiça o modo mais adotado no que diz respeito a comunicar com o outro.
Deixámos de ler e, consequentemente, perdemos a capacidade de saber gerar palavras e expressões em português que deem significado aquilo que queremos dizer. É mais provável ver o típico português, jovem ou não jovem, a fazer uso das expressões que ouve em séries ou em filmes, do que a ginasticar o cérebro e falar em português.
Afastamo-nos cada vez mais da língua portuguesa e emprestamos o seu lugar ao que é estrangeiro. Gostava que pelo menos o dividíssemos.
Um dia vem um qualquer de fora querer aprender a nossa língua e, quando for hora de comunicarmos, ele saberá mais sobre ela do que nós. Desconfio que seja nesse dia que os portugueses correrão a fazer fila nas livrarias.