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Ensaio: Economia Criativa – uma economia dos bens intangíveis

Neste breve ensaio, Luana Bistane, formadora do curso Economia Criativa: uma revolução à vista na Academia Gerador, fala-te sobre a importância da criatividade para a economia, para o mundo e para o futuro.

Texto de Gerador

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A primeira vez que ouvi falar do termo Economia Criativa senti uma profunda confusão mental. Na minha cabeça, economia e criatividade eram termos que, se não diametralmente opostos, no mínimo não se poderiam combinar. Afinal, como era possível caber criatividade em teorias, sistemas e projeções?

Confesso que a princípio não compreendi muito bem esta combinação inusitada, mas, movida pela imaturidade dos meus então 26 anos, achei cool e decidi adotar a Economia Criativa quase que como seita.

É claro que para uma gestora cultural recém-formada, imaginar um mundo repleto cores, sons, ideias e sonhos era mais do que fascinante, era quase uma resposta dos deuses a dizer que estava no caminho certo, e que todas as angústias e inquietações dos meus pais face ao meu futuro profissional eram apenas por atraso e puro desconhecimento das revoluções do futuro.

Exatamente dez anos mais tarde, uma especialização, um mestrado, dois países novos de residência e muitos percalços no caminho, começo a compreender de maneira mais alargada que revoluções de futuro são essas, e como é que a reorganização das cadeias de valor económico mundial está a ser impactada pela criatividade de produzir novas ideias.

Sim, falamos precisamente sobre ideias! A Economia Criativa, termo cunhado pelo inglês John Howkins no seu livro The Creative Economy (2001), tem mais a ver com direitos de autor e patentes do que com a produção artística em si. Mas calma, não digo que os artistas e todo seu universo de criação não estejam também no centro deste novo paradigma movido pela criatividade.

O que entra aqui em questão é uma ampliação das perspetivas inerentes à economia da cultura ou das artes. Ou seja, para além das riquezas geradas através da produção simbólica de uma região e dos produtos das suas indústrias culturais, somam-se na perspetiva da economia criativa, os ativos que advêm da produção de conhecimento e das inovações tecnológicas e científicas.

A cultura e a criatividade têm-se mostrado molas impulsionadoras de inovação e desenvolvimento, e o resultado desse caldo efervescente tem conferido, às economias nacionais, respostas consistentes na produção de riquezas internas, muitas vezes mais promissoras do que os setores económicos tradicionais.

E, claro, ao que tudo indica, não poderia ser diferente. Isto porque falar sobre os setores tradicionais da economia remete-nos para a ideia de uma sociedade forjada pelos parâmetros da revolução industrial, que deram as bases que inauguraram a modernidade como a entendemos.

O ponto aqui em questão é que a modernidade erigida nos últimos duzentos anos já não se apresenta da mesma forma. Há quem afirme que estamos a passar por uma quarta revolução, ou revolução 4.0, mas é difícil estabelecer definições mais precisas quando ainda se vive no curso da História.

Numa compreensão singular sobre a metamorfose dos tempos atuais, Zygmunt Bauman (2001), filósofo e sociólogo poláco, sugere que vivemos numa Modernidade líquida em contraposição à Modernidade Sólida que marcou o final do século XX.

Assinalada pelos impactos das tecnologias da informação, aliados à livre expansão global das forças de mercado, a liquefação da modernidade é representada por alterações profundas nos padrões de sociabilidade.

Se a modernidade sólida era caracterizada pela rigidez, inflexibilidade e solidez das relações humanas, sociais, da ciência e económicas, a modernidade líquida é ágil e imprevisível. A impermanência ganha destaque e as relações interpessoais, económicas e políticas tornaram-se inconstantes e dinâmicas, maleáveis como a matéria no seu estado líquido.  

Ora, e o reflexo disso não poderia ser mais significativo do que a proposta de uma economia que já não está centrada em bens tangíveis e sólidos, mas sim em bens intangíveis, como é o caso da Economia Criativa.

Já não é preciso o investimento centrado “[...] na combinação de fábricas enormes, maquinaria pesada e força de trabalho maciça.” (BAUMAN, 2001, p.69), o que tem movido e gerado impactos económicos significativos têm sido as atividades baseadas no conhecimento, na arte e na cultura, que compreendem aspectos económicos, culturais e sociais (FLORIDA, 2011; HOWKINS, 2007).

Ou seja, se as indústrias tradicionais lidam com insumos que na sua maioria são finitos, as Indústrias Culturais e Criativas alimentam as economias com recursos advindos das capacidades da mente humana em produzir soluções e ideias constantemente inovadoras.

Neste sentindo, também se observa que a dinâmica deste novo contexto é alimentada pela perseguição da inovação, sendo ela o motor que impulsiona as engrenagens, e que coloca os países numa corrida na conformação dos seus parques tecnológicos, na criação de espaços e cidades com ecossistema criativo que dê vazão à combinação entre a Cultura e a Criatividade para impulsionar a criação de novos produtos e serviços com capacidade de criação de novas patentes ou direitos autorais.

Vai-se tornando mais evidente que ter o potencial para inovar impacta de forma significativa quando o assunto é a vantagem competitiva nessa nova economia. Conforme apontado por Florida (2011), aqueles que conseguem criar e continuar a inovar serão, em praticamente todos os segmentos, aqueles que irão obter sucesso a curto, médio e longo prazo.

Os países que já ocupam posições privilegiadas nesta corrida têm movido os seus esforços para permanecerem na linha de frente neste processo, com as suas economias robustas, os seus centros de investigação de renome e, em geral, a sua cultura empresarial moderna e ágil, permitindo, assim, que alguns desequilíbrios se acentuem na configuração desta nova Economia Criativa.

Desta forma, cabe aos países, às organizações e às pessoas, estarem atentos aos impactos e transformações desta nova morfologia global, construindo os seus planeamentos estratégicos, antevendo as mudanças e alinhando os seus propósitos para que não fiquem de fora ou ocupem uma posição marginal da nova ordem económica mundial.

-Sobre Luana Bistane-

Luana Bistane é mestranda em Cultura e Comunicação pela Universidade de Lisboa, especialista em Economia Criativa, formada pela Universidade Rey Juan Carlos - Madrid e bacharel em Cultura e Comunicação com habilitação em produção cultural.

Na área da investigação dedica a sua atenção a temas como Economia Criativa, Cultura e Estudos de Tendências. Em 2017 criou a LadoBe Creative Agency em Lisboa fez a consultoria de gestão e posicionamento de carreira do grupo Viva o Samba Lisboa, e realizou os espetáculos: Duelo - Tiago Soares e Marcelo Bratke, no Teatro Tivoli BBVA, Nando Reis no Coliseu de Lisboa, Luedji Luna no B.leza, Criolo no LAV, e João Donato também no B.leza. Em 2020 criou a plataforma Reverbera, que tem como intuito apoiar os artistas independentes frente a crise resultante do COVID-19. No Brasil também colaborou na produção de diversos eventos culturais e foi Diretora Executiva da Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA) por quatro anos, tendo também acompanhado o mestre da música brasileira, Gilberto Gil.

Na Academia Gerador, Luana Bistane é a prof. do curso Economia Criativa: uma revolução à vista. Clica aqui para te inscreveres neste curso e ficares a dominar importantes ferramentas que te ajudam a compreender o funcionamento da Economia Criativa e te permitem reposicionares-te face aos novos tempos.

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