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Mural da História: “Ao mudares o rumo da história da Rapunzel, mudas o rumo da tua história”

Um dos elementos mais comuns no universo dos contos infantis é a existência de uma…

Texto de Andreia Monteiro

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Um dos elementos mais comuns no universo dos contos infantis é a existência de uma moral da história, que se quer ilustrativa e educativa para os mais pequeninos. Porém, quando olhamos para as histórias infantis tradicionais que crescemos a ouvir e ver, qual é realmente a moral que existe nas histórias, ou, por outras palavras, que representações e papéis sociais são atribuídos às primeiras personagens com quem, por norma, a maioria das crianças tem contacto? Foi através da releitura crítica de algumas destas histórias infantis, motivada por um muro que parecia mesmo a janela da Rapunzel, que Carolina Caldeira decidiu reescrevê-las, dando-lhes morais mais conscientes nos seus variados âmbitos. A Raquel Marques coube a missão de ilustrar estas histórias, priorizando a preocupação de várias pessoas se poderem sentir representadas nessas imagens e não apenas aquelas que têm características físicas que se assemelham a determinados ideais.

O resultado foi um livro, Mural da História, que reúne quatro histórias de princesas — Carochinha, Gata Borralheira-Bailarina, Princesa das Ervilhas e Rapunzel —, reinventadas por Carolina à luz dos tempos atuais, conjugando literatura, artes visuais, psicologia e didática, uma vez que permite que os seus leitores desenhem e pintem as ilustrações de Raquel, de acordo com os seus sentimentos e aprendizagens. Para além do livro (em formato físico e digital), este projeto integra ainda uma intervenção de arte urbana numa parede da Escola Básica e 1.º Ciclo do Monte/Livramento, no Funchal, dedicado à história reinventada da Rapunzel.

Livro Mural da História

Numa época em que a luta pela igualdade de género é travada diariamente, Mural da História constitui uma vitória para as crianças, pois as protagonistas destas histórias são personagens femininas, conhecidas de gerações e gerações, agora retratadas como raparigas com objetivos de vida próprios e que lutam para consegui-los. Ouvindo ou lendo as histórias, completando e pintando as ilustrações, aprendendo e partilhando, a proposta é que as crianças usufruam deste Mural da História e fiquem a saber de que fibra são feitas as princesas modernas. Carolina conta que foi num trabalho como babysitter que percebeu que as histórias infantis “ainda estavam presas a papéis de género antiquados e que, na maioria dos casos, reservavam às personagens femininas o lugar passivo, expectante, impotente”. “Enquanto mulher, rapariga, menina, não me revejo minimamente nesse lugar, nem era o tipo de história que eu quereria passar àquela menina [de quem cuidava]. Acredito verdadeiramente que a narrativa com que somos rodeados desde o primeiro momento da nossa vida nos acompanha ao longo do tempo, por isso, se posso fazer alguma coisa que contribua para que as princesas de amanhã não fiquem à espera de que lhes escrevam a sua própria história, assim o farei”, assegura. Sendo um projeto que tem como objetivo o empoderamento feminino, Raquel afirma que “este tema ainda precisa de ser mais falado e trabalhado, particularmente com o público mais jovem para que se depare com o outro lado das histórias que sempre conheceu, o lado independente e feminista”.

Página introdutória dedicada às crianças. A página seguinte do livro destina-se às "crianças mais altas (vulgo, adultos)"

Estivemos à conversa com as artistas de forma a perceber como surgiu o berço deste projeto, a necessidade de resinificação e atualização das histórias infantis tradicionais, a importância do contar-se histórias às crianças como elemento de construção da sua identidade, as escolhas literárias e gráficas para o Mural das Histórias e o mural no Funchal.

Gerador (G.) — Carolina, foi num emprego de babysitter que surgiu a ideia para o projeto Mural da História. De que forma essa experiência foi o berço deste projeto?

Carolina Caldeira (C. C.) — Primeiro, pelo contacto direto com o mundo infantil. Era babysitter duma criança chamada Yasmin, de um ano e quatro meses, que estava a aprender a falar e numa fase de descobertas constantes motivadas, por exemplo, pela habituação a mim, que era a nova babysitter e por ser uma criança bilingue que ia falando português, inglês e hebraico em casa. Ao estar em contacto com o universo das crianças, diariamente, das 9 h às 18 h, tinha de lhe contar muitas histórias e encontrar muitas formas de a entreter e ensinar. Ser babysitter foi o início natural do projeto. A partir do momento em que percebi que algumas histórias continuavam com um tipo de narrativa com o qual não me conseguia identificar e não me sentia confortável em passá-las a uma geração futura, tinha de fazer alguma coisa em relação a isso e foi assim que surgiu a ideia.

