Desde que se apresentou ao circuito artístico e cultural português, no começo deste ano, a Associação Portuguesa de Mediação Artística e Cultural não parou. Com o surgir da pandemia, os desafios cresceram e tornaram o começo mais sinuoso, mas não por isso menos preenchido. “Tem sido um caminho de reinvenção de algo que ainda não existia”, disse ao Gerador a associação, que respondeu em coletivo, em entrevista.
Se a mediação artística e cultural já era uma profissão pouco reconhecida pelo e no setor, com a pandemia as fragilidades ficaram a descoberto. Sendo a Associação Portuguesa de Mediação Artística e Cultural (APMAC) “uma associação sem fins lucrativos criada por alunxs, ex-alunxs e docentes da Licenciatura de Mediação Artística e Cultural (LMAC) da Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx)”, a missão tem sido “promover, divulgar e afirmar a Mediação Artística e Cultural (MAC) enquanto área profissional, bem como a criação de espaços de encontro e partilha no interior da comunidade social, cultural e artística”. A organização realça ainda que, “apesar de todos estes obstáculos [que surgiram com a Covid-19], esta fase menos boa causou[-nos] uma vontade ainda maior de lutar por esta profissão, dado o panorama da cultura em Portugal”.
Foi (também) para dar a ver as fragilidades, desmistificar o papel do mediador e da mediação e dignificar a profissão que a APMAC criou recentemente o podcast “Pontas Soltas”, que conta com a moderação de Ana Marta Estrada, Rita Rosado, Diana Aires e David Silva. Nesta primeira temporada, que terá cinco episódios, já contou com convidadas como Elisabete Paiva (Materiais Diversos), Cátia Terrinca (UMCOLETIVO), Maria Vlachou (Acesso Cultura) e Matilde Real (Lavrar o Mar). Os primeiros quatro, de cinco episódios, já se encontram disponíveis no Spotify e no Anchor.
Esclarecer e defender interesses: a mediação cultural (é) para todxs
A APMAC conta que “quando nasceu a ideia de falar sobre Mediação Artística e Cultural (MAC) através de um podcast, surgiram imediatamente nomes de referência” com quem gostariam de criar um diálogo que respondesse ao seu “objetivo principal”: esclarecer e pensar sobre esta prática, defendendo assim os seus interesses”. “Xs convidadxs deste podcast foram separadxs pela temática de cada episódio, de modo a explorarmos transversalmente a MAC, de diferentes perspetivas. A par deste objetivo encontra-se a oportunidade de divulgar projetos junto de instituições, como também de diferentes públicos, xs nossxs ouvintes”, partilham.
Esses convidadxs vêm de diferentes contextos, “porque MAC é também uma união de todos os componentes e atores que estão presentes no setor cultural”. Neste processo, que foi “muito gratificante”, e que resultou também numa “troca de experiências entre diferentes gerações de profissionais do setor e mediadorxs artísticos e culturais recém-licenciadxs”, cresceram juntxs, enquanto faziam crescer a associação.
A criação do podcast Pontas Soltas surgiu como resposta à pergunta — “Como é que podemos desenvolver um projeto que contorne o confinamento social, dirigido a todxs, e que dinamize um diálogo entre a APMAC e diferentes profissionais do setor cultural?”, conforme conta a associação. Das reuniões por Zoom passaram para o formato de podcast, munidxs de informação e conhecimento que partilham com os seus pares, e que qualquer pessoa pode, agora, ouvir.
“Existem muitas pontas soltas no que diz respeito ao reconhecimento da MAC enquanto prática profissional, desde a conceção da cultura enquanto bem essencial, ao perfil e qualificação dxs profissionais que exercem neste campo, à especificação da sua intervenção. A APMAC quis repuxar estas ‘Pontas Soltas’: descobrir quais são os desafios sentidos pelxs profissionais do setor cultural, neste contexto atual e cheio de adversidades, como também aqueles que já existiam, relacionados com as diferentes políticas culturais que à medida que foram adotadas demarcaram a receção, fruição e distribuição cultural no nosso país. Simultaneamente, queremos mediar estes conteúdos a um público mais alargado, não restringindo este projeto a um público profissionalizado na área cultural”, contam.
Para “desenvolver um trabalho no caminho da compreensão” de forma a também responderem “à pergunta que surge do lado de lá” quando questionadxs sobre em que consiste a sua profissão, pretendem criar pontes através das suas vozes e das que a si se juntam em cada episódio. E por muito que não sejam “profissionais no que toca à gravação e edição de som, nem na arte de moderar conversas”, sentem que este era um passo inevitável e urgente, de que se orgulham.
“Esperamos que o caminho da APMAC vá sempre ao encontro de fazer mais e melhor. Vamos agora partir e continuar nas questões de legalização da nossa associação, mas sempre disponíveis e empenhados na criação de novos conteúdos. Para isso, aproveitamos também para vos dizer: espreitem as nossas redes sociais e estejam atentos ao nosso trabalho”, concluem.
Podes acompanhar a Associação Portuguesa de Mediação Artística e Cultural, aqui.