O Land Art Festival (LA) recebe o compositor Mário Costa, com o concerto "Oxy Patina – Circum-Navegação - Solo", no dia 19 de setembro, pelas 18h30. Em terras de Sever do Vouga, o artista viaja pelo passado e recorda a primeira viagem de circum-navegação liderada por Fernão Magalhães.
Oxy Patina. "É um nome que fico no ar, talvez porque poucos o conhecem". É através da junção "perfeita" das duas palavras que Mário Costa pensa e edifica um projeto que se assinala a sua existência desde 2017, "surgiu quando gravei o meu primeiro disco. Eu apresentei um concerto e gravei esse mesmo concerto e, a partir daí, surgiu o meu primeiro disco, com o nome Oxy Patina. Entretanto, decidi adotar esse nome para o meu projeto", explica o artista.
"Oxy" foi uma escolha que o encantou. Gostou da palavra, "acreditava que era uma palavra forte". E Patina, advêm de uma relação com textura, cor, subcamada. "É engraçado porque nessa fase estava a criar uma marca de instrumentos de percussão. Trabalhava muito com metais e experimentava as oxidações dos metais. Acabou por ser engraçado porque tem que ver com a minha música. Isto é, eu gosto de criar. Tenho uma simples composição que depois vai-se transformando à medida que os músicos que tocam comigo, que também variam, porque nem sempre são os mesmos e então essa textura vai-se adaptando conforme as fibras externas que se juntam, ou seja, um bocadinho como os metais, se tiverem ao ar livre, em contacto com a água, por exemplo... Então através destas transformações acabei por encarar o ponto de partida", continua.
Mário conta-nos que depois de se apresentar em Junho com o novo reportório que leva ao festival, inspirado na primeira viagem de circum-navegação liderada por Fernão Magalhães, acompanhado pelo quarteto (acompanhado por Benoit Delbecq, Bruno Chevillon e Justin Stanton), surge o convite para o Land Art Festival, para realizar um concerto ao solo, "o ponto de partida é o mesmo, com composições escritas simples, que sirvam apenas como um começo para que depois eu possa desenvolver a improvisação em torno do que já tenho, que não é simplesmente improvisação livre. Existem motivos e eu baseio-me nesses motivos para a desenvolver".
Convite feito a partir de Frederico Rompante, diretor de arte e lighting designer que o acompanha em outros projetos, "é um artista, acrescenta muito a todo o trabalho que pensamos em conjunto", é num coreto, no meio de um lago o local em que Mário se fará ouvir. Quase "poético", diria, o local e o seu objetivo com este projeto se difundiram. " A ideia de circulação e a inspiração na viagem de Fernão Magalhães foi o seu ponto de partida. "Além da parte mais técnica os sentimentos e as ideias dos marinheiros que navegavam durante tanto tempo" foram o gatilho. Recordando as suas experiências recentes de viagem e os pequenos momentos de inspiração no meio do carro, do estúdio, o cantarolar, Mário tentará converter o coreto numa pequena caravela.
O festival decorrerá em diferentes locais de Sever do Vouga, nomeadamente, túneis, antigas linhas de comboio e locais improváveis que retiram a música do palco e das salas de espetáculos. Mário concorda que este tipo de iniciativas são essenciais no acesso à cultura, "por exemplo, este meu projeto, está inserido no Garantir Cultura, criado pelo Ministério da Cultura. Eu consigo perceber que esta ligação com os locais, as programações e o ambiente que se cria em sítios mais pequenos, e nem falo de cidades em específico, mas sim vilas. É fundamental e de louvar toda esta ajuda", reflete.
Mário, o compositor
Inserindo-se no mundo do Jazz, na música improvisada, o artista procura beber de diferentes registos para que a sua criação seja fiel a si mesmo. As suas raízes dentro da música tradicional portuguesa e a passagem pela academia dão assim palco à sua identidade. Compõe para os músicos que o acompanham. Procura nelxs mais do que uma orquestração. "É também um motivo de inspiração". Ainda que seja feito de uma forma coletiva, acaba por pensar cada pessoa que o acompanha de forma individual.
Ainda numa ótica de identidade, Mário partilha ainda que "logo no primeiro disco, no Oxy Patina, o facto de não ter contrabaixo, por exemplo, foi um desafio para mim, no ponto de vista de composição porque a bateria está sempre associada a ritmos e, isso, foi também uma das caraterísticas que fez daquele disco único, com guitarra, piano e bateria, o que não é uma coisa muito comum dentro do modelo standard.
Sendo uma das principais referências do jazz contemporâneo e da bateria em particular, o artista tem construído um percurso musical notável a nível nacional e internacional, com mais de 600 concertos realizados enquanto baterista de artistas como Miguel Araújo, António Zambujo e Ana Moura, com quem já partilhou o palco nas mais conceituadas salas do globo, tais como a Sidney Opera House, Carnegie Hall NYC ou Berlin Philharmonic. Em simultâneo tem integrado ininterruptamente diversas formações de jazz nacionais e colaborado com vários músicos de diferentes gerações, desde João Mortágua ou Hugo Carvalhais a Carlos Bica ou Mário Laginha.