"Todos os anos é um novo desafio". Esta é a primeira frase que o coletivo prenuncia após o questionarmos sobre a sua participação no festival Tremor. O ondamarela, "que encontra nas pessoas e nos lugares a inspiração para o desenvolvimento de projectos artísticos, sociais e educativos", participa na nova edição do festival que invade os cantos e recantos da ilha de São Miguel, nos Açores.
A decorrer entre os dias 7 e 11 de setembro, o festival Tremor volta à Escola de Música de Rabo de Peixe, que desta vez se junta a Jerry The Cat, um espetáculo que partirá do jazz como "matéria de negociação e exploração", lê-se em comunicado. Os bilhetes para o festival já se encontram à venda, sendo válidos para as atividades de sexta, dia 10 de setembro, que conta com espetáculos do coletivo ondamarela e sábado, dia 11.
Tremor e ondamarela. Já se 'conhecem' desde 2018. "A proposta foi sempre a de um trabalho musical com a Associação de Surdos da Ilha de S. Miguel (ASISM) e em cada ano há sempre a colaboração de um grupo de músicos, de S. Miguel, e uma comunidade nova. Este ano, por exemplo, teremos um grupo de Vila Franca do Campo, lugar onde acontecerá a apresentação final", contam ao Gerador.
O ondamarela foi criado em 2015 inspirando-se nas pessoas e nos lugares para o desenvolvimento de projetos artísticos, sociais e educativos. Surgiram como resposta a convites cada vez mais regulares para estudo e análise de territórios e comunidades e conceber ainda projetos artísticos que contribuíssem para a sua valorização.
Assinalando a criação de performances musicais, com alguns cruzamentos disciplinares (vídeo e movimento), o coletivo, este ano, junta à equipa uma coreógrafa que trabalhará de forma mais profunda o movimento e a dança. "Mas a experiência passa sempre por explorar as características e vontades dos grupos de participantes envolvidos e criar, de forma colaborativa, uma performance que seja identificativa de todo o grupo. O tema vai-se alterando, de ano para ano. Quanto mais nos conhecemos, a todos, mais profundo o trabalho se revela, aumenta a confiança, aumenta a cumplicidade e naturalmente o arrojo das propostas", continuam.
O trabalho que o ondamarela tem desenvolvido para esta edição do Tremor, juntamente com a ASISM, partiu da inspiração da língua, ou seja, a linguagem e as diferentes falhas de tradução, que acabam por explorar numa primeira fase de residência, em torno da tradução e da legendagem. "Quais as principais dificuldades de comunicação, os diferentes sentidos da mesma palavra. Qual o som que um gesto tem? Uma carícia pode ser um baile? A partir das falhas, das interrupções e do erro criaremos um novo dialeto, uma nova linguagem", explica o coletivo.
Acreditando que se reserva "uma nova criação, de raiz, feito em conjunto com estas pessoas", o ondamarela continua a alimentar o motivo pelo qual se dedica a este trabalho: uma colaboração de veio comunitário. É partindo das premissas da divulgação e integração da comunidade, como um resgate das heranças locais, que o coletivo coopera com diferentes projetos, nos quais estudam os territórios e as comunidades, o tipo de ações inovadoras que podem desenvolver e procuram traçar um maior contacto entre a cultura, a sociedade e a própria geografia.
"Sentem que este contributo se faz ouvir também por parte das comunidades?". Os membros que compõem o coletivo acreditam que sim. "Os nossos projetos se dirigem a todo o tipo de pessoas, quer enquanto artistas, participantes activos nos processos de criação, quer enquanto público".
Com o objetivo de criar "sempre" a ideia de comunidade como "o sentimento de nós" e tendo por base a abordagem Ferdinand Tonnies, sociólogo que centra o significante (comunidade) numa experiência humana e propõe uma visão simultaneamente poética e aglutinadora dos vários tipos de laços que compõe uma comunidade, o coletivo rege a sua abordagem e trabalho com e nas comunidades, um trabalho eminentemente colaborativo, de co-criação artística. "Muitas vezes trabalhamos com pessoas que nunca estariam no mesmo palco se não fosse pelo projeto, que vêm de sítios muito diferentes, no que diz respeito à arte e à participação cívica, que não fazem parte dos mesmos círculos. A partir desta ideia de “nós”, a abertura, a disponibilidade, a escuta, passam a fazer parte integrante da prática de criação artística, uma vez que o trabalho fica mais horizontal e acomoda com outra liberdade o debate, o confronto de ideias, o compromisso", explicam.
É a partir da arte e da cultura que colocam a nu, discutem e trabalham num grupo inclusivo onde a informação, as perspectivas e os pensamentos se alimentam.
Além do festival Tremor, trabalham com o Município de Vila Nova de Famalicão, onde desenvolverão um Atelier de formação em Criação Colaborativa, a arrancar já em meados de Setembro e estão ainda a preparar, também neste território, um novo espectáculo colaborativo que juntará comunidades de "diferentes backgrounds".
Já para o “Culturalem Expansão”, no Porto, estão a preparar o espectáculo de encerramento do programa deste ano, com uma apresentação em Dezembro no Rivoli e têm ainda um programa de mediação em curso, no Bairro C, projeto que desenvolvem juntamente com a Câmara Municipal de Guimarães para a zona de Couros (bairro criativo).
O Armário e o "Esta Máquina Cerca o Ódio e Força-o a Render-se” são também projetos do coletivo, apoiados pela DGArtes.