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Entrevista a Susana Arrais: “A televisão tal como a conhecemos está a mudar, por isso temos de nos reinventar”

Na semana em que se comemoram 45 anos da Revolução de Abril, o Gerador reúne…

Texto de Ricardo Gonçalves

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Na semana em que se comemoram 45 anos da Revolução de Abril, o Gerador reúne em Oeiras, três atores portugueses para uma conversa sobre Liberdade. Susana Arrais, uma das oradoras do painel, é, hoje em dia, uma cara conhecida da ficção nacional. A atriz começou pelo teatro, passou para a televisão mas não descorou na formação e na importância de “sermos interventivos em sociedade”, precisamente pela liberdade que nos foi dada em democracia.

Com 15 anos começou a fazer teatro, num grupo amador ligado ao Liceu de Oeiras, onde passou a sua adolescência. Nessa época, já no ensino secundário, estudava artes plásticas e tinha como objetivo seguir essa área de formação no ensino superior. No entanto, o bichinho da representação começou a ganhar terreno faço àquilo “que seria a escolha mais normal, de ir para Belas-Artes, por exemplo”, conta.

“A certa altura, o teatro começou a ter um impacto mais pessoal na minha vida, tão forte que não consegui deixar de o fazer”, explica, realçando que, ainda assim, achava na altura que se trabalhasse na área do espetáculo estaria ligada, muito provavelmente, à cenografia ou à direção de figurinos.

Desafiada por um amigo, acaba por fazer as provas para a Escola Superior de Teatro. “Quando comecei a subir rua no Bairro Alto (onde estava o Conservatório Nacional), fiquei empolgada com aquele mundo tipo Fame. Lembro-me de pensar «tenho que tentar isto!»”.Com opção de escolha em duas áreas - uma de formação de ator e outra de realização plástica do espetáculo – Susana teve um daqueles momentos de decisão rápida mas suficientemente assertiva: “escolhi a de teatro e fiquei”.

A partir daí esteve três anos a fazer a formação de ator, que antes era bacharelato, e depois uma formação chamada CESE (Curso de Estudos Superiores Especializados) que, para quem tinha a formação de ator, conferia a licenciatura.

É também nessa época que tem a sua primeira experiência em televisão. Estávamos em 1997 e foi para uma série da RTP chamada “Riscos”. A par desse momento, Susana Arrais destaca também um casting para a série “Espírito da Lei”, em que seria escolhida para o papel de protagonista.

“Nessa altura achava que a televisão era uma coisa muito complicada e que não tinha muito quever comigo, no entanto era uma dimensão da profissão que tinha escolhido que ainda não tinha testado”, sublinha.

Tal como o teatro, o “bichinho da televisão” ficou e a partir daí tornou-se, gradualmente, num rosto conhecido da ficção nacional, tendo passado por inúmeras novelas de sucesso como os Morangos com Açúcar, Ilha dos Amores, Deixa que Te Leve, Meu amor e Mulheres.

No teatro, que não deixou de lado, Susana Arrais tem investido na vertente do teatro infantil, “que tem o público mais exigente de todos”, sustenta. Presente está também a vertente da educação, que a levou a fazer mestrado em Educação Artística e a dar aulas a jovens atores.

Ao questionar-se sobre o que significa ter uma carreira no mundo da representação, Susana Arrais advoga sobretudo que, nos dias que correm é preciso “estar sempre em aprendizagem, caso contrário estagnamos”.

Por outro lado, e olhando para o panorama audiovisual, Susana Arrais está bastante consciente das mudanças, adjacentes ao advento das novas plataformas digitais. “A televisão tal como a conhecemos está a mudar e vai ser muito diferente em pouco tempo, por isso temos de nos reinventar, criar outras coisas. Há novas plataformas, coisas novas a acontecer e temos de estar disponíveis para vivermos nesse mundo”.

A televisão é um meio privilegiado para se chegar a mais gente, mas, acima de tudo, as escolhas profissionais que faz, tem de fazer sentido e partir de uma motivação com liberdade.“Estou naquela fase da vida em que vejo muita gente a reinventar-se, com um outro questionamento do mundo. Vejo colegas da minha geração com uma grande força e liberdade. Adoro a energia dos mais jovens, que querem provar o que valem. Chegas a esta fase e há uma certa liberdade que se ganha”.

Ainda no plano da formação, para a atriz, falta mudar o sistema de ensino, no qual o campo artístico não seja negligenciado ou esquecido. “Esse tipo de formação devia estar muito mais integrada no sistema educativo e devia ser algo natural”.

“Para se ser ator não há um percurso, há muitos caminhos possíveis. Eu valorizo muito a formação, mas independentemente disso, faz me muito confusão que o sistema esteja feito para que as crianças sejam todas iguais e para que cheguem todas aos mesmos patamares, na mesma altura da vida. Isso é horrível. Uma pessoa que seja mais artística talvez não chegue ao mesmo nível na matemática, mas ao contrário isso também acontece”, acrescenta.

Pensando no conceito de liberdade, a atriz considera que não basta anotar estes e outros problemas numa lista para depois recitar. “Imagino que se vivermos num regime de opressão essas condicionantes serão decisivas. Nós não vivemos nesses contextos e por isso temos liberdade efetiva para o nosso impulso artístico. Desta forma, todos nós atores, temos a responsabilidade da ajudar a formar públicos e assim, tirar partido da liberdade que antes não tínhamos”, salienta.

Susana Arrais vai integrar a conversa “Três Atores Falam sobre Liberdade” esta quinta-feira, dia 25 de abril, às 16h00 na Galeria Verney, em Oeiras. Junta-se a Almeno Gonçalves e Pedro Górgia para uma conversa em que se pretende explorar o papel da liberdade no dia a dia de cada um de nós e, mais concretamente, no universo da representação. Sabe mais sobre esta conversa, aqui.

Texto de Ricardo Ramos Gonçalves
Fotografias de João Silveira Ramos

Se queres ler mais entrevistas sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

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