fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Jornada Mundial da Juventude expõe caminho que Igreja ainda tem a percorrer na aceitação das pessoas LGBTQIA+

Pedro Carreira fala-nos sobre a Jornada Mundial da Juventude em Portugal e os desafios que a Igreja enfrenta em relação à comunidade LGBTQIA+, destacando incidentes de discriminação e a necessidade de uma postura mais inclusiva e progressista por parte da instituição religiosa.

©Anonymousjames via Unsplash

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

A Jornada Mundial da Juventude dificilmente estaria longe de discussão e polémicas nestes dias, afinal de contas é o assunto do momento em Portugal. Entre a polémica orçamental e a sensação de que foi tudo feito à pressa, surgem nestes dias episódios que expõem o caminho que a Igreja ainda tem por fazer. E por ele passa também a sua comunidade LGBTQIA+.

Sobre o seu real empenho em relação ao reconhecimento e apoio às mais de 4.800 vítimas de abuso sexual na instituição, a Igreja anunciou um memorial que seria apresentado na Jornada Mundial da Juventude. Quatro meses passados, o projeto foi adiado. Eis que a sociedade civil procura colmatar esta ausência ao criar três cartazes que recordam e homenageiam as vítimas, para que um deles seja retirado no mesmo dia que foi colocado por ter sido considerado publicidade ilegal. A promiscuidade entre os poderes políticos e a Igreja tem aqui mais um exemplo e com responsabilidades para ambas as partes. Felizmente, após pressão, o cartaz foi novamente erguido num outro local.

O Papa Francisco encontrou-se com 13 vítimas dos abusos sexuais que, segundo o próprio, “desfiguram o rosto” da Igreja no primeiro dia da sua visita a Portugal. E se o gesto pareceu ser prioritário e tomado com o devido cuidado, protegendo a privacidade das pessoas, a verdade é que as suas palavras de reconhecimento e de apoio parecem não ter sido suficientes para se fazerem ouvir por quem está presente na Jornada. Logo no dia seguinte e em direto na televisão, um jovem falava sobre os abusos sexuais e em como “são as crianças que, se calhar, se metem a jeito“. Se calhar não. Se calhar as vítimas, e estamos aqui a falar essencialmente de crianças e jovens, não se metem a jeito. Este é um exemplo da importância da Educação Sexual nas escolas e de entender o real significado de consentimento. É este o trabalho do Estado, mas também o da Igreja.

Jornada Mundial da Juventude não acolhe ainda a população católica LGBTQIA+

Talvez este possa ser visto como um exemplo infeliz, afinal de contas são milhares e milhares de jovens, é expectável que haja alguém que diz algo menos feliz, mas a verdade é que este caso está longe de ser isolado. Apesar das mensagens de apoio e empatia por parte do Papa, a Jornada Mundial da Juventude está longe de acolher a sua população católica LGBTQIA+.

Uma pessoa trans levou a sua bandeira para a jornada – entre centenas de outras bandeiras espalhadas pelo recinto – e acabou confrontada por um grupo de pessoas peregrinas. Estas exigiram que baixasse a bandeira trans, alegando que não era o local adequado e que a bandeira representava uma ideologia. A resposta foi que tinha o direito de ali estar e que deus ama toda a gente.

Também responsáveis pelo Centro Arco-Íris, um centro de acolhimento e acompanhamento de jovens LGBTQIA+ durante a Jornada Mundial da Juventude, sofreram insultos. “Temos ouvido bastantes comentários desagradáveis e não estávamos à espera“, disseram. O Centro não está diretamente ligado à Jornada, mas cobre um papel que começa a ganhar destaque dentro da instituição. Este é “um espaço de acolhimento, conhecimento, partilha, reflexão e sensibilização acerca da relação entre a comunidade LGBTQIA+ e a Igreja Católica durante a Jornada Mundial da Juventude.”

Invasão de eucaristia organizada por pessoas católicas LGBTQIA+ com “oração reparadora”

Apesar da postura de inclusão e de trazer questões sobre a aceitação da Igreja perante crentes LGBTQIA+, o Centro Arco-Íris viu invadida uma eucaristia por si organizada por um grupo de pessoas católicas. O grupo entoou “uma oração reparadora” contra o que consideram ser “os pecados mortais” que resultam de “uma ideologia LGBT que, hoje, existe no seio da Igreja Católica”. Queriam reparar o quê mesmo, pergunto.

“Individualmente, não temos nada contra estas pessoas. O inimigo é esta ideologia e alguns padres que a defendem contra o que deveria ser a Igreja Católica e contra o que é a vontade de Deus”, afirmou Rafael da Silva, promotor da ação. Talvez não tenha ouvido as palavras do Papa e, mais que isso, não perceba este jovem que a identidade e a liberdade das pessoas não é ideologia, mas direitos humanos.

Tal como nas diversas áreas da sociedade, a formação é essencial e aqui as palavras do Papa são fulcrais para que abram caminho perante o conservadorismo dentro da Igreja Católica. É certo que o seu posicionamento tem visto avanços e recuos, mas também se pode ver que existe abertura para abordar estes temas, o que já é, por si só, um avanço. Uma Igreja mais abrangente, inclusiva e, sim, feminista, é essencial para aquilo que a própria prega. Afinal de contas, Deus “não renega nenhum dos seus filhos”.

*Este artigo foi escrito por Pedro Carreira, ativista pelos Direitos Humanos na ILGA Portugal e fundador da esQrever, no âmbito da parceria com esta última entidade.

Texto de Pedro Carreira, publicado inicialmente na esQrever

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

11 Março 2024

Maternidades

28 Fevereiro 2024

Crise climática – votar não chega

25 Fevereiro 2024

Arquivos privados em Portugal: uma realidade negligenciada

21 Fevereiro 2024

Cristina Branco: da música por engomar

31 Janeiro 2024

Cultura e artes em 2024: as questões essenciais

18 Janeiro 2024

Disco Riscado: Caldo de números à moda nacional

17 Janeiro 2024

O resto é silêncio (revisitando Bernardo Sassetti)

10 Janeiro 2024

O country queer de Orville Peck

29 Dezembro 2023

Na terra dos sonhos mora um piano que afina com a voz de Jorge Palma

25 Dezembro 2023

Dos limites do humor

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e manutenção de Associações Culturais (online)

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura II – Redação de candidaturas [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

22 Julho 2024

A nuvem cinzenta dos crimes de ódio

Apesar do aumento das denúncias de crimes motivados por ódio, o número de acusações mantém-se baixo. A maioria dos casos são arquivados, mas a avaliação do contexto torna-se difícil face à dispersão de informação. A realidade dos crimes está envolta numa nuvem cinzenta. Nesta série escrutinamos o que está em causa no enquadramento jurídico dos crimes de ódio e quais os contextos que ajudam a explicar o aumento das queixas.

5 JUNHO 2024

Parlamento Europeu: extrema-direita cresce e os moderados estão a deixar-se contagiar

A extrema-direita está a crescer na Europa, e a sua influência já se faz sentir nas instituições democráticas. As previsões são unânimes: a representação destes partidos no Parlamento Europeu deve aumentar após as eleições de junho. Apesar de este não ser o órgão com maior peso na execução das políticas comunitárias, a alteração de forças poderá ter implicações na agenda, nomeadamente pela influência que a extrema-direita já exerce sobre a direita moderada.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0