

Para quem está a ler isto em 2050: os humanos foram enganados. Já não é possível evoluir para adulto independente. Ficámos todos presos em corpos de adultos, com responsabilidades de adultos, mas sem a mínima oportunidade de adquirirmos as ferramentas certas para chegar ao nível seguinte.
Somos em demasia; ocupamos quase todo o espaço, consumimos quase toda a comida, sabotamos quase todas as relações e destruímos quase tudo o resto. Fomos corrompidos.
Não sei quanto tempo vai demorar até que nos adaptemos a estas novas condições, mas sei que iremos inventar qualquer coisa. Somos idiotas e é sempre isso que nos safa. É precisamente na nossa capacidade de adaptação que eu apostaria as minhas fichas. (Será que ainda existem casinos?).
Daqui consigo prever um maior número de humanos a viver em comunidades e um maior respeito pelos mais velhos – quase exigido – tendo em conta que representam a grande maioria da população mundial.
Há muito que devem ter deixado de existir os “humanos de etapas”; os que evoluíram até chegar a adulto independente e terminaram os seus dias como séniores. Hoje, ser adulto não deve ser a norma, mas sim o ser de idade adulta.
Em 2022 tornou-se claro que os adultos independentes que restavam já não queriam ter filhos. Uns por não terem condições financeiras e outros por medo do futuro incerto.
Houve uma mutação, algures, que nos diferencia das gerações anteriores. Em nós e à nossa volta. Não é claro.
Sejamos nós o que formos, com nome ou sem nome, espero que tenhamos conseguido arranjar maneira de sermos felizes. Por mais piroso ou inútil que isso possa parecer depois do cenário quase apocalíptico que aqui descrevi.
Que o cair da raça humana adulta independente, se possa tornar num exercício de aprendizagem para sermos melhores seres humanos.
À vossa!