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“As pessoas [da aldeia de Fortes] têm mesmo a vida completamente perturbada com a atividade da fábrica”

Para alertar a sociedade e dar voz a uma “população que tem sido menosprezada e…

Texto de Sofia Craveiro

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Para alertar a sociedade e dar voz a uma “população que tem sido menosprezada e esquecida”, Sandra Cóias e Pedro Rego produziram e realizaram o documentário “O Lado Negro do Azeite”. Este trabalho, que aborda os impactos ambientais da produção de bagaço de azeitona junto à aldeia de Fortes, em Ferreira do Alentejo, mostra de que forma a indústria prejudica a vida dos cerca de 60 habitantes da aldeia alentejana, que vêm o seu quotidiano totalmente condicionado pela poluição do ar e mau cheiro provocados pela atividade da fábrica. A intenção é que funcione como um alerta para um problema que se perpetua, além de “ajudar a divulgar uma alternativa a estas fábricas”.

O documentário esteve presente na 27ª edição do CineEco - Festival Internacional de Cinema Ambiental, onde recebeu a Menção Honrosa Televisão (Competição de Séries e Reportagens Televisivas), bem como o Prémio Juventude de melhor reportagem de Séries Televisivas (Júri da Juventude).

Em entrevista ao Gerador, a atriz e ativista ambiental Sandra Cóias e o fotógrafo de vida selvagem e realizador Pedro Rego, explicaram porque motivo quiseram contar esta história: “A vida [dos habitantes de Fortes] está completamente condicionada”, relatam.


Gerador (G.) - Este documentário incide sobre os impactos da olivicultura e da indústria que degrada a qualidade do ar. De que forma é que a atividade está a afetar a vida da população de Fortes?

Sandra Cóias (S.C.) - Há 12 anos, desde que ali foi implementada aquela fábrica - porque antigamente ela era uma fábrica de processamento de tomate, ou seja, não produzia poluição nenhuma, pelo contrário, até dava trabalho à grande maioria das pessoas, que podiam escoar os seus produtos - sem qualquer aviso das populações, começaram [a laborar]. Nem se viu que fábrica tinha sido implementada ali. [As pessoas] começaram a sentir um odor estranho, começaram a sentir aquela aflição em respirar, o ar muito pesado e não sabiam [o que era], porque ninguém as informou sobre o que é que tinha sido ali implementado, de um momento para o outro.

O cheiro foi-se agravando cada vez mais e elas começaram a enviar cartas para todo o lado: CCDR's [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional], APA [Agência Portuguesa do Ambiente], por aí fora sem obterem respostas (mesmo fazendo queixa à polícia). E o que acontece é que a vida delas está completamente condicionada, seja ao sair de casa, seja ao estar dentro de casa, seja um simples estender de roupa. Está tudo condicionado pela fábrica. Então, é horrível ver que há imensas pessoas a ficarem doentes, pessoas com 80 anos que nunca fumaram na vida e o médico a dizer-lhes que elas têm que deixar de fumar.

G. - E qual é o impacto que esta empresa tem na economia local? Tem um peso assim tão significativo?

S.C. - Não. É incrível. Esta fábrica está ali há 12 anos e só empregou duas pessoas de Fortes. Uma foi despedida há três anos e o outro foi despedido agora, em agosto.

G.- Ou seja, neste momento não têm ninguém [da aldeia]?

S.C. - Não têm ninguém. Ou seja, eles não dão trabalho a ninguém local. Eles chegaram ali, implementaram-se ali, poluem, mas não dão trabalho a ninguém.

Aquilo pertence à Migasa, que é uma empresa espanhola, e o próprio dono teve o atrevimento de ir lá há uns anos, quando começaram as queixas, para oferecer às pessoas óculos - só se for para elas verem melhor o fumo - e oferecerem uma capela - só se for para as enterrar também [risos]. Isto é ridículo não é? Ou seja, não se fala com as populações e há um total desprendimento e despreocupação em relação àquilo que se está a provocar a esta população já idosa, que não se consegue dormir...

Pedro Rego (P.R.) -Sim... É também importante referir que a Migasa, sendo um grupo espanhol, não gera qualquer riqueza para a população ou para Portugal inclusive. Ou seja, este composto que fica da azeitona, obviamente que é um resíduo que tem que ser eliminado mas, depois, o que eles fazem é transformar este resíduo em bagaço de azeitona, que [é um produto] que não tem qualquer tipo de expressão em Portugal. Não tem expressão económica, ou seja, isto é apenas consumido em Espanha e nos Estados Unidos.

