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Os Sentidos da Música com Valter Lobo

  Esta semana, nos Sentidos da Música, a Ana Isabel Fernandes esteve à conversa com…

Texto de Andreia Monteiro

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Esta semana, nos Sentidos da Música, a Ana Isabel Fernandes esteve à conversa com o Valter Lobo ;-)

 

Ainda bem que Valter Lobo, natural de Fafe, trocou uma possível carreira na advocacia e decidiu, antes, dar-nos boa música no melhor dos ‘sentidos’. Conta com dois trabalhos discográficos -- o EP ‘Inverno’, lançado em 2013, e o Longa Duração ‘Mediterrâneo’, lançado em 2016, através de edição de autor. Preparados para conhecerem os ‘Sentidos da Música’ do Valter? Vamos, então, a isso.

 Para se evocar um sentimento ou uma emoção através da música, o lado racional pode atrapalhar ou, pelo contrário, ajudar?

Ajuda sempre. Não há devaneio que não precise de uma barreira. Acho que a resposta mais fácil será sempre a da existência de um equilíbrio entre o lado racional e o irracional. Tem que haver uma consciência individual sobre “quem somos?”, “qual ao objectivo de estarmos aqui?” que se revela e nos traz ao conhecimento. Sem isto, não saberia em que momento estaria no campo do irracional. Depois, é preciso deixar entrar as sensações, instintivas e exageradas que nos levam a escrever ou compor.

Qual é ou quais são as músicas que fazem o teu corpo mexer?

Pode ser a música mais calma do mundo a pôr-me a mexer: uma do John Lennon, do Bon Iver, do Glen Hansard... reviram-se as entranhas por dentro.

Por dentro e por fora, qualquer uma do “The back room” dos Editors.

E aquelas que te conduzem a um estado de espírito imediato?

Qualquer música, em qualquer género ou língua que seja honesta e genuína, no momento certo.

Achas que o facto da música ser invisível, não palpável, ajuda-a a ser mais intuitiva e, por conseguinte, ter uma outra relação com a nossa consciência?

Sim, tal como um sentimento. É aqui que nos revelamos humanos, no imaterial, na desnecessidade de termos coisas ou bens. A música tem entrada directa no nosso corpo e direcciona-o para uma determinada sensação.

 Já te aconteceu pensares numa imagem, num ambiente específico ou espaços enquanto compões?

Sempre. O meu primeiro EP, “Inverno”, remetia-me para um refúgio numa montanha com neve onde me lamuriava solitário e reclamava esperança. O Mediterrâneo é a viagem para um ambiente mais ameno, junto ao mar. Todas as músicas são muito descritivas, quer em sentimentos quer em lugares. Falo em “varandas”, “ilhas”, “mares”, “Positano”, “Mediterrâneo”. É uma história com lugar.

Se pudesses desenhar e pintar a tua música, como seria e que cores teria?

Eu, com a minha mulher e filho, numa varanda com pequenos vasos com flores coloridas mesmo em cima do mar. Vestidos com roupas claras, sem grandes bens materiais, na serenidade da brisa, felizes na simplicidade.

Como é que imaginarias o sabor da música mais especial para ti? Doce, amargo, salgado como o mar, agridoce?

Como é que posso sentir o doce se não sinto o amargo? Como posso viver uma vida “sem sal”?

Pensa no cheiro mais importante para ti, aquele que ficou na tua memória. Que música lhe associarias?

O cheiro suave da minha casa, ao fim do dia, com a minha família, quando nos sentamos à mesa a conversar e o pequeno Valter, de 7 anos, põe as músicas do John Lennon a tocar, que tanto adora.

Achas que a música pode ser um bom veículo para fixar e guardar memórias?

É o melhor e o único fiável.

 

Entrevista por Ana Isabel Fernandes

Foto de Diogo Machado

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