(G.) — Raquel, como te juntaste a este projeto?

Raquel Marques (R. M.) — A Carolina ligou-me no dia 31 de dezembro a dizer que estava a fazer este projeto e perguntou-me se eu queria participar, porque gostava dos meus desenhos e podíamos fazer algo interessante. E eu aceitei. Foi o processo de a Carolina acabar de escrever as histórias e conjugar tudo com a Câmara do Funchal e os editores e começámos a produzir as ilustrações.

(G.) — O nome Mural da História surgiu ao verem um muro que parecia a janela da Rapunzel. Podem falar-me do dia em que o encontraram?

(C. C.) — Essa parede estava nas traseiras da casa da criança com quem eu trabalhava. Como referi, a Yasmin estava numa fase de habituação a uma nova pessoa, então chorava muito. Para tentar que ela se acalmasse um pouco, punha-a no canguru (uma estrutura de colo para crianças) e andava com ela à volta do prédio, até que ela, eventualmente, adormecesse. Passávamos por essa parede várias vezes e lembro-me de olhar para ela porque no topo dessa parede havia um bico, como numa torre, e uma janela com umas heras secas que caíam e faziam lembrar o cabelo da Rapunzel. Foi nessa altura que me perguntei — qual é a história da Rapunzel, de facto? Aquela parede foi a razão principal que me chamou a atenção, mas não foi possível fazer a intervenção nessa mesma parede. Foi apenas a parede de inspiração para sempre [risos].

(G.) — Conseguem recordar-se da altura em que perceberam que as histórias tradicionais infantis caracterizavam, muitas vezes, o papel feminino como passivo e impotente?

(C. C.) — Acho que só fui a fundo nessa questão das personagens e das histórias infantis quando me perguntei sobre a história da Rapunzel. Havia uns livros de histórias infantis do Pingo Doce, que essas crianças tinham lá em casa, e, curiosamente, uma delas era da Rapunzel. Não eram histórias reinventadas, mas sim as histórias originais, como as conhecemos. Fui ler essa história e, nada contra o Pingo Doce, mas não há condições para continuar a contar esta história assim.

(R. M.) — De facto, por ser uma coisa que aprendemos desde crianças, nunca me tinha caído a ficha. Só quando a Carolina me veio falar do projeto é que, realmente, olhei para estas histórias de outra forma. São histórias que já estão tão enraizadas em nós e que nos são apresentadas numa altura em que somos tão pequenos que já nem pensamos no assunto. Mas, quando olhamos segundo outra perspetiva e dialogamos sobre o assunto, vemos que há algumas coisas que têm de mudar e são importantes de serem faladas. Uma delas é a forma como o papel feminino é retratado nas histórias infantis.

(G.) — Como descreveriam a evolução da forma de se escrever contos tradicionais?

(C. C.) — Em relação a esta história em particular [Rapunzel], que foi aquela em que me baseei, não vi muita alteração e evolução. Eventualmente, havia alguns apontamentos como os pais serem camponeses... acho que hoje em dia já não se faz tanta referência a quem é do campo e quem é da cidade. Por exemplo, nesta história editada pelo Pingo Doce não fazem referência a isso, é só um casal mais pobre — é essa a descrição que fazem do casal. A grande evolução acontece noutras histórias, não tenho visto muitas reinvenções. Por isso, não consigo ver evolução nenhuma, muito honestamente. Consigo vê-la no livro que fizemos, mas fora isso não me chegou um tipo de escrita diferente para uma história que já seja conhecida do público. Talvez haja e eu apenas não tenha visto.

(G.) — Qual acham ser a importância de contar-se histórias a uma criança? Que papel têm as histórias na construção da identidade de cada pessoa?

(R. M.) — É uma coisa que fica tão enraizada que, talvez, se dermos estes conceitos e abertura para as crianças poderem pensar e não seguir sempre a mesma narrativa da menina que precisa de ajuda, de ser salva, etc., poderia, pelo menos, criar uma sociedade melhor ou ter uma abertura mais coerente e sensata nestes temas que ainda são sensíveis. Há pessoas com quem ainda é difícil falar sobre estes assuntos e, talvez, assim, se crie uma sociedade melhor com pessoas mais abertas para estes temas e para aqueles sobre os quais é necessário falar.