S.C. – É um óleo de fritar que só em Espanha e nos Estados Unidos é que se usa.

P.R. – Portanto, mesmo em termos económicos, nós não temos qualquer tipo de benefício com esta atividade.

G. – Ou seja é um produto que ninguém consome cá e serve apenas para exportação.

P.R. – Exatamente.

G. – Mas podem explicar mais ou menos como funciona esse processo de transformação, desse óleo?

S.C. É o chamado bagaço de azeitona, porque é a polpa. Quando nós temos muita azeitona é tudo prensado, há uma forma de extração em que é retirado o azeite. O que é que sobra: sobra a polpa da azeitona, a casca e o caroço. Essa combinação é altamente tóxica e poluente se for deixada no meio ambiente, se ficar parada. A questão é essa.

Eles nunca nos deixaram visitar a fábrica nem responderam às nossas questões. Tudo o que nós sabemos foi através de pesquisa que fizemos. Fizemos pesquisas na internet [para perceber] como é que funcionava o processo e aquilo, como o próprio engenheiro David Catita [diz] - que nos dá uma entrevista no nosso documentário - aquilo passa por um processo de queima, que depois queima outra vez e depois queima outra vez, mesmo com imensos produtos químicos, alguns derivados da gasolina...

P.R. - E antes disso ainda fica naqueles piscinas com água durante algum tempo, a "marinar" como eu costumo dizer. Aquilo, obviamente, enquanto está ao ar livre gera cheiros e mosquitos e insetos e gera também as chamadas águas russas, que eram altamente poluentes para os rios e que agora, obviamente, [estão] proibidas, mas eles continuam a fazer.

G. - Mas este problema já foi discutido e até levado à Assembleia da República, por alguns deputados. Porque é que não há qualquer tipo de intervenção política? Porque não houve nenhuma medida que tenha sido tomada, na vossa opinião?

S.C. - Há várias resoluções, os partidos concordaram todos que alguma coisa se devia fazer, mas depois nada vai para a frente, porque a própria fábrica já foi fechada. A APA já lá foi em 2018, fazer testes e os níveis eram 35 vezes mais o valor daquilo que era permitido por lei. Agora saiu uma diretiva da União Europeia - penso que há duas ou três semanas - que [diz] que [a quantidade de partículas expelidas para o ar] só pode ser de 15 partes por milímetro e, entretanto, cá em Portugal, ainda são permitidas 50. Quer dizer... então, o que estamos a fazer às pessoas? Nós andamos a envenenar as pessoas.

P.R. - É que mesmo esses 50, eles são ultrapassados, inclusive. Viu-se que, de facto, houve essas resoluções, está escrito em lei, mas o que acontece é [o mesmo] que acontece com tudo em Portugal: falta fiscalização. E isto - não querendo acusar obviamente de nada nem ninguém - mas aquilo que nos pareceu e aquilo que nos foi transmitido, é que as próprias entidades avisavam a fábrica quando iam lá fazer testes. A fábrica sabia e, durante essa semana, eles reduziam imenso as emissões de fumo. Portanto, não querendo estar aqui a acusar ninguém nem a levantar falsos testemunhos (senão ainda vamos a tribunal), o que nos foi transmitido - Isto não é uma opinião nossa foi-nos transmitido - que poderia haver esse conluio com as entidades que detêm essa responsabilidade de fiscalizar.

S.C. -  Aliás, o dia em que nós dissemos que íamos lá a fábrica estava a trabalhar...

P.R. - ...a meio gás.

S.C. – O fumo que saía era ridículo. [As pessoas] perguntavam-nos: “Vocês avisaram que vinham cá?”. E nós [respondíamos que] sim.

G. - Acham que isso acontece por se tratar de uma pequena povoação? Pelo que sei são cerca de 60 pessoas [a residir lá].

S.C. – Sim, são à volta de 60 e pouco. É a freguesia mais pequena de Ferreira do Alentejo.

Sim, eu acho que sim. A grande parte das pessoas já são idosos. Eles próprios nem sabem como lidar com o problema, porque antigamente chamavam a polícia, que chegava lá e não dizia nada. Quer dizer...

