No passado dia 21 de maio, José Farinha, Paulo Pimenta e Daniel Rodrigues apresentaram a 2ªedição da Kiosk Zine, no Mira Fórum. O editor de Fotografia do jornal PÚBLICO, Manuel Roberto, é o nome em destaque desta edição, com um trabalho realizado à margem das cheias que assolaram Moçambique no início do novo milénio.
Manuel Roberto, fotojornalista, descrevia o cenário de Moçambique após ter sido enviado pelo jornal Público como "uma terra transformada num imenso rio lamacento. Um trator cor-de-rosa recolhia cadáveres. Os que fugiram a tempo da torrente de água, que em poucas horas inundou a vila, estavam num centro de acomodação. Quando lá cheguei, encontrei um rio de gente que aguardava faminta a ajuda alimentar que chegaria dos céus. Crianças, velhos, mulheres e homens formavam longas filas para conseguirem uma marca de tinta lilás no dedo indicador que os identificava como vítimas das cheias". Era esta a visão em 2000, no Chokwé. Foi desta viagem que nasceu "A Fome dos Outros", realizado durante as dramáticas cheias que naquele ano assolaram Moçambique. Este trabalho feito à margem da reportagem que realizara para o jornal onde é editor de Fotografia sai agora na 2ª edição da Kiosk Zine.
As fotografias que compõem o trabalho do fotojornalista são digitalizações de negativos analógicos a cor, revelados pelo processo C41, em condições extremas. "Algumas vezes, fogueiras de lenha improvisadas foram determinantes para o "banho maria" dos químicos e para uma revelação dos filmes a uma temperatura o mais ideal possível. Num tempo em que a internet ainda dava os seus primeiros passos, fazê-las chegar ao jornal era outro "filme" que se transformava num 'pesadelo', lê-se no comunicado enviado pelo projeto.
Os fotogramas apresentados são digitalizações "fiéis, cruas e brutas" das tomadas de vista do autor naquela altura, "o rebordo a negro é deliberado, respeitando a integridade de cada fotograma, ou seja, a fotografia sem qualquer reenquadramento ou pós-produção, apenas com o recurso a um scanner", acrescentam.
Além da edição 2.0, há também um edição especial que contempla um print 18x12cm impresso em papel 310gr Platine Fibre Rag da Canson.
Depois de uma edição dedicada a Pauliana Valente, Manuel Roberto foi a escolha dos fundadores. O fotojornalista expôs individualmente em 2015, no Cinema São Jorge, em Lisboa, o seu trabalho "Os Filhos do Vento" – Filhos de ex-combatentes da Guerra Colonial que ficaram em África e gostavam de conhecer os seus pais portugueses.
A mesma exposição, "Os Filhos do Vento", esteve também patente, em 2018, no Espaço MIRA FORUM Artes Performativas, em Campanhã, no Porto.