Criança a colorir o livro Mural da História

(C. C.) — Acho que o peso que uma história tem na vida de uma criança é extremamente importante, porque é a partir daí que elas se conseguem reconhecer. As crianças projetam-se naquilo que são as referências pessoais da sua vida. Normalmente, têm o núcleo de casa, da família, da escola — se estiver inserida numa escola —, pelo que é muito natural esse processo de projeção. É a partir daí que elas conseguem reconhecer, nelas próprias, certas características e processos. Agora, se continuarmos a propagar este tipo de narrativa em que o género das personagens dita o papel ativo, passivo ou determinante de cada história, então é natural que continuemos a perpetuar essa ideia de que a personagem feminina fica à espera de que aconteça alguma coisa e, honestamente, não é algo que me apeteça continuar a dizer. No que depender de mim, e foi a ideia que me ficou quando decidi fazer esta reinvenção, vou mudar essa narrativa. Quer seja com a Yasmin, quer seja com outras crianças, porque não faz muito sentido dar azo a essas separações. Isso não significa que as personagens masculinas não tenham o seu peso, mas este projeto não foi sobre as personagens masculinas. Foi a elas que tentámos dar a maior liberdade e ação nas histórias.

(G.) — O que vos levou a escolher estas quatro histórias para serem recriadas e, em cada uma, podem dar exemplos de pormenores das narrativas que consideraram necessário reinventar?

(C. C.) — A Rapunzel tinha de ser em honra daquela parede [que me inspirou]. Depois, as outras — Carochinha, Gata Borralheira e Princesa das Ervilhas — foram escolhidas por serem aquelas que mais intuitivamente me chamavam a atenção por serem personagens com características muito vincadas. A Carochinha, por ser o exemplo máximo de alguém que tem um dote e que vai à janela e o objetivo último é casar, que é uma coisa impensável na minha cabeça. A Gata Borralheira, por poder ser facilmente passada para os dias de hoje, no sentido em que um baile pode ser uma festa numa discoteca — claro, em pré-pandemia ou pós-pandemia. A Princesa das Ervilhas surgiu por querer fazer alusão à questão da cor da pele e à sensibilidade. Naturalmente, as mulheres são sensíveis e o facto de a sensibilidade ser usada muitas vezes como arma contra nós, [fez com que] quisesse usar essa questão da sensibilidade como arma e não como vulnerabilidade.

Algumas páginas soltas

Em relação a apontamentos das histórias, temos o facto de a Rapunzel estar presa na torre por causa de uma demonização da tal outra senhora que a prendia. Na nossa história, não aparece esse outro elemento e a única coisa que a prende é o próprio medo. Portanto, a nossa Rapunzel é totalmente responsável pelas escolhas dela, quer quando fica na torre, quer quando sai da torre. Também não há príncipes a salvá-la, porque não há necessidade nenhuma de ela ser salva, uma vez que ninguém a está a prender. O que a prende é o medo do desconhecido. Depois, deixa de o ter, vai conquistar o mundo e está tudo bem.

História da Rapunzel em Mural da História

A Carochinha está a limpar a casa, como na história original, mas na nossa história ela percebe que acumula muitas coisas na sua vida – caixas, brincos, e as tralhas que temos nas nossas casas também —, e ela conhece um ratinho que reforça [a ideia de] que a maior riqueza não são as riquezas materiais, mas sim as riquezas imateriais como um abraço, o poder estar com as pessoas de quem se gosta, etc. A história da Carochinha já foi escrita no início da pandemia, portanto foi mais ilustrativa desta questão do contacto pessoal, em comparação com a Carochinha original que encontra cinco tostões e vai para a janela tentar encontrar um marido.

História da Carochinha em Mural da História

A Princesa das Ervilhas traz essa questão da sensibilidade. Ela vai atrás de um sonho que toda a gente lhe dizia ser impossível — tocar no arco-íris. Embora todos lhe dissessem que era impossível, ela não acreditava e sabia que um mundo com cor seria muito melhor do que um mundo a preto e branco. Não posso desvendar muito desta história, mas, eventualmente, ela consegue ter um arco-íris na mão e tem que ver com a sensibilidade dela e esta força de acreditar.