Então, toda esta papelada [que permitiu] tratar deste processo todo, arranjar uma advogada [tudo era difícil], até que a Fátima apareceu. A Fátima Morão, que é a presidente da Associação dos Amigos das Fortes, apareceu e começou a mandar cartas para a CCDR, a APA, a exigir [explicações]. Conseguiram levar isto três vezes à Assembleia [da República]. Quer dizer, se não fosse a Fátima ter aparecido, essas pessoas nem sequer sabiam, durante todos estes anos, o que fazer. Queixavam-se ao presidente da Câmara e isto era desvalorizado, porque, como é algo que traz, possivelmente, algum rendimento, alguns benefícios monetários para as câmaras, eles estão pouco [importados], ou seja, a vida de 60 pessoas não interessa, não tem impacto. E depois, há muita gente que tem medo de falar. As pessoas que estão a tentar fazer alguma coisa nesta associação são só umas nove ou dez, porque as outras têm bastante medo. Têm medo que lhes tirem as pensões, têm medo de falar, têm medo de dar a cara, como dizem no nosso documentário. As pessoas têm medo de dar a cara, têm medo de falar sobre esta problemática, têm medo de represálias, têm medo do que pode acontecer. É um meio muito pequenino, ainda há um pensamento muito...

G. - Qual seria, na vossa opinião, um dos caminhos possíveis para solucionar isto? Apenas o fecho da fábrica ou haveria alguma forma de reduzir o impacto da atividade?

S.C. - Existem várias formas. Só para explicar aquilo que eu estava a falar [antes]: o grande problema, e [o motivo] porque ainda não foi feito nada, é porque o mau cheiro não tem legislação. É incrível, porque eles já apelaram à União Europeia. Não existe legislação. Ou seja, existe legislação para vários tipos de poluição só que não existe para o mau cheiro. E, neste caso, isto é uma falha que não está legislada. É tem um cheiro horrível, pestilento que está ali, só que não há legislação para isso.

P.R. - Sim e acima de tudo, uma vez mais, são os interesses económicos que imperam. Estas fábricas existem em mais pontos do país. Se calhar esta fábrica de Fortes é a mais problemática, por estar mesmo em cima da população.

Por exemplo, nós temos uma fábrica em Valpaços, ali perto de Mirandela, que faz a mesma coisa, só que, como está um bocado mais longe das populações, acaba por passar um bocadinho mais despercebida. Mas o cheiro está lá na mesma. As populações estão incomodadas na mesma, mas o que é que acontece: como as pessoas acham que precisam disto para conseguirem fazer dinheiro através da azeitona e do azeite, então é um mal menor e acaba por imperar a vertente económica acima da vertente ambiental e de saúde. Mas em Fortes é diferente, porque aquelas pessoas têm mesmo a vida completamente perturbada com a atividade da fábrica.

G. – De facto, vi um comentário onde era referido que o cheiro se sente mesmo dentro de casa e que, por exemplo, a roupa que se põe a secar na rua fica com gordura...

S.C. - Logo de manhã - eles acordam muito cedo, por volta das 6 da manhã - olham e veem para onde é que está o fumo. As pessoas fazem sua vida em função [da direção] para onde o fumo está. Isto é horrível! Lavam roupa e não podem estender se o fumo estiver para este lado. Depois, a roupa também fica dentro da máquina a ganhar mau cheiro. Na própria casa não podem estar. As pessoas tiveram que cimentar as suas próprias chaminés. Não usam as chaminés para não entrar o fumo! Por baixo das portas, têm de pôr panos molhados, toalhas molhadas, para não entrar o fumo, para bloquear o fumo, porque se o fumo começa a entrar elas não conseguem estar dentro de casa, [e também] não conseguem estar na rua, porque o fumo está lá fora. Há vizinhos que moram na mesma rua - atenção, Fortes é uma rua que tem cerca de 300 metros - e as pessoas não se veem. São portas com portas e as pessoas não se veem. Passavam meses que não se encontravam, fechadas em casa.

G. – É algo que tem mesmo impacto em todos os aspetos da vida daquelas pessoas.

S.C. - Sim. As pessoas sentem-se mal. Agarram no carro - o senhor Lino diz isso no documentário: "já viu o que é, eu querer ir a Ferreira do Alentejo, quero ir ali, quero ir acolá, tratar de assuntos. Visto-me, saio de casa, e só de entrar dentro do carro o cheiro [vem] e depois chego ao pé das pessoas..." - e ele faz assim [uma careta]- "e as pessoas chegam ao pé de mim e eu estou a cheirar a azeite?"

