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Entrevista a Miguel Oliveira: “tudo pode mudar enquanto existirem pessoas e plataformas que se interessem em divulgar e fazer chegar a cultura o mais longe possível”

Sensível aos detalhes e exímio em mostrá-los, Miguel Oliveira desdobra-se em múltiplos projetos e ideias…

Texto de Gerador

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Sensível aos detalhes e exímio em mostrá-los, Miguel Oliveira desdobra-se em múltiplos projetos e ideias pelas quais não cessa de lutar. O jovem fotógrafo de 28 anos, natural do Porto, juntamente com o videógrafo André Martins, abriram um estúdio fotográfico na Rua do Almada, a Point and Shoot, na cidade Invicta, onde exploram a estética por de trás das coisas. Pelas suas mãos já passaram projetos para a Nelo, a Ibero Massa, a Vivobarefoot e ainda o Portugal Fashion.

Para além do estúdio, Miguel leva a cabo projetos individuais que expõe na plataforma Instagram, desde retratos intimistas a concertos. Querendo saber mais sobre a sua visão e percurso, o próprio conta ao Gerador como desde cedo estava predestinado à fotografia e o que tem vindo a fazer desde então. 

Lisboa por ©Miguel Oliveira

Gerador (G.) – Conta-nos mais sobre ti: de onde vens, onde estás e para onde vais?

Miguel Oliveira (M. O.) – Desde muito cedo graças aos meus pais, avós e bisavós, sempre tive uma ligação muito grande com o mundo das artes, mais concretamente com o desenho e com a música, que foi algo que estudei até aos 14 anos. Sempre disse que queria ser arquiteto, e, efectivamente, cheguei a estudar arquitetura durante dois anos até ter decidido parar e dedicar a minha total atenção à fotografia. Em 2012, comecei a trabalhar para alguns jornais nomeadamente o Porto24 e a fazer alguns trabalhos para o P3 do Público e também a trabalhar com o Canal180. Em 2013, criei a Point and Shoot, um estúdio de fotografia e vídeo, onde faço a maioria de todos os trabalhos juntamente com o André Martins.

Atualmente na Point and Shoot, fechámos uma parceria na área do design com a RDS Design, o que nos leva a conseguir abranger mais áreas e a ter um lado mais criativo nos nossos projetos e trabalhos. Continuo também a realizar alguns projetos pessoais, tais como o Off the Record, criado em 2015, no qual retrato Mulheres de uma forma mais natural e intimista.

Para o futuro, ando a preparar umas coisas novas a nível de retratos e ando com um projeto mais documental, que espero que esteja terminado pelo final do ano. Tenho também em mente voltar a fazer uns trabalhos fora de Portugal, mas só o tempo dirá!

G. – Como surgiu a fotografia na tua vida e qual foi o momento que te fez querer fazê-la a tua arte?

M. O. – Os primeiros passos foram dados por causa do meu pai, que sempre gostou de fotografar e me foi ensinando desde muito cedo. Depois comecei a fotografar concertos aos 15/16 anos e, aí, já quase não havia volta a dar. Acho que quando fui estudar arquitetura já sabia que, mais tarde ou mais cedo, ia ser fotógrafo. O que acabou por acontecer dois anos depois.

A Day with Sara, de ©Miguel Oliveira

G. – O teu trabalho é bastante vasto e completo, encontramos fotografias de festivais como retratos, mas se pudesses escolher um só tipo de fotografia qual seria?

M. O. – É uma pergunta complicada, a minha primeira vontade foi dizer fotografia de rua, mas acho que vou dizer aquilo que fiz durante anos e que vou continuar a fazer que é fotojornalismo, visto que creio que é uma área que nos obriga a fotografar de tudo um pouco.

G. – Fala-nos da tua perspetiva fotográfica em digital e analógica.

M. O. – Eu já cresci a fotografar em digital. Só comecei a fotografar em analógico em 2012. Então a minha relação com o analógico ainda está muito em fase de experimentação, mas ultimamente tenho recebido pedidos para fotografar especificamente em analógico. Para mim existe sempre a imprevisibilidade do resultado final, e, se formos nós a fazer a revelação, é incrível ver a fotografia a aparecer à nossa frente, acho que é das melhores sensações em todo o processo. Acaba por ser algo que nunca vamos ter com a fotografia digital.

G. – Explica-nos o teu processo criativo: como é o pré, durante e pós composição fotográfica?

M. O. – Depende muito do que estiver a fotografar, como vim da escola de fotojornalismo, na maior parte das vezes tento deixar que a ação se desenrole e vou só apanhando os momentos. Se for algo mais pessoal, tento primeiro ir ao local algumas vezes para tirar algumas fotografias e depois no estúdio analiso as imagens e vejo que temas é que posso abordar e que caminhos posso seguir. Mas costumo fazer muitas coisas por instinto, acho que é a forma mais genuína de criar algo.

ASAP Rocky no NOS Primavera Sound pela lente de ©Miguel Oliveira

G. – Como vês a relação fotografia redes socias/plataformas de partilhas fotográficas?

M. O. – Nos últimos anos tem sido a melhor forma de divulgar o nosso trabalho. Principalmente com o Instagram nos últimos tempos a passar a perna ao Facebook e outras plataformas. Embora também acho que com esta nova era das redes sociais, por vezes, nem sempre o nosso trabalho ou a fotografia sai valorizada, porque cada vez mais existem pessoas a fotografar e a achar que o sabem fazer e, quando vais a ver, é tudo igual e toda a gente se copia. Por isso, pode ser mais difícil fazeres chegar o teu trabalho a quem interessa. Mas também acho que existe lugar para toda a gente. É encarar tudo isto como um desafio.

G. – Para além da fotografia, tens outros projetos que nos possas contar um pouco mais?

M. O. – Ideias para outros projetos existem sempre, o problema acaba por ser a falta de tempo para os fazer. Mas num futuro próximo gostava de explorar mais o lado da música que foi algo que sempre deixei de lado, mas gostava de retomar.

Instante das Manifestações em Paris capturado por ©Miguel Oliveira

G. – A nível nacional, como vês o meio artístico/fotográfico?

M. O. – Tenho a sorte de ser amigo e de me dar com alguns artistas do nosso país, não só fotógrafos, mas ilustradores, street artists, músicos, atores, etc., e acho que estamos de muita boa saúde. Não ficamos nada atrás, antes pelo contrário, daquilo que se faz lá fora, o problema acaba por ser mesmo a nossa escala territorial e a mentalidade do nosso país que se habituou a ver a cultura como um bicho de sete cabeças, salvo algumas pessoas. Mas penso que tudo pode mudar enquanto existirem pessoas e plataformas que se interessem em divulgar e fazer chegar a cultura o mais longe possível.

G. – Se daqui a 5 anos voltarmos a conversar, como esperas estar a nível profissional?

M. O. – Se não for melhor, pelo menos, igual. Conseguir contar e mostrar mais histórias das pessoas e do que se passa pelo mundo através da fotografia e talvez expandir a Point and Shoot para fora de Portugal, mas até lá continuar a conseguir fazer o que mais gosto que é fotografar.

Texto de Rita Matias dos Santos
Fotografia de ©Miguel Oliveira

Se queres ler mais entrevistas sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

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