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Preliminares: Superpoderes da menopausa

Na Revista Gerador 42, na crónica Preliminares, que agora partilhamos contigo, Marta Crawford destaca a importância de desafiar estereótipos em torno da menopausa, enfatizando que é uma fase que oferece liberdade da menstruação, e compartilha a perspetiva singular de encarar os afrontamentos como “superpoderes” divertidos. Além disso, Marta destaca ainda que os maiores desafios da menopausa derivam, por vezes, de preconceitos, e que a capacidade de amar e desfrutar da sexualidade persiste além da fase reprodutiva.

Texto de Redação

©Diana Mendes

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Quando era adolescente, lembro-me de que se falava da menopausa como algo que encerrava o ciclo útil da vida da mulher. Ela, a mulher, deixava de ter a possibilidade de gerar vidas, logo, a função para a qual estava destinada, estava concluída. Era quase tão mau, como perder a virgindade antes do tempo «certo». Ambas as situações lançavam a mulher para um lugar indesejável.

Se a virgindade dava estatuto à mulher, por outro lado, o casamento e a fertilidade permitiam à mulher recuperar da perda de virgindade, pondo-a de novo num patamar de aceitabilidade.

Estas ideia obsoletas, ainda vingam em alguns meios e em muitas partes do mundo, e é com um amargo de boca que oiço ainda comentários depreciativos em relação às mulheres que se iniciaram sexualmente sem ser no enquadramento conjugal, que já tiveram vários parceiros/as, que fazem sexo ocasional, que não pretendem casar ou ter filhos, renegando assim ao seu «dom divino». E, claro, porque chegaram à menopausa e já não podem procriar.

Estas considerações são ignóbeis, e falando especificamente da menopausa, é importante desconstruir a ideia de que a menopausa é o fim do esplendor feminino e entender que apenas a capacidade reprodutiva cessa. Aliás, não ter de pensar em pensos e tampões de forma cíclica ou na possibilidade de engravidar é uma vantagem extraordinária para a libertação feminina.

Felizmente, nas redes sociais começam a aparecer mulheres maduras e cheias de charme, com os seus lindos cabelos brancos e, a nível global, o empoderamento da mulher madura está na moda, o que faz todo o sentido, já que a esperança média de vida aumentou.

A menopausa pode surgir de forma natural (em média a partir dos 50 anos ou de forma abrupta (derivadas de tratamentos oncológicos, por exemplo). Após 12 meses sem período menstrual, considera-se que a mulher entrou na menopausa. Antes de a menstruação cessar completamente, ocorre uma série de alterações ao ciclo menstrual. Em algumas mulheres, o intervalo entre as menstruações vai diminuindo, enquanto noutras aumenta de frequência. Paralelamente, o fluxo de sangue também pode sofrer alterações, diminuindo significativamente, ou surgindo com hemorragias inesperadas. Este período de transformações é chamado climatério, mas é geralmente denominado como menopausa. Na verdade, a menopausa é apenas a interrupção da menstruação, que ocorre no final do climatério.

A mulher poderá experimentar uma série de sintomas ou de transformações físicas e psicológicas, mas a menopausa atua sobre cada mulher de uma forma distinta, o que quer dizer que nem todas as mulheres sentem o mesmo, nem com a mesma intensidade.

Algumas sentem uma série de transformações incómodas e angustiantes, outras passam por esta fase tranquilamente.

Destaco os afrontamentos, ou calores súbitos* – que são ondas de calor que aparecem repentinamente. É um sintoma típico da menopausa, ocorrendo na maior parte das mulheres. Inicialmente, a pele do rosto, do pescoço e do peito fica avermelhada e há uma profunda sensação de calor e transpiração, o que, por vezes, deixa a mulher muito desconfortável. Ocorrem com frequência durante a noite de forma intensa, interferindo com o sono, não sendo sentidos com tanta intensidade em ambientes frescos. Esta é uma das razões principais que leva a mulher a recorrer à ajuda medicamentosa.

No meu caso, estes acessos de calor podem surgir a qualquer momento, são incómodos, mas ao mesmo tempo acho-os divertidos. Comecei a pensar neles de uma forma carinhosa, como se tivesse um superpoder. Um poder que me aquece o corpo repentinamente e que, depois, volta à temperatura anterior, como uma heroína da Marvel. Às vezes, penso que podia estrelar um ovo no meu peito, talvez até pipocas, e esse pensamento surrealista deixa-me bem-disposta. Pode parecer ridículo, mas cada pessoa deve encontrar as suas próprias ferramentas para lidar com sintomas adversos, quer nesta situação, quer noutras ao longo da vida.

No entanto, diria que os efeitos mais adversos da menopausa são os preconceitos.

O facto de uma mulher entrar neste período, considerado como o fim da capacidade reprodutiva, não quer dizer que isso represente o fim da sua capacidade de se apaixonar, de amar, de desejar e de ser desejada, de querer, de fazer e de viver a sua sexualidade com muito prazer.

A sexualidade da mulher vai depender muito da forma como ela se sente relativamente ao seu corpo, à sua autoestima, ao seu bem-estar, à qualidade da sua relação afetiva/sexual e até ao seu lado espiritual. Dependerá também da forma como ela se relaciona com os sintomas, e subsequentes modificações físicas e psicológicas decorrentes da quebra hormonal decorrentes da menopausa.

Na verdade, uma mulher na menopausa é uma mulher muito conhecedora dos seus limites, das suas necessidades e, geralmente, com enorme maturidade sexual e afetiva, e, por vezes, são os preconceitos interiorizados que a impedem de sentir desejo sexual e ter uma vida sexual ativa e satisfatória.

* Lista de eventuais sintomas da menopausa (cont.)
- Alteração do humor.
- Estados de ansiedade, de depressão e de irritabilidade.
- Diminuição da sensibilidade ao toque e à vibração, devido à baixa de estradiol que reduz a transmissão dos impulsos nervosos.
- Dificuldade em excitar-se, devido à diminuição do afluxo sanguíneo aos genitais.
- Atrofia celular na região genital, reduzindo a espessura da mucosa vaginal e da uretra, o que pode causar dor durante a penetração.
- Aumento de problemas urinários, como infeções urinárias ou incontinência urinária, devido à diminuição dos estrogénios.
- Diminuição da lubrificação durante a excitação sexual, o que pode provocar secura e dor durante o coito.
- Diminuição da libido.
- Dispareunia.
- Dores durante a relação sexual, porque as paredes vaginais ficam mais finas, menos lubrificadas e menos elásticas.
- Incontinência urinária de esforço.
- Queda de cabelo.
- Taquicardia repentina (o coração bate muito depressa).
- Lapsos de memória.
- Osteoporose que pode começar nesta fase.
-Sobre a Marta Crawford-

É psicóloga, sexóloga e terapeuta familiar. Apresentou programas televisivos como o AB Sexo e 100Tabus. Escreveu crónicas e publicou os livros: Sexo sem TabusViver o Sexo com Prazer e Diário sexual e conjugal de um casal. Criou o MUSEX — Museu Pedagógico do Sexo — e é autora da crónica «Preliminares» na Revista Gerador.

Texto de Marta Crawford
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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