P.R. – Muito complicado.

S.C. – É cómico esta parte. Ele diz isto e ficamo-nos todos a rir no documentário...

P.R. - ... mas é a realidade. Em relação às alternativas e às soluções, elas existem. Como estava a dizer a Sandra, nós temos, no documentário, o testemunho do engenheiro David Catita, que pertence à EDIA [Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, S.A.] e neste momento têm um projeto de compostagem. Basicamente, [a ideia] é criar aquilo que ele chama de ursas, que são zonas de compostagem onde os produtores de azeite podem ir deixar os resíduos da azeitona. Depois composta-se e aquilo vai fazer fertilizante natural, para a terra. Portanto, basicamente, a ideia deles é que os agricultores, sem custos, possam deixar lá os resíduos da azeitona e outros e levam o fertilizante para a terra, fazendo a tal chamada economia circular. Nada é desaproveitado.

Neste contexto, da queima dos resíduos, estamos a desaproveitar um valor que poderia ser depois transformado em fertilizante e estamos a queimá-lo para a atmosfera. Estamos a desaproveitar aquilo que a natureza também nos dá. Existe ainda outra alternativa, que eles estão a trabalhar também, que é a instalação de filtros que eliminam - pelo menos dizem eles - totalmente os maus cheiros e os resíduos tóxicos. o único que seria expelido para a atmosfera seria vapor de água. Essa é uma solução em termos ambientais ou em termos de saúde que também poderá resultar, no entanto, não é tão bom como a compostagem porque não temos a economia circular, queimamos para a atmosfera na mesma.

S.C. - Sim. Nos dias de hoje, todos nós devemos ter atenção. Quanto mais praticarmos, quanto mais circular [a economia] for, melhor é, e o ambiente ensina-nos a fazer isso. A natureza faz isso naturalmente. Não é preciso inventar nada, é só copiar aquilo que ela faz.

P.R. -Até porque, agora, cada vez mais - nós não falamos muito nisso no documentário, será outro tema - cada vez mais no Alentejo nós temos a agricultura super intensiva e as pessoas, os empresários que estão a fazer essa exploração com vista ao lucro fácil e rápido - porque agora até se fazem apanhas duas vezes por ano - usam muitos fertilizantes e muitos químicos. Aquilo depois, com as chuvas e com a movimentação das águas, vai parar aos rios, às nascentes etc. Portanto, com essa solução da compostagem, estaríamos também a travar esse aumento desmesurado de químicos e de fertilizantes químicos na terra.

G. Faz sentido, então, falar tanto de metas energéticas, Acordo de Paris, descarbonização, etc., a um nível macro, se depois ao um nível micro continuam a acontecer este tipo de situações e continua a não haver fiscalização?

S.C. -Não, não faz sentido. Estamos a caminhar cada vez mais - a caminhar em papel e em palavras porque na prática nada está a ser feito e implementado ainda - para uma descarbonização da indústria, mas, depois, isto na prática não funciona, porque, infelizmente, tudo o que o Homem faz [é prejudicial]. Nós temos esse exemplo, a História já nos trouxe vários exemplos e este do subproduto do azeite é um mais um. Nós pensamos naquilo que vamos fazer, temos as ideias fantásticas: "vamos fazer isto", "vamos fazer aquilo", mas depois não é pensado no destino que se vai dar esses resíduos. Nunca é pensado. É tudo pensado em relação ao lucro. E este ano vamos ver, porque nós vamos agora a Ferreira do Alentejo. Está a começar a altura da apanha agora, estão a começar a entregar. Os camiões estão a começar que nem loucos a irem para lá... Ou seja, se já no ano passado se avizinhava um caos, acho que vão bater todos os recordes este ano.

P.R. - Ou seja, vamos ter mais produção, vai ser gerado mais resíduo do bagaço, vai-se queimar mais, vai poluir mais e aquelas pessoas ainda vão sofrer mais. Portanto, avizinha-se um ano muito mau para Fortes e para todos os habitantes.

O principal objetivo deste documentário é dar voz a estas pessoas, é tentarmos remediar o problema ou mesmo resolvê-lo, e que se começa a falar cada vez mais destes problemas, que passam muitas vezes ao lado das instituições que deveriam fiscalizar este tipo de atividade.

S.C. - Sim, porque nunca ninguém da direção da Direção-Geral de Saúde foi a Fortes falar com as pessoas. A APA classificou como mau o ar que era dado a respirar às pessoas em Fortes, em junho ou julho de 2018, mas nunca ninguém foi lá.

