A beleza do mistério do belo está justamente no intangível, no inefável, e sobre isso não há o que determinar: o belo é sempre um mistério que está e ao mesmo tempo não está presente.
A beleza é uma experiência, é um processo cognitivo, mental ou espiritual. As formas de beleza são inúmeras, diferentes e únicas para cada pessoa fortemente determinadas pela cultura e pelo contexto histórico e pessoal de cada uma. Contudo, o importante é permitirmo-nos viver sensações que nos transmitam algo.
A perceção do belo é individual e única. Sendo assim, de uma coisa, sim, podemos ter alguma certeza: usamos sempre a nossa noção de belo como ponto de partida para qualquer coisa na nossa vida, seja ela uma relação amorosa ou uma criação artística.
O belo nunca será um critério, por si só, para se sentir uma obra de arte, ouvir uma música, observar a vida. O prazer do belo está associado ao nosso estado de espírito.
Educa-se para o belo?
Educa-se para incentivar que as escolas, por exemplo, sejam um espaço das múltiplas manifestações da beleza que há no mundo e do belo que há em nós, ou pelo menos assim deveria ser.
Educa-se para que cada criança veja, sinta e queira transmitir essa beleza que vê e sente; a beleza que transporta.
Na perspetiva pedagógica freiriana, a educação é uma obra de arte. É nesse sentido que o/a educador/a é também artista, uma vez que, tal como afirma Paulo Freire, «refaz o mundo, redesenha o mundo, repinta o mundo, recanta o mundo, redança o mundo».
Nas escolas encontramos o belo, convivemos com a beleza, através das crianças. As crianças são sensíveis à beleza desde cedo, porque são inocentes. O crescimento, no entanto, vem acompanhado de juízos e valores externos que vão, possivelmente, transformando a beleza que sentem, vivem e olham. A verdadeira beleza é inocente.
A beleza transforma-nos alterando o nosso relacionamento com o outro, fazendo também com que sejamos sensíveis às suas alegrias, tristezas e dificuldades. Tornando-nos sensíveis ao outro, somos impelidos a ajudá-lo, a contribuir para a sua felicidade e, consequentemente, melhoramos a nossa convivência em sociedade.
A exposição às diferentes formas de beleza na infância pode ter um impacto positivo no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças. Através da apreciação da arte, da música, da natureza e de outras formas de expressão, as crianças podem desenvolver a sua sensibilidade estética, estimular a imaginação, a criatividade e a capacidade de expressão.
A educação para o belo também ajuda as crianças a desenvolver capacidades de observação, concentração e interpretação. Ao observar e refletir sobre obras de arte, por exemplo, as crianças aprendem a perceber detalhes, a expressar opiniões e a desenvolver um sentido crítico. Também promove valores como o respeito, a tolerância, a empatia e a valorização da diversidade. Ao entrar em contato com diferentes formas de expressão artística e cultural, as crianças aprendem a apreciar e respeitar as diferentes perspetivas e visões de mundo. Sobretudo faz com que as crianças possam alargar os seus horizontes e criar novas perspetivas.
Sendo assim, é importante proporcionar às crianças experiências estéticas enriquecedoras, seja através da exposição a diferentes formas de arte, da prática artística ou do contacto com a natureza, para que possam desenvolver a sua sensibilidade estética, criatividade e apreciação pelas manifestações de beleza ao longo da sua vida.
Será o belo o ideal da perfeição?
Muitas das nossas aspirações passam pelo conceito de perfeição. Ora, a vida é imperfeita. As nossas aspirações encerram, em si mesmas, todas essas imperfeições e ambiguidades da vida.
O discurso sobre a beleza e o julgamento de valor dentro de nós e da sociedade contemporânea é permeável a todas as influências. É líquido e instável; é permanente e passageiro; é abstrato e concreto; é organizado e desorganizado; é direto e indireto. Tudo isto faz do belo um mistério.
- Sobre Ariana Furtado -
Ariana é Cabo-verdiana, cresceu em Portugal, e é professora do 1.º Ciclo e coordenadora da Escola Básica do Castelo, em Lisboa.
Co-autora de projetos como "Com a mala na mão contra a discriminação" ou "Ge(ne)rando polémica... ou antes pelo contrário". É também tradutora de vários livros infantis.