Me mudei para Portugal há 12 anos, e posso afirmar que há 12 anos se podia contar nos dedos o número de meninas que andavam de skate de norte a sul do país. Eu vim de um país onde o skate, ainda mais o feminino já estava a ser organizado por outras mulheres, já havia crews (coletivos de skate feminino). E mesmo que aos poucos, ainda tímidas, íamos nos encontrando nos campeonatos de skate e marcando de ir andar de skate juntas.

Houve algumas tentativas de unir as meninas, gravar vídeos, formar crews. Mas o problema de nunca ter ido para frente é sempre o mesmo, a falta de apoio. Quando falo de apoio, ele vem de dentro para fora. De dentro de casa, da família, dos amigos e da própria indústria do skate (marcas e skateshops). Muitas de nós trabalhávamos e íamos andar de skate, até chegar um ponto onde esse combo ficava cada vez mais complexo de se gerir. Mas não tanto pela falta de tempo, até mesmo porque para poder ir skatar, arranja-se sempre tempo, o que faltou mesmo foram oportunidades e posso falar de um apoio maior para nós.

Chegamos a realizar alguns eventos, mas sempre à sombra, ou à margem de outros eventos que não voltados especificamente para nós, mulheres. O primeiro evento feminino que realizei em Portugal foi justamente a oportunidade que nos foi dada em realizar um best trick feminino. Fomos poucas, mas foi o suficiente para alegrar e claro para mostrar que era possível, foi preciso apenas uma oportunidade, acredita, ela foi agarrada com unhas e dentes!

Logo depois, outros grupos foram formados, vontade de fazer o skate feminino crescer. Não faltou muito quando criamos a Her Wheels, um coletivo de skate feminino, criado uns dias antes dos dias das mulheres, inspirados e montados por mulheres com uma mesma visão,, crescer o skate feminino em Portugal. E assim começamos a fazer história em Portugal.

Nosso primeiro evento, um evento 100 % feminino, de mulheres para mulheres, tivemos mais de 30 meninas a andar de skate, mesmo com algumas ainda tímidas, estavam lá presentes!

Construímos uma resistência, todas nós juntas! Cada uma que participava nos campeonatos, nos eventos, que ia filmar, que, de alguma forma, criava uma resistência, nós crescemos.

Há um tempo recebi uma mensagem de uma menina, que hoje é a cabeça de um coletivo de skate feminino, a dizer que foi esse movimento, especificamente da Her Wheels, que fez ela começar a andar de skate.

Vejo zines, lideradas apenas por mulheres, fotógrafas, vídeo-makers, uma subindústria sendo criada aos poucos. Eu olho para a nossa resistência, com um olhar de mãe orgulhosa. Sei que as minhas lágrimas, sangue e persistência abriram as portas para que elas crescessem e fizessem o que hoje estamos vendo por aí vídeos, capas de revista, patrocínios, premiers.

A nossa resistência criou a essência do skate feminino em Portugal. Obrigada, Teté, Marta, Vicky, Inês, Thais, Rita.

E muito obrigada para essa nova geração que vem evoluindo, vem colocando no mapa, o skate feminino em Portugal. Ontem vi uma premier de skate feminino, feito, produzido e gravado por mulheres, e foi aí que me bateu! Nossa, agora já tudo encaminhado!

O caminho ainda está a ser percorrido, ainda existem muitos obstáculos, e acredito que ambas gerações, a resistência e a nova, devem trabalhar em conjunto, trabalhar com respeito mútuo, só assim vamos ter o nosso lugar, união é o segredo!

- Sobre a Laís Reis -
Apaixonada pelo skate há pelos menos 20 anos, faço desse a minha maior motivação de vida. Licenciada em Educação Física, trabalhei e trabalho muito com o skate. Hoje um pouco mais velha, faço de todo o meu know-how uma porta de oportunidades para a nova geração. Também podem me encontrar por trás do computador, na criação de softwares. Hoje é entre o keyboard e o skateboard!