G. – Nunca ninguém avaliou o impacto que isso pode ter na saúde das pessoas...

S.C. - Exatamente. E há muita gente que está a ficar doente, com problemas respiratórios. Então mas vêm de quê? E nós esquecemo-nos de uma coisa muito importante: Fortes não é estanque. Não há uma cúpula em cima de Fortes e aquele ar fica ali. Não. Aquilo chega até mais longe. Como diz a dona Rosa no documentário: "isto vai fazer mal até até mais longe".

P.R. -  Sim. Chega a Ferreira do Alentejo, chega inclusive a Beja. Está a uns largos quilómetros de distância, mas nós temos amigos em Beja que nos relatam que cheira mal muitas noites. Portanto o cheiro chega lá, o fumo chega lá. E atenção: nós estamos a falar apenas de uma fábrica. Naquela zona existem quatro fábricas destas. Portanto aqueles fumos todos concentrados não podem fazer bem nenhum a ninguém. E, lá está, como nós também dizemos no documentário, não é preciso ser especialista em questões ambientais para, ao chegar a Fortes, por exemplo, ou ao chegar ao Alvito ou a outra destas fábricas, percebermos que aquilo de facto é muito mau, não só para a saúde, como para a qualidade de vida das pessoas. É horrível. Eu nem quero imaginar-me a viver numa casa onde não posso abrir uma janela, onde não posso sair à rua por causa do cheiro, onde eu não posso dormir descansado, onde eu tenho de tapar a minha chaminé, [porque] não posso ter um buraco por onde o fumo entre...onde eu não posso ir tomar café.

Quer dizer, estamos a falar da coisa mais básica da vida, que é o direito a respirar ar puro, ou pelo menos ar minimamente puro. Para nós isto é absolutamente incrível! Eles tinham isto. Portanto, eles falam, na altura mesmo quando havia a fábrica de tomate, que as pessoas viviam contentes. Havia felicidade em Fortes. As pessoas produziam tomate, tinham água boa. Neste momento não têm e isto não é ficção. Nós vimos isto com os próprios olhos. Os frutos estavam carregados daquela gosma preta. Os portões completamente sujos com aquilo.

S.C. – Nós estivemos lá um bocadinho e o cheiro... a roupa, as nossas máscaras... o cheiro é horrível.

P.R. - Aquilo é absolutamente incrível. Não dá para viver com o mínimo de qualidade de vida que devemos ter. Portanto é incrível, é absolutamente incrível, como é que em pleno século XXI, se pode autorizar uma coisa destas. Nós não conseguimos perceber. Aquilo chocou-nos, e chocou-nos de tal forma que nós estamos a gravar outro documentário. Quando demos com esta problemática era para fazermos um vídeo de cinco a dez minutos, para as redes sociais, para alertarmos para o problema, mas ficámos tão chocados com aquilo e a nossa ligação pessoal com aquelas pessoas foi tão forte, que nós dissemos que tínhamos que fazer uma coisa mais estruturada e tínhamos de ajudar estas pessoas doutra maneira. E assim surgiu o documentário.

G. – Ou seja, nem estava planeado ser feito nestes moldes inicialmente?

P.R. – Não, de todo.

S.C. – O documentário foi decidido a uma quarta-feira e à sexta-feira estávamos em Fortes a filmar.

P.R. - Sim. Foi uma aventura enorme porque nós estávamos (e estamos) com o tempo muito condicionado com este novo documentário que estamos a filmar, e foi incrível porque nós fizemos este documentário em tempo recorde. Foram dois ou três dias de filmagens. Fomos lá filmar, estivemos o dia inteiro a filmar, a entrevistar pessoas e depois editámos em dez dias...

S.C. – Não.

P.R.- Ao todo foram dez dias mas editámos tudo num fim de semana. Juntámo-nos, gravámos a voz, montámos o documentário. Eu brincava com a Sandra e dizia que nós devemos ter batido o recorde do Guiness pela elaboração do documentário. Isto foi super rápido e tinha que ser porque nós também queríamos levar este documentário ao festival CineEco, de Seia. Então, o prazo para envio dos trabalhos estava mesmo a terminar e tínhamos que ser muito rápidos a enviar isto. E assim nasceu o documentário.

Texto de Sofia Craveiro
Fotografias cedidas por Pedro Rego e Sandra Cóias

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