O segundo dia da Moda Lisboa ficou marcado pela azáfama do ritmo de três dias de desfiles quase sem parar e pela final do concurso Sangue Novo. Assim que se abriram as portas da sala de desfiles do Pavilhão Carlos Lopes, às 17h00, os lugares foram sendo ocupados para ver as criações de Archie Dickens, Carolina Raquel, Frederico Protto, Opiar, Rita Carvalho e The Co.Re.
O júri anunciou Frederico Protto como melhor designer internacional, Carolina Raquel como melhor designer nacional, e Archie Dickens ganhou o prémio The Feeting Room, que te explicámos aqui no que consiste. Seguiram-se Duarte, Carolina Machado, Valentim Quaresma e Ricardo Preto.
Do lado de fora, na tenda das acreditações, conhecemos a Inês Padinha, coordenadora de receção, e traçamos-lhe o retrato que te apresentamos no segundo dia. “Eu fui estudante de moda, aluna da Eduarda Abbondanza e comecei como voluntária. Depois acho que a coisa me correu bem e passei para a parte da produção”, recorda Inês.
Falou-nos da época em que a Moda Lisboa viajou de Lisboa para o Estoril e de como, juntamente com uma amiga da faculdade, esteve a coordenar a ação Boom Shirt, que consistia em “convidar vários artistas para intervir em camisas brancas, que depois estiveram expostas durante o Estoril Film Festival”. Pouco depois, Inês passou a trabalhar no escritório: inicialmente na produção a ajudar a Rita Costa Gomes, que já não trabalha na Moda Lisboa, e depois no que concerne a acreditações e convites.
O trabalho de Inês começa antes dos quatro dias de eventos, uma vez que também faz parte das suas funções enviar os convites diretamente para as pessoas, e é da sua responsabilidade gerir pedidos de última hora, que confessa existirem sempre. “No escritório, temos a Fátima Barros, mas aqui na front desk sou eu que dou a cara. Normalmente, venho um mês ou quinze dias antes do evento para a preparação e depois fico aqui durante os três dias”, explica.
Enquanto antiga estudante de Moda, Inês confessa ter pena por acabar por ficar isolada do que se passa dentro do Pavilhão Carlos Lopes, mas sabe que é a primeira cara que o evento dá a conhecer aos convidados e à imprensa. Mostra-se curiosa com o que está para acontecer neste universo, com um interesse e preocupação especial com as questões ecológicas, que foram tema de debate no dia 7, nas Fast Talks das Carpintarias de São Lázaro. “A moda já foi muito mais moderada. Por esta altura, já é tudo muito mais frenético, apesar de nós (não sei se nós portugueses ou também no resto do mundo) estarmos cada vez mais despertos para a ecologia, o que é muito importante para termos uma moda mais consciente”, diz ao Gerador.
Para a coordenadora de receção, faz todo o sentido que um evento desta dimensão aconteça em Lisboa, uma vez que é “o coração do país”. Quanto ao papel que a Moda Lisboa pode ter na perceção da moda em Portugal, Inês acha que “os portugueses estão um bocadinho alienados desta parte do consumo de moda de autor” e que “a Moda Lisboa tem um papel fundamental nesse campo, porque os criadores portugueses têm uma luta particular contra toda a grandes marcas de Moda”.
Histórias caricatas acontecem na receção, segundo Inês, “a toda a hora”. “Eu coordeno, mas já trabalho com o Bernardo, o David e o Carlos aqui na receção enquanto equipa há algumas edições. Nós até costumamos escrever alguns episódios caricatos que nos acontecem porque são momentos muito engraçados”, conta Inês Padinha. “Ainda hoje lembrámo-nos de uma situação com uma convidada que tinha direito a um acompanhante e que apareceu aqui com dois, mas que como eram gémeos podiam contar como um. Ao que o meu colega respondeu: “Pois, mas não são siameses.” E às vezes saem-nos estas respostas que podem não parecer muito educadas, mas que são naturais porque aqui estamos constantemente a gerir os egos das pessoas”, conclui.
Entre dar convites aos destinatários, as credenciais à imprensa e ter de informar que nem sempre as coisas são o que parecem, o trabalho de Inês acaba por passar por uma “gestão de egos”, nas palavras da própria. “Há muitos interlocutores, a coisa não é bem o que parece, e na hora da verdade nós é que damos a cara. No fim, temos de dizer de forma delicada que se calhar não é bem assim, que só pode trazer uma pessoa e não é como gostaria, ou que o convite não lhe dá acesso ao que queria”, confessa.
O desafio é constante e diferente em cada edição, mas não é um problema para Inês Padinha porque “enfim, são ossos do ofício”.
Podes ler o retrato do primeiro dia, de Mathilde Misciagna, assistente de comunicação na Moda Lisboa, aqui.