História da Princesa das Ervilhas em Mural da História

Na Gata Borralheira, a versão original prende-se com um baile que vai existir na corte e a Gata Borralheira, enquanto borralheira, quer ir à corte e não pode. Depois, lá consegue ir, com a ajuda da fada-madrinha, e apaixona-se pelo príncipe, perde o sapato, etc. Na nossa história, a Gata Borralheira quer muito ir a um baile e não pode porque começa a chover muito, portanto ela pensa em chamar os seus amigos e fazer a festa em casa. No fundo, a Gata Borralheira percebe que faça chuva, ou faça sol, a festa, dança e música acontecem dentro dela e da sua casa. Portanto, também não há príncipes envolvidos.

História da Gata Borralheira-Bailarina em Mural da História

(G.) — Raquel, como levaste o empoderamento das personagens femininas para as ilustrações que criaste?

(R. M.) — Tentámos não pôr muitas vezes a personagem em destaque. Fizemo-lo só quando foi necessário, até para transmitir a ideia de que o livro é inclusivo, ou seja, toda a gente se pode ver nas personagens. Ou seja, não há cor da pele, só meninas brancas, cabelos longos, loiros. Foi uma coisa que discutimos previamente e que tentámos passar no livro. Depois, fomos sempre discutindo as partes mais fortes e tentámos colocá-los de forma que fosse apetecível de pintar. Acho que correu muito bem e que há muitas crianças a pintar os nossos livros.

Crianças a pintar o livro Mural da História

(G.) — Carolina, no início da história da Rapunzel, escreves: “vivia numa torre muito alta, mas nunca tão comprida quanto a sua trança”. É assim que começas, desde logo, a dar um tom de empoderamento? Dizendo que, embora ela estivesse presa, tinha em si todas as capacidades para lutar pela sua liberdade?

(C. C.) — Sim. Na versão original, a trança é apresentada como símbolo de durabilidade da prisão dela. O cabelo vai crescendo ao longo da sua vida, sempre presa numa torre, e que serve de pretexto para, depois, aparecer um príncipe que vai tentar salvá-la, sobe e a trança é cortada. Então, quis manter o tamanho da trança longa exatamente porque não a vejo como impedimento, como um sinal de prisão, mas como um sinal de força. Ela pode fazer o que quiser com a sua trança, inclusive cortar, se ela o quisesse. Essa indicação do tamanho esteve ligada à questão de não o ver como um impedimento, mas sim como uma força.

A trança da Rapunzel criada para o mural no Funchal

(G.) — Nas quatro histórias que recriam, vemos mais valores para além do feminismo, como já foram mostrando ao longo desta conversa — como a questão da cor da pele, ao deixarem as ilustrações por colorir, as relações de poder face ao papel social que cada pessoa desempenha, a importância da empatia ou a resinificação de nomes como o da Gata Borralheira (que passa a Gata Borralheira-Bailarina). O que acham que pode ser feito no sentido de promover a resinificação das histórias existentes e de contos futuros de forma que as narrativas demonstrem preocupações interseccionais?

(C. C.) — Não sei como está a ser feito o plano educativo, não faço parte desse universo, mas acho que era interessante haver um exercício coletivo de antes e depois de histórias que já existam e de darem a oportunidade às crianças de reescreverem essas narrativas de acordo com aquilo que elas acham que deve acontecer. Se calhar, isto até já acontece no âmbito escolar, não faço ideia. Mas acho que não adianta deliberadamente apagar histórias que já foram criadas, mas sim reinventar as histórias com as quais todas as gerações tiveram contacto, porque inclui várias perspetivas. Ao mudares o rumo da história da Rapunzel, por exemplo, mudas o rumo da tua história. O exercício de reescrever histórias que já existam é muito interessante e revelador no sentido de percebermos aquilo que achamos não estar certo. Às vezes, é preciso olhar para as palavras como deve ser e tentarmos perceber o que achamos delas.

Crianças a pintar o mural da história reinventada da Rapunzel, no Funchal

(G.) — Este projeto foi ainda acompanhado por um mural de arte urbana, numa escola, que dilata uma das histórias, a da Rapunzel, no Funchal. O que é que esta obra vem acrescentar ao livro?

(C. C.) — Primeiro, a ligação com o título — Mural da História — que tem um duplo sentido de homenagem à parede que foi o mote do projeto e o querer transportar essas ideias para uma parede. Fazer essa obra numa escola foi muito interessante, porque trouxe questões como a escolha de cores, tanto dentro do universo masculino como feminino — se bem que isto é completamente subjetivo, porque as cores não têm género. As crianças que me rodeavam, na altura das intervenções, perguntavam-me porque é que a trança da Rapunzel não era amarela e eu explicava que os cabelos podem ter várias cores. Uma princesa pode não ser loira. Depois, a porta era roxa e os meninos perguntavam-me porque é que a porta tinha cor de menina e, então, era [promover] todo um processo de questionar a afirmação de o roxo ser cor de menina. Foram duas semanas de processo artístico na parede e de introspeção destas crianças que foram assistindo a esta intervenção. Acho que é o mote perfeito de enquadramento entre a própria história e a intervenção no âmbito escolar. Estas intervenções não têm de ter lugar em escolas, mas resultou muito bem e foi uma prova de sucesso de envolvimento do meio escolar.

