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O que estamos a aprender (ou não) com a globalização?

Muitos de nós sabemos hoje que vivemos num mundo onde as coisas acontecem depressa. De…

Texto de Leitor

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Muitos de nós sabemos hoje que vivemos num mundo onde as coisas acontecem depressa. De forma excitante, para uns, ou vertiginosa, para outros, os acontecimentos locais passaram a ganhar uma dimensão cada vez mais mundial, atingindo territórios que não tinham qualquer tipo de relação até então. Portanto, temos um novo espaço e um novo tempo, que se gerem em encruzilhadas onde as culturas e as sociedades se afirmam económica, política e socialmente. Ainda assim, convém tratar o processo de globalização num sentido mais abrangente e, em simultâneo, mais esclarecido:

  1. Em primeiro lugar, quando nos referimos ao fenómeno da globalização, não podemos interpretá-lo como sendo exclusivo da atualidade. O mundo já passou por algumas vagas globalizantes antes desta que atravessamos. Uma delas foi claramente as viagens marítimas entre os séculos XV e XVII, onde várias nações encetaram e realizaram expedições a terras que se lhes afiguravam desconhecidas ou perigosas. À parte todas as controvérsias acerca da época colonial, neste marcante momento da História foram trespassadas algumas distâncias culturais e regionais, havendo um grassar de determinados princípios, valores e ideologias. Por outro lado, mais tarde, já nos sécs. XVIII e XIX, a criação de determinados engenhos, como o telégrafo, o telefone, a ferrovia e a lâmpada, permitiram que as comunicações se intensificassem, gerando um maior número de contactos num menor período. Assim, a globalização não é um processo novo, tem influências positivas e negativas e está geralmente associada a duas ideias: aproximação entre grupos e mudança nos panoramas de vida, ambas tendo como direção uma confluência nos tipos de consumo (a diversos níveis).
  2. Não obstante, se estamos perante um acontecimento com precedentes, as suas repercussões têm-se revelado diferentes das de outrora. Nunca foi tão fácil fazer chegar uma mensagem a outra pessoa ou irmos nós próprios a um local com uma distância considerável do nosso ponto de origem. Mas, mais do que isso, nunca a questão das identidades culturais e sociais protagonizou tantas fragmentações e interpretações originais. Se a globalização implica alterações nas características de ser, de estar e de pensar dos indivíduos, essas alterações são visíveis no que vários cientistas encaram como sendo processos de hibridismo entre culturas diferentes e de glocalização. Por outras palavras, não só o local se mundializou como o global atingiu novas dimensões num contexto local: grupos étnicos têm-se emancipado e contrariado tendências de uma normalização de certos consumos e de um rumo a um único futuro; e fazem-no de formas distintas, como sejam a proteção e a valorização das suas tradições ou a prática de novas artes – por exemplo as urbanas, onde têm lugar o parkour, o graffiti ou o skate – que pretendem ser técnicas de resistência. Assim, não é errado tendermos a falar em globalizações, em vez de uma única globalização, já que a diferença tem ganhado identidades plurais.
  3. E é aqui que começa o necessário processo de debate e reflexão sociológicos que devemos levar a cabo sobre o fenómeno da globalização. A começar pela discussão sobre as desigualdades que são produzidas. Nem todos os países se estão a globalizar da mesma maneira e ao mesmo tempo. Na verdade, também não temos um só espaço e um só tempo, mas espaços e tempos diversificados que se desenrolam com instruções e recursos específicos. Julgo que esta é, por vezes, uma questão da qual nos esquecemos. A criança europeia, a criança africana, a criança americana e a criança asiática não comem na mesma proporção, não têm os mesmos brinquedos nem vivem (com) a família do mesmo modo. Uns terão oportunidade na escolha da sua refeição ou na seleção dos jogos e terão amigos com quem o fazer; para outros, as noções de entretenimento e de preferência(s) praticamente não existem ou são, então, muito precárias. Mas isto não se verifica apenas no grau económico e nos estilos de vida. As globalizações assumem as suas disparidades na Educação, na Saúde, no Trabalho, na Proteção Social, no Direito. Nunca nos podemos esquecer que reter o mesmo rendimento per capita não significa necessariamente ter a mesma (condição de) vida.
  4. Outro ponto relevante a selecionar é que as dissemelhanças e os riscos que aquelas configuram hoje são objeto de reflexão abundante do passado. A tentativa passa por identificar erros anteriores para os evitar e focar em soluções de problemas contemporâneos. Por isso, cabe-nos colocar as seguintes questões: no que estamos a pensar? Estamos a aprender com o passado? O que estamos a aprender? Como vemos a aplicação dessas aprendizagens? Não são perguntas vagas, são essenciais e necessários momentos de pausa da nossa frenética corrida diária e de repensamento nos nossos projetos de vida e do mundo que queremos todos os dias e para lá de nós.
  5. Portanto, o último ponto passa pelo tratamento do futuro. E é, a par da reflexão relativamente ao passado, onde temos de investir uma forte dose de contribuições atitudinais e comportamentais. Temos de ler mais, escrever mais, planear mais para as próximas gerações, não viabilizando somente previsões catastrofistas. Temos de nos informar e contribuir para outros num esforço de empatia e de sinceridade e não esquecer que por aqui também passa a globalização – antes de tudo, de todas as suas consequências e nuances, a intenção da globalização sempre foi uma proclamação da descoberta e do encontro entre povos. Ou seja, uma tentativa de conhecimento e de humanismo.

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Texto de Leonardo Camargo Ferreira

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