Todos os dias ouvimos falar de Inteligência Artificial (IA). A transição deste conceito académico para a prática diária de milhões de pessoas, através de ferramentas concretas e utilizáveis, está a revolucionar a nossa percepção da tecnologia futura.
Se, por um lado, existe admiração, entusiasmo e até fervor, por outro, intensificam-se as dúvidas, os receios e a vontade de conter uma onda cujas implicações ainda não são totalmente compreendidas. Esta polarização, entretanto, serve como uma excelente narrativa para aumentar a notoriedade deste tema.
A presença da Inteligência Artificial na sociedade é tão significativa que justifica este nível de atenção. Gigantes tecnológicos investem fortunas colossais no seu desenvolvimento, ainda sem qualquer perspectiva de retorno, e o próprio termo "IA" é usado banalmente para cativar audiências, rotulando uma infinidade de novos produtos.
Este peso mediático avassalador da Inteligência Artificial ofusca o conhecimento sobre outras revoluções científicas e tecnológicas emergentes. Existem muitas, em diversas áreas, principalmente na saúde, no desenvolvimento espacial, na produção de energia, nos sistemas de mobilidade ou na biologia sintética, que é a habilidade de criar novos organismos ou modificar sistemas biológicos – ou seja, criar alimentos em laboratório.
Como estes avanços tecnológicos não fazem parte do quotidiano de milhões de pessoas, ao contrário da Inteligência Artificial, é natural que ainda não tenham um nível de popularidade semelhante. Contudo, não são menos importantes, nem terão menor impacto no nosso futuro.
O mesmo ocorre com outra tecnologia que evolui rapidamente e para a qual gostaria de chamar a vossa atenção: a robótica. Embora esteja frequentemente associada à IA - basta pensar nos robôs humanóides que muitos filmes e séries usam para representar a Inteligência Artificial - a robótica é um campo totalmente autónomo.
A robótica é a ciência que envolve a concepção e construção de robots. Máquinas que são capazes de substituir os humanos em determinadas atividades, até agora bastante circunscritas a tarefas industriais repetitivas, como na indústria automóvel ou na logística.
Porém, gradualmente, temos notado a chegada dos robots a outros formatos mais próximos da nossa vida diária. Os robots de farmácia foram um primeiro passo, mas agora começam a surgir noutras atividades, inclusive na restauração, como podemos ver em vários restaurantes por Lisboa.
A próxima vaga de criação de robots vai deixar as grandes fábricas e virar-se para o comércio local, as pequenas empresas e até a gestão dos lares. É natural que nos próximos 10 anos existam máquinas, com algum nível de autonomia, nas casas, nos restaurantes, nos meios de transporte, na construção, na limpeza. Serão robots que virão substituir tarefas necessárias, mas que as pessoas preferem não as fazer.
Estas tarefas são aquelas que, frequentemente, são realizadas por imigrantes. Se, até hoje, não tem havido adesão aos clamores populistas de comentadores e partidos políticos de extrema-direita, é exatamente porque as pessoas reconhecem as vantagens da imigração para preencher os trabalhos indesejados.
Mas, a partir do momento que máquinas frias, inexpressivas e indiferentes começarem a preencher todos os capítulos da sociedade, como reagirão as pessoas às provocações populistas?