O legado que o estacionário português relaciona-se, sobretudo, com a qualidade dos produtos que ao longo de um século foram sendo feitos à mão, num ritmo que não tornava possível que se produzisse em barda. É à simplicidade, ao cuidado na escolha dos materiais e à capacidade de desenrasque que novos estúdios que assinam cadernos mais ou menos tradicionais vão beber.
Neste último artigo da Semana Temática do Estacionário Português, que tem como ponto de partida a reportagem “A história do estacionário português escreve-se a lápis em cadernos que duram uma vida”, publicada na Revista Gerador 29, falamos-te de quatro casos que têm vindo a contar-nos um novo capítulo na história do estacionário. Bulhufas, Serrote, mishmash e beija-flor viajam entre o regresso ao imaginário do passado e o minimal futurista, e deixam-nos entre a vontade louca de querer começar um caderno novo e o medo de o ocupar com coisas que não valem em pena.
Bulhufas
Todos os cadernos Bulhufas têm o nome de alguém especial para os seus criadores e Murilo, o que está ilustrado na imagem, pode ser reutilizado
O estúdio Bulhufas é o resultado do encontro entre Leticia Burkardt, natural do Rio de Janeiro, e Tiago Casanova, madeirense que estudou e viveu no Porto mas acabou por ficar por Lisboa. Letícia mudou-se para Portugal para estudar no mestrado de tipografia e auto-edição da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e finalmente mergulhar naquilo que lhe dava força “para acordar ao sábado de manhã”, como contou na quarta-feira na Central Gerador: fazer os seus próprios cadernos.
Fazer de um hobby um modo de vida não parecia opção para Leticia, mas bastou ter coragem para se lançar para que tudo corresse da melhor forma. Formados em arquitetura, uniram forças na criação de livros e estacionário, encadernação e design editorial, com uma influência estética natural da geometria e dos padrões da arquitetura.
No atelier que partilham nos Anjos70 partilham ideias, fazem livros e cadernos, e abrem ocasionalmente as portas para ensinar encadernação através de workshops.
Vendem os cadernos através do site, que podes consultar aqui, e em feiras de auto-edição. Podes acompanha-los a partir da página do Instagram.
Serrote
O Caderno Toalha de Mesa é um dos best-sellers da marca
Um caderno com folhas de toalha de mesa, um caderno para desenhar tatuagens ou um caderno de música com o Bach. Estes três elementos que pouco parecem ter a ver uns com os outros têm em comum o estúdio que os pensa e assina: Serrote. Criado por Nuno Neves e Susana Vilela para recuperar técnicas que, já na altura, estavam a desaparecer, Serrote é uma das marcas de eleição entre tipógrafos e verdadeiros entendedores de estacionário pela forma como se mantêm fiéis às técnicas tradicionais.
Ao destaque dado pela imprensa nacional e internacional, da Monocle à Wallpaper, já se perde a conta e até quem não teve uma infância em Portugal lhes consegue reconhecer uma identidade que apela à nostalgia, ainda que com um design completamente novo. A formação de Nuno Neves em artes gráficas e a de Susana Vilela em design de comunicação permite que, tal como com Tiago e Leiticia, o match tenha resultado com tanta naturalidade e que se mantenha há mais de uma década.
É certo que os vás encontrar nas lojas d’ A Vida Portuguesa, para quem até já produziram cadernos exclusivos, mas têm uma série de pontos de venda que podes consultar aqui.
mishmash
A mishmash reinventa os conceitos do estacionário português
Fundada por Beatriz Barros e Ricardo Barbosa, membros do Another Collective, em 2015, a mishmash assume-se desde o princípio como uma marca que preenche uma lacuna: o estacionário que tem liberdade para arriscar e onde todos os produtos são vistos como experiências.
Beatriz é, na verdade, um daqueles casos em que o romper com os cânones tradicionais vem de um profundo conhecimento de causa. É que além de ser designer, cresceu entre os materiais da papelaria do avô que foi, na verdade, o ponto de partida para o caminho que mais tarde ia acabar por traçar.
De acordo com o comunicado que disponibilizam no site, Beatriz acredita que “os objetos de escrita têm a capacidade de agarrar ideias, tornar-se algo que não são, tornar-se um espelho da personalidade e da criatividade de cada pessoa”. Talvez por isso os seus cadernos sejam tão minimais, para que consigam crescer à medida de cada um.
À semelhança do Serrote, os seus pontos de venda encontram-se distribuídos por mais de 100 lojas em mais de 20 países diferentes. Podes vê-los e comprá-los através do site, e perceber melhor o seu sentido curatorial através da rubrica que assinam no Shifter em que dão a conhecer diferentes estúdios de design, “Os Bastidores da Criatividade”.
beija-flor
A beija-flor também se pode encontrar nas lojas d' A Vida Portuguesa
Tal como a mishmash, a beija-flor é uma marca de estacionário baseada no Porto. Surge em 2011 pelas mãos de Raquel e Su, “duas amigas designers”, “como forma de escape ao trabalho diário que tinham, em frente ao computador”. Juntas começaram a desenhar os primeiros modelos de cadernos, com azulejos a servir de inspiração para as capas, “e o beija-flor foi voando mais alto”.
Desde 2014 apenas Su está à frente do projeto que criou com Raquel e dá-se “um recomeço necessário, uma aposta pessoal e profissional que tem vindo a ganhar forma nos últimos anos”, como explica no texto sincero que deixa no “sobre” da marca, no site gerido por si.
Um ano depois da criação da marca, a beija-flor também se lançou na dinamização de workshops. No workshop Cria o teu caderno!, “papéis, decalques, autocolantes, carimbos e muito mais, são o ponto de partida para a criação de cadernos únicos e cheios de pormenores especiais”.
Podes consultar os cadernos e outros produtos que assinam, aqui.
A Semana do Estacionário Português acaba hoje, depois de uma série de três artigos dedicados ao tema e uma conversa na Central Gerador. Podes reler a reportagem sobre marcas clássicas do estacionário nacional aqui. e sobre A Vida Portuguesa aqui.