fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Texto de Leitor

Homens em campo? Confusão no final do jogo

A Carta do Leitor de hoje chega-nos pelas mãos de Luís Alves Vicente, que fala-nos sobre a violência no futebol.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Não é preciso um olhar muito atento para nos depararmos com um certo padrão de agressividade nos desportos masculinos, especialmente no futebol. Os ‘bate-bocas’ e as confusões durante um jogo de futebol masculino têm sido tão frequentes que uma criança poderá achar que fazem parte do desporto; contudo, um nível mais recorrente e acentuado de agressividade parece ter vindo a formar-se.  

Sem poder ver todos os jogos de todas as ligas europeias, não será arriscado dizer que esta (nova) conduta altamente agressiva está disseminada e normalizada nas ligas de topo. Na primeira liga portuguesa é evidente. O mais recente episódio aconteceu no Sporting CP x CS Marítimo, mas o fenómeno é tão frequente que este texto arrisca-se a estar desatualizado. E estaria, se escrito no mesmo dia: este domingo registaram-se mais incidentes deploráveis, desta vez no final do FC Porto x Casa Pia AC, com Sérgio Conceição e Luís Gonçalves novamente no centro das atenções. 

O mau comportamento não se regista apenas na liga portuguesa: em Espanha, os jogadores do FC Barcelona apressaram-se para o balneário, interrompendo os festejos do título de campeão, no campo do rival RCD Espanyol, quando adeptos da casa invadiram o relvado para pôr termo - imagina-se a forma - à festa blaugrana. Um pouco mais longe na geografia, o ACF Fiorentina x Udinese, em Itália, também terminou com altercações, tentativas de agressão, expulsões para cada lado e dirigentes no relvado a separar os jogadores – tudo no mesmo fim-de-semana; tudo observável sem pesquisa ou visualização exaustivas.

Voltando a Portugal, além dos jogos supramencionados, também o Boavista FC x Vitória SC e o FC Porto x FC Famalicão, para a Taça de Portugal, são exemplos de jogos com expulsões por comportamento agressivo. Mas mais do que atentar apenas para o drástico, visível, e, aparentemente (ou não) condenável, importa sublinhar a prática corrente de insultos à equipa de arbitragem. Consultando os relatórios de jogo aleatoriamente, são demasiado frequentes os episódios em que jogadores ou elementos da equipa técnica se excedem nas palavras e, por isso, nos comportamentos. 

Poder-se-á argumentar que há, genericamente, demasiadas más decisões por parte dos árbitros, algo que com a ajuda do VAR se torna ainda mais incompreensível. É possível, mas a incompreensão não justifica a agressão. Com a ajuda do VAR, vemos várias más decisões a serem revertidas, mas nunca nenhuma, desde que vejo futebol, foi revertida por os jogadores gritarem, rodearem ou insultarem o árbitro. Na verdade, além de ser pouco inteligente, é contraproducente.  

Observados por milhares de pessoas, os jogadores de futebol assumem papéis de relevo na sociedade. À maestria com a bola nos pés atribui-se uma credibilidade genérica que resulta numa imitação que, involuntariamente, extravasa jogar futebol – copia-se tudo, o melhor e o pior. Desta forma, não é de estranhar que nas camadas mais jovens ou no futebol amador se verifique uma igual (ou superior) frequência de confusão durante os jogos. 

Para reverter a situação, é urgente uma pedagogia consciente e radical de que o comportamento agressivo, isto é, à margem das regras do jogo, não faz parte do mesmo. Aqui entra o papel de narradores e comentadores de futebol, no momento, e, posteriormente, da comunicação social. Lamentavelmente, o que se verifica em direto é complacência e normalização, com expressões como “ânimos exaltados que fazem parte” do futebol; não fazem - deixaram que fizessem.   

Entregues à resignação de que de tão frequente só pode ser normal, as crianças são as principais prejudicadas, desde cedo sujeitas a cenas de violência como parte do desporto. A continuar assim, o futebol arrisca-se a não ser violento apenas para quem joga mas sobretudo para quem vê.

Se quiseres ver um texto teu publicado no nosso site, basta enviares-nos o teu texto, com um máximo de 4000 caracteres incluindo espaços, para o geral@gerador.eu, juntamente com o nome com que o queres assinar. Sabe mais, aqui.
Texto de Luís Alves Vicente

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

3 Outubro 2024

Carta do Leitor: A esquizofrenia do Orçamento

12 Setembro 2024

Carta do Leitor: Por filósofos na sala de aula

29 Agosto 2024

Carta do Leitor: GranTurismo de esplanadas

22 Agosto 2024

Carta do Leitor: Prémios, diversidade e (in)visibilidade cultural

1 Agosto 2024

Carta do Leitor: Sintomas de uma imigração mal prevista

18 Julho 2024

Carta do Leitor: Admitir que não existem minorias a partir de um lugar de (semi)privilégio é uma veleidade e uma hipocrisia

11 Julho 2024

Carta do Leitor: Afinar a curiosidade na apressada multidão

3 Julho 2024

Carta do Leitor: Programação do Esquecimento

23 Maio 2024

Carta do Leitor: O que a Europa faz por mim

16 Maio 2024

Carta do Leitor: Hoje o elefante. Amanhã o rato

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

3 MARÇO 2025

Onde a mina rasga a montanha

Há sete anos, ao mesmo tempo que se tornava Património Agrícola Mundial, pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), o Barroso viu-se no epicentro da corrida europeia pelo lítio, considerado um metal precioso no movimento de descarbonização das sociedades contemporâneas. “Onde a mina rasga a montanha” é uma investigação em 3 partes dedicada à problemática da exploração de lítio em Covas do Barroso.

20 JANEIRO 2025

A letra L da comunidade LGBTQIAP+: os desafios da visibilidade lésbica em Portugal

Para as lésbicas em Portugal, a sua visibilidade é um ato de resistência e de normalização das suas identidades. Contudo, o significado da palavra “lésbica” mudou nos últimos anos e continua a transformar-se.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0