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Sem ensaios de ciência: Admirável mundo

Na Revista Gerador 42, na crónica Sem ensaios de ciência, que agora partilhamos contigo, Rita de Almeida Neves fala-nos sobre a necessidade urgente de preservar e restaurar os ecossistemas naturais para garantir a sustentabilidade do nosso planeta. Destaca ainda a importância da Lei da Restauração da Natureza na União Europeia e alerta para os desafios que enfrentamos, desde a extinção de espécies até à degradação do solo, enfatizando que todos temos um papel crucial nesta batalha pela preservação do “admirável mundo” que habitamos.

Texto de Redação

Fotografia da cortesia da Rita de Almeida Neves

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É natural que no título deste texto o vosso cérebro tenha automaticamente lido «admirável mundo novo». Não foi esquecimento, mas um propósito. Se o romance que todos conhecemos pelo nome nos faz uma parábola intensa sobre o processo de desumanização e imagina uma sociedade futura com base científica, avisa-nos, acima de tudo, da importância da consciência humana do mundo que habitamos.

Não me lembro exatamente há quanto tempo o li, mas pensar no que era este admirável mundo novo leva-me sempre ao que são estas distopias em que queremos tornar a nossa sociedade do futuro. Huxley tem, no seu enredo, um mundo em que ordem social é o que mais importa, através de um pré-condicionamento biológico e psicológico, e mostra-nos com a sua ironia e humor como a sociedade pode ser manipulada pela informação que é exposta.

É neste exercício distópico que podemos seguir se refletirmos sobre o que está a acontecer ao nosso admirável mundo, que, de novo, já tem pouco. Cientistas avisam que podemos estar a atravessar a sexta extinção em massa, políticos esgrimem-se em polémicas leis para a natureza, e um próximo sucesso literário podia ser escrito.

Foi nos meandros da política europeia que surgiu a controvérsia que poderia alimentar o enredo, em particular com a Leia da Restauração da Natureza. Foi esta lei, enquadrada no Pacto Ecológico Europeu, que agitou as águas nos últimos tempos, e mostrou-nos como um debate científico pode tornar-se acima de tudo ideológico. Com a União Europeia e os seus países a trabalhar num ato legislativo que, pela primeira vez, estabelecerá metas vinculativas para restaurar os ecossistemas, os habitats e as espécies, assistimos ainda à utilização de informações erráticas dos que ainda se mantêm cegos pela sua própria distopia.

Desafio-vos a reverem como todo este processo aconteceu. Neste enredo real, a vitória foi renhida, contudo os eurodeputados aprovaram uma proposta de lei para a recuperação dos ecossistemas naturais. Lei esta que prevê a recuperação de 20 % dos ecossistemas até 2030 – desde rios e florestas a terrenos agrícolas.

Esta proposta surge na realidade de uma reflexão e de informação do ponto de vista científico. Centrando-se na Europa, que embora se apresente como uma região com grandes preocupações e com objetivos na área da promoção da biodiversidade, existem uma panóplia de grandes problemas que não podem ser ignorados. Nem mesmo com as maiores falácias ideológicas e distópicas, uma vez mais.

Os dados podem falar por si: atualmente, 80 % dos habitats na Europa encontram-se em más condições de conservação; uma em cada três populações de espécies de abelhas e borboletas estão em declínio; 70 % do nosso solo está em processo de degradação. E, se queremos ir à componente económica, tudo isto implica perdas anuais cerca de 1,25 mil milhões de euros só na União Europeia.

Se continuarmos a viver numa distopia em que queremos a inovação, a tecnologia, a economia competitiva, sem levar a real parte de admirável que o nosso mundo já tem, será muito difícil garantir o chavão que todos nós ouvimos diariamente: sustentabilidade.

Face a todos estes dados, esta lei procura propor em termos de medidas urgentes as diferentes dimensões ambientais que devem ser trabalhadas, para garantir esta sustentabilidade estrutural. Afinal, ecossistemas mais sustentáveis, com uma maior garantia de preservação das espécies, sejam animais ou plantas, significam, naturalmente, um maior aproveitamento económico e mais recursos disponíveis para todos.

No fim das contas, das distopias, ou das utopias, depende de todos nós fazer parte deste combate que tem várias frentes, desde o populismo, aos dogmas económicos até à nossa ação enquanto espécie que coabita este admirável mundo.

Sim, porque a natureza depende das relações essenciais entre as espécies e os seus habitats, das fascinantes simbioses aos desafiantes parasitas. Resultando num equilíbrio delicado que garante que o funcionamento correto de tudo.

Agora que estamos a avançar nesta aventura, estamos num momento que pode e deve ser o plot twist em tudo o que já se fez de errado no nosso mundo, e chegar a um admirável mundo restaurado. Que todos estejamos atentos às próximas páginas.

-Sobre a Rita de Almeida Neves-

Rita é comunicadora de ciência e uma ativista do poder da ciência em prol da democracia. Tem-se dedicado a programas educativos e de aproximação de ciência à sociedade. Bioquímica, partilha a paixão entre as palavras e as moléculas, e nunca a vão encontrar sem um caderno e caneta.

Texto de Rita de Almeida Neves
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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