Na análise que fazemos esta semana ao Barómetro Gerador Qmetrics focamo-nos na relação dos portugueses com o cinema, nomeadamente com o cinema português. Como seria expectável, os filmes parecem ter tido um papel central no consumo cultural durante o período de restrições, e, no entanto, apesar dessa proeminência, deparamo-nos com uma discrepância significativa entre esta área cultural e várias outras no que toca ao conhecimento de autores portugueses.
À data do questionário, 93.3% das pessoas haviam já visto um filme, sendo que, no caso dos mais jovens, o total era de 98.4%. Relativamente ao consumo cultural antes e depois das restrições de circulação, foi precisamente neste campo que se evidenciou o maior aumento: cerca de 61% das pessoas afirmaram estar a ver mais filmes do que anteriormente, o que é natural devido ao acesso facilitado que existe a este tipo de conteúdo a partir de casa. No entanto, apesar da importância da internet e das plataformas de streaming, é interessante constatar que a televisão continuou a ser o meio de eleição para o consumo de filmes pela generalidade dos inquiridos.
Na verdade, cerca de 70% das pessoas declararam ter intenção de continuar a ver filmes na televisão mesmo depois das restrições de circulação já não se aplicarem. Por outro lado, também os espaços de cinema continuarão a ter uma grande relevância: é de destacar principalmente a preferência dos mais jovens pelos mesmos, sendo que 85,5% das pessoas entre os 15 e os 24 anos continua a querer ir ver filmes às salas de cinema.
No âmbito do estudo deste ano, quisemos também perceber até que ponto os produtos culturais consumidos durante as restrições de circulação tinham origem portuguesa. De facto, 85,2% dos inquiridos que assistiram a espetáculos de teatro, afirmam ter visto pelo menos uma peça portuguesa. Já a nível de concertos, 65,4% afirmam ter assistido a concertos de artistas nacionais e, no caso da literatura, também 46,5% das pessoas leram um livro de um autor ou autora portugueses. No entanto, apesar do consumo de cinema ter aumentado nesta fase, é possível concluir que, com apenas 32.4%, esta é a dimensão com uma expressão portuguesa menos assinalável.


Não é então surpreendente que, quando questionados acerca do realizador ou realizadora portugueses que mais admiram, 73% dos portugueses tenha optado por não nomear nenhum. No caso dos mais jovens, foram 90% aqueles que não souberam ou não quiseram responder.
À excepção de Manoel de Oliveira, a maioria dos realizadores citados apresenta percentagens muito pouco significativas, demonstrando que não há uma notoriedade muito grande de realizadores portugueses entre a população.
É também importante realçar o facto de esta ser a única categoria, entre as várias abordadas no estudo, onde existe uma ausência total de mulheres no top 10 (algo que já havia sucedido no Barómetro de 2019), embora 0,3% dos mais jovens refira o nome de Leonor Teles e Teresa Vila Verde acabe por surgir na faixa etária dos maiores de 55, também com uma percentagem muito pouco significativa.


Quinzenalmente mergulhamos no Barómetro Gerador Qmetrics para trazer análises dedicadas à relação dos portugueses com a cultura. Fica atento aos próximos artigos :-)
Síntese Ficha Técnica
O universo do estudo é constituído por indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos, residentes em Portugal Continental e Ilhas. A Amostra, com 1.201 entrevistas validadas, foi estratificada por região, sexo e escalão etário, em Portugal Continental, e por Ilhas, e distribuída em cada estrato de acordo com a repartição da população alvo em cada estrato. As entrevistas foram realizadas de 20 de abril a 7 de maio de 2020, através de um questionário aplicado online utilizando o método CAWI (Computer Assisted Web Interview). Os resultados são apresentados com um nível de confiança de 95%. A margem de erro para a média na escala 1 a 10 é de 0,15 pontos e a margem de erro para a proporção é de 2,83 pontos percentuais.