Crianças a pintar o mural da história reinventada da Rapunzel, no Funchal

(G.) — O projeto foi lançado no dia 1 de junho, Dia Mundial da Criança. De que forma é que as crianças o têm estado a receber?

(R. M.) — No dia em que apresentámos o livro, receberam-no muito bem, ficaram entusiasmadas. A Carolina até arranjou uma caixinha de lápis a dizer Mural da História, e eles ficaram todos entusiasmados porque lhes deram uma mochila com o livro, os lápis, um cantil, etc., e a primeira coisa que eles fizeram foi abrir as mochilas, tirar os livros e começar a pintar. Depois, começaram a fazer perguntas. Foi muito giro vê-los entusiasmados com o livro, com as histórias, as ilustrações, foi de encher o coração. A Carolina tem mais contacto com as crianças no Funchal e com a forma como elas se relacionaram com a arte, no mural.

Caixas de lápis Mural da História

(C. C.) — Elas adoraram a intervenção, até porque a parede ficava na parte do campo desportivo. Foram duas semanas muito intensas, em que contámos a história vezes sem conta, fazíamos perguntas e toda a gente já sabia qual era a história que estava a ser posta na parede e também recebemos vídeos e imagens de crianças a pintar. Foi muito engraçado porque, depois, cada criança vai usar as cores que lhe apetece. É libertador para elas, também. A questão de ser um livro para pintar também teve como objetivo a implementação desta história de uma forma mais cimentada. Ou seja, a partir do momento em que uma história é contada e, depois, é acompanhada de imagens e há uma componente participativa nessas próprias imagens, melhor esta história vai ser integrada no entendimento destas crianças e não só.

(G.) — O livro termina com uma página em que se lê: “Fim. Vitória, vitória, acabou-se a história. Por agora.” Têm mais planos para o futuro relacionados com o recontar de histórias?

(C. C.) — Há uns tempos, falei com um amigo que me disse que o próximo Mural da História devia ser sobre os rapazes e a pressão que a sociedade exerce nos homens para serem os príncipes perfeitos, terem sempre toda a força do mundo para fazer seja o que for. Ficámos com vontade de fazer alguma coisa em relação a esse outro lado das histórias. Agora, vamos fazer valer esta primeira edição, porque ainda há três histórias a ter de ir para uma parede. Acho que vamos começar por aí.

Notas biográficas

Carolina Caldeira

É uma artista multidisciplinar madeirense, nascida no Funchal em 1989. Licenciou-se em Ciências Psicológicas, aprendeu sobre criatividade publicitária, trabalha como redatora freelancer para diferentes marcas e empresas, mas é na produção artística que se sente mais entusiasmada. Criou o projeto Bathstage Music, no qual combina músicos e casas de banho, e explora o diálogo entre a música e a arquitetura através de sessões gravadas ao vivo. Tem explorado a expressão artística através da poesia e da arte urbana, muitas vezes em conjunto, e vai partilhando as suas intervenções no canal de Instagram @vandalismemignon. É nas palavras que encontra o verdadeiro sentido das coisas — se é que existe — e é através delas que faz questão de ir experimentando a vida. Mural da História é o seu primeiro livro, inspirado na sua experiência enquanto babysitter durante o ano de 2019.

Raquel Marques, à esquerda; Carolina Caldeira, à direita
Raquel Marques

É designer numa agência de publicidade e ilustradora nas horas vagas. Nasceu em 1995, em Almada, e vive entre estas duas paixões. No entanto, sonha um dia vir a conseguir viver apenas de dar vida aos seus pensamentos através de desenhos. Tirou o seu curso de design gráfico no IADE e, como quis continuar a aumentar o seu conhecimento, fez um mestrado em Design e Cultura Visual na mesma instituição de ensino. Ambiciona um dia conseguir adicionar a esta biografia muito mais feitos incríveis.

Texto de Andreia Monteiro
Fotografias da cortesia de Carolina Caldeira e Raquel Marques

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