“Foi absolutamente incompreensível e uma grande desilusão, quando a esquerda veio falar comigo a anunciar que tinham desistido do voto de condenação às palavras que aquele deputado de extrema-direita proferiu." Quem o diz é Joacine Katar Moreira, historiadora e ex-deputada da Assembleia da República, sobre aquela que foi uma das grandes desilusões que teve enquanto membro do parlamento.
Em 2020, André Ventura, na altura, deputado único do Chega, propôs que fosse “devolvida ao seu país de origem”, após Joacine Katar Moreira ter apresentado, no Parlamento, as propostas de descolonização da cultura e de restituição de obras coloniais. O voto de condenação, anunciado por vários partidos, àquelas palavras, acabou por cair, com a justificação de não quererem “amplificar” aquele discurso. "As coisas têm um início", sublinha, comentando o crescimento da extrema direita em Portugal.
Cerca de quatro anos depois, não só a discussão em torno do que é liberdade de expressão e do que a distingue de discurso de ódio, como o assunto das reparações históricas voltou à agenda mediática, após as declarações do Presidente da República, em vésperas dos 50 anos do 25 de Abril.
Nesta Entrevista Central, ouvimos a opinião de Joacine Katar Moreira sobre estas matérias, e falamos também do Anastácia – Centro de Estudos e Intervenção Decolonial, que a historiadora agora preside, e que pretende ser "um espaço de oxigénio para investigadores, pesquisadores, ativistas e artistas" que queiram expor e discutir o trabalho que desenvolvem "sem as amarras e as condicionantes que a academia", segundo diz, "exige constantemente."
Episódio também disponível aqui.
Historiadora e política, Joacine Katar Moreira é PhD em Estudos Africanos. Foi deputada na Assembleia da República, entre 2019 e 2022 – primeiro enquanto deputada eleita pelo Livre e, após desfiliar-se do partido, como deputada não inscrita. É agora presidenta do Anastácia – Centro de Estudos e Intervenção Decolonial, uma entidade que pretende desenvolver e fomentar pensamento, pesquisas e práticas orientadas por pressupostos decoloniais e contra-coloniais.