fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Os Sentidos da Música com Rui Souza, dos El Rupe

Os El Rupe são Samuel Coelho, na guitarra, Rui Souza, no sintetizador e Pedro Oliveira…

Texto de Andreia Monteiro

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Os El Rupe são Samuel Coelho, na guitarra, Rui Souza, no sintetizador e Pedro Oliveira na bateria e electrónicas. Em 2017 lançaram ‘Suite 3,14’, o seu segundo trabalho discográfico em que tentaram aliar o mundo tecnológico ao orgânico da natureza. O resultado resumiu-se na junção de dois pólos que, não raras vezes, são vistos como antagónicos mas, como já se viu, podem-se entrosar muito bem. E como quando falamos de natureza falamos também de paisagens, Rui Souza explicou-me que “a questão da paisagem sonora é um ponto a partir do qual trabalhamos”, como não poderia deixar de ser. Preparados para conhecerem os sentidos da música dos El Rupe? Vamos lá!

Para se evocar um sentimento ou uma emoção através da música, o lado racional pode atrapalhar ou, pelo contrário, ajudar?

O lado racional é sempre necessário e, até, indissociável do lado emotivo. Sobre a racionalidade, poderíamos discutir o nível de importância ou a que níveis usamos a razão. Não a usamos de um ponto de vista comercial ou com fins específicos. Usamos a razão nas composições na medida em que a música também é matemática. Mas a emotividade é o que salta em força quando compomos. De outra forma não faria sentido. Se queremos evocar sentimentos ou determinadas mensagens, temos de deixar que a emoção se apodere de nós. A razão ajudará sempre nas doses certas, não podemos deixar que o lado racional das vendas, da comunicação e das rádios interfira nas composições. Aí já está tudo poluído e, para nós, perde todo o valor.

Qual é ou quais são as músicas que fazem o teu corpo mexer?

As músicas que nos fazem mexer dependem sempre do dia, da hora e do contexto total. Não há músicas que nos fazem mexer por mexer ou dançar. Podem fazer ou não, dependendo do momento. Há várias músicas que nos levam de imediato para um qualquer estado e são, sobretudo, aquelas despojadas de segundas intenções, aquelas onde vês o respeito pela arte, onde vês um objeto artístico forte. Podemos falar de Tigran,  do Bill Evans, de José Mário Branco, de Woody Guthrie, de Beatles, de António Variacões ou de Frank Zappa, etc... Tudo viagens diferentes, mas tudo sobre revoltas, sobre tudo e sobre nada. Como Seinfeld que se tornou mundial pelo que é e não pelo que poderia querer ser.

E aquelas que te conduzem a um estado de espírito imediato?

Não sei se o facto da música ter um carácter 'invisível' faz dela mais forte. Mas o ser humano é um ser musical, desde sempre — um ser sonoro. O som, o ritmo, aquela determinada frequência são coisas que fazem parte da vida do ser humano e, como tal, chega até ao dias de hoje mais forte ainda trazida ‘pá’ corrente da memória genética ou informação genética. As ondas e as frequências mexem com o ser humano, é físico também. Não sabemos as razões pelas quais a música tem tanto poder; se pela invisibilidade, se pela fiscalidade ou se pelas frequências. Mas talvez seja por isso. O poder da música está em não se saber porquê. Como o amor.

Já te aconteceu pensares numa imagem, num ambiente específico ou espaços enquanto compões?

Sim, muitas das composições são feitas pensando em espaços e paisagens, etc... Depende do trabalho que estejamos a fazer. No caso de El Rupe, a questão da paisagem sonora é um ponto a partir do qual trabalhamos.

Se pudesses desenhar e pintar a tua música, como seria e que cores teria?

Se pudéssemos desenhar seria uma torre, a maior torre. De um tamanho tal que conseguiríamos ver tudo para todo o lado. Lá em cima estaria um homem. O homem que havia construído a torre. Quando pôs o último tijolo, morreu. E por lá ficou, para sempre, no cimo da torre. No fundo é nunca desistir de nada, nem que seja a última coisa que façamos na vida. As cores podem ser todas. No quadro estariam todas as cores e não teria nenhuma. Cada um via as que quisesse.

Como é que imaginarias o sabor da música mais especial para ti? Doce, amargo, salgado como o mar, agridoce?

O sabor? Talvez um agridoce com um trago forte de amargura.

Pensa no cheiro mais importante para ti, aquele que ficou na tua memória. Que música lhe associarias?

O cheiro a cozinha dos avós, com um certo  cheiro a mofo à mistura. E lembro me logo de Credences ou Deep Purple, mas não sei porquê.

Achas que a música pode ser um bom veículo para fixar e guardar memórias?

Não acho que a música seja boa para fixar memórias. É uma ferramenta para fixar momentos mais ou menos distorcidos e que se vão distorcer ainda mais. Porque a memória é isso, uma distorção constante de alguma coisa. É, muitas das vezes, fazer canções a partir de momentos muito fortes. Não é para fixar um momento e guardá- lo, é, antes, para o deitar cá para fora. Expulsá-lo de ti, para que não voltes a pensar nele. É uma purga. Gostamos mais da música que tenta fixar futuros.

Entrevista por Ana Isabel Fernandes

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

11 Março 2024

Maternidades

28 Fevereiro 2024

Crise climática – votar não chega

25 Fevereiro 2024

Arquivos privados em Portugal: uma realidade negligenciada

21 Fevereiro 2024

Cristina Branco: da música por engomar

31 Janeiro 2024

Cultura e artes em 2024: as questões essenciais

18 Janeiro 2024

Disco Riscado: Caldo de números à moda nacional

17 Janeiro 2024

O resto é silêncio (revisitando Bernardo Sassetti)

10 Janeiro 2024

O country queer de Orville Peck

29 Dezembro 2023

Na terra dos sonhos mora um piano que afina com a voz de Jorge Palma

25 Dezembro 2023

Dos limites do humor

Academia: Programa de pensamento crítico do Gerador

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Oficina Literacia Mediática

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Autor Leitor: um livro escrito com quem lê 

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Oficina Imaginação para entender o Futuro

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Curso Política e Cidadania para a Democracia

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Clube de Leitura Anti-Desinformação 

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

17 novembro 2025

A profissão com nome de liberdade

Durante o século XX, as linhas de água de Portugal contavam com o zelo próximo e permanente dos guarda-rios: figuras de autoridade que percorriam diariamente as margens, mediavam conflitos e garantiam a preservação daquele bem comum. A profissão foi extinta em 1995. Nos últimos anos, na tentativa de fazer face aos desafios cada vez mais urgentes pela preservação dos recursos hídricos, têm ressurgido pelo país novos guarda-